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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

O Paradoxo de Rangel e a Univocidade da Soberania de Vestefália

Miguel Nunes Silva, 16.12.10

 

 

Paulo Rangel é de longe um dos mais interessantes oradores e pensadores do PSD. Quem já ouviu os seus discursos sabe-o e o eurodeputado voltou a demonstrá-lo na última edição da Universidade Europa do PSD.

 

No entanto, do meu ponto de vista, o pensamento de Rangel incorre num paradoxo ao conciliar uma abordagem científica da política com uma forte convicção no federalismo europeísta; os dois não são compatíveis.

 

Quem assistiu à sua aula na Universidade de Verão de 2009 lembrar-se-á decerto de o ouvir contra-argumentar contra os politico-moralistas Marques Mendes e Paula Teixeira da Cruz, ao proclamar contra as ofensivas apologistas da ética na política destes últimos: ‘à ética o que é da ética, à política o que é da política’. Rangel entende a ciência política numa perspectiva científica e nesta tradição impõe-se a máxima de Maquiavel ‘a política não se relaciona com a moral’. Caso contrário, os imperativos morais de cada um – sendo sagrados – entrariam em colisão e arrastariam os actores políticos para debates morais, os quais não são passíveis de compromisso. Isto não é o mesmo que dizer que os políticos devem violar a lei, mas simplesmente que a deontologia que rege a política deve ser tão objectiva e ‘laica’ quanto a lei que emanando do direito, se aplica aos cidadãos.

 

Ora, no passado fim-de-semana no Estoril, Rangel afirmou apaixonadamente a morte do Estado soberano. O conceito de soberania é segundo ele, um conceito do século XVII e desactualizado nos dias (globalizados) de hoje. Por isto, ele contra-põe que o federalismo seria o melhor modo de assegurar os interesses dos estados pequenos como Portugal pois dar-lhes-ia uma ‘constituição’ com pesos e contra-pesos legais que lhes permitiria resistir aos impulsos hegemónicos de ‘directórios’ dirigidos por países como a Alemanha, os quais num contexto insuficientemente integrado são permitidos em conferências bilaterais, decidir os destinos de toda a União. Assim ele justifica a razão político-científica de se incrementar ainda mais a integração Europeia, até ao extremo do federalismo completo.

 

Talvez ele se inspire no Ítalo-nacionalismo do Florentino Maquiavel mas pessoalmente não vejo como pelo mesmo critério se possa argumentar ser Europeu mas não Espanhol. Baseando-nos em critérios ultra-tecnicistas, porque não esquecer 900 anos de esforço pela independência contra os nuestros hermanos e aderir ao Reino ibérico? Não vejo sobretudo como alguém possa querer defender o ‘interesse nacional’ português – expressão eminentemente vestefaliana – sem querer inerentemente defender a soberania e independência do Estado Português.

 

Na verdade, a Paz de Vestefália não foi o remate da soberania, foi sim o seu início: os estados são cada vez mais soberanos e não menos. Nos tempos de D. Afonso Henriques, nem sequer havia um nacionalismo Português (o próprio Rei tinha territórios em Espanha). Vestefália trouxe a soberania à Europa ao estipular que doravante questões normativas seriam foro privado dos Estados. Pois bem, se a experiência da UE – como todos reconhecem – é conseguir sobretudo incrementar o normativo (leis, valores constitucionais) mas falhar no estratégico (política externa coordenada, defesa comum), então é lógico que alguém que defende a abordagem científica da política seja particularmente zeloso da salvaguarda de uma separação entre a política e a moral, e que sobretudo não atribua primazia à moral em detrimento do político/estratégico.

 

Hoje o Estado exerce mais controlo que nunca sobre o seu território e população. Muitos entre os quais o Dr. Rangel até dizem que exerce demasiado controlo. Controlo alfandegário, administração económica, empresas públicas para a gestão da energia, água, etc. O Estado é hoje mais imprescindível que nunca. O nacionalismo é tão gerador de coesão hoje como nunca foi antes. A autoridade executiva não se restringe à colecta de impostos e questões de guerra e paz. Como então justificar que uma organização primariamente normativa se sobreponha à comunidade política nacional? Como fazê-lo invocando que a perda da soberania daria azo a mais influência Portuguesa? Como conciliar tal doutrina com o princípio da subsidiariedade, quando o nacionalismo dos estados e a sua coesão normativa é hoje mais forte que nunca e dispensa complementos ‘continentais’? Por analogia, um regionalista não deveria ser fã de macro-estruturas unitárias...

 

Mais ainda, as federações têm historicamente dois destinos: a centralização ou a desagregação. Mas a soberania de Vestefália permitiu à Europa uma gestão racional dos seus diferendos e favoreceu um equilíbrio de poderes que permitiu a projecção da influência de vários dos seus estados para o mundo.

 

A minha admiração por Paulo Rangel mantém-se mas nesta questão serei um Europeísta mais tradicional e menos revolucionário.

Dizem que é feio, e não é bonito

Guilherme Diaz-Bérrio, 04.09.09

 

Sou fã da Sábado. Sempre gostei mais desta públicação do que da Visão. Também já fui Jornalista um ano (na Revista Carteira), por isso sei que é uma profissão ingrata.

É por isso desnecessário que alguns jornalistas a façam ainda mais ingrata do que ela já é! Ao que me refiro? Ao artigo da Sábado, desta semana, sobre os "retiros" da JS e da JSD - a Universidade de Verão da JSD/PSD e o "Summer Festival" da JS/PS.

 

Dispamos um pouco a camisola, e ignoremos o facto de a diferença entre um "Summer Festival" e uma "Universidade de Verão" é próxima da diferença da noite para o dia. Com as iniciativas da Juventude Socialista, honestamente, posso eu bem. Com o artigo da Sábado, já tenho algumas questões existenciais!

 

O artigo começa com uma citação de um aluno apanhado num momento de descontração. Ou seja, muito próximo do que se chama "off the record". Não se publica sem autorização do próprio. Não é ético! Além de que nem é uma boa tactica de carreira: quem falará ao pé dela da próxima vez, sabendo que ela cita daquela forma, e sem no minimo inquirir se o pode fazer?

Em segundo lugar, eu não faço pretenções de querer ver "jornalismo isento". Isso não existe meus senhores. Todos os jornalistas têm a sua opinião! São humanos, não maquinas! Mas espero ve-los a tentarem ver o "outro lado da questão". Foi por isso que o meu antigo director  da Carteira [David Almas] me ensinou: "Usa sempre no mínimo três citações nos teus artigos, e de preferência que não sejam todas do mesmo ponto de vista". Ver o reverso da medalha, tentar equilibrar o artigo com os vários lados da questão. 

 

A jornalista não o fez. O artigo não mostra a Universidade de Verão. Eu estive lá! E dúvido muito, do outro lado da barricada, que o "Summer Festival" da JS também tenha sido apenas uma cambada de meninos bebados, que não sabem bem o que "socialista" quer dizer a cair para uma piscina. Os dois artigos - são assinados por pessoas diferentes - altamente enviesados.

Não vou falar do Summer Festival da JS, mas da UV2009 falo com toda a tranquilidade: o artigo não mostra o trabalho feito, algumas perguntas pertinentes, 6 dias de conferências, 2 trabalhos de grupo, uma simulação de uma Assembleia - e sim, também bebemos alguns copos nas horas vagas, dado que ninguém ali é uma maquina!

 

Há alunos melhores, e alunos piores! Intervenções melhores e intervenções piores! E eu assisti a grandes perguntas e grandes intervenções. Focar um artigo no pior não é mau jornalismo. É jornalismo sectário, de opinião já formada. Ora, isso não é jornalismo, é uma "coluna de opinião"!

 

Razão tinha o Duarte Marques, que é citado no artigo por "policiar a Sábado", em estar preocupado. O que dali saiu não foi bonito! É pena... era fã da Sábado!

A minha UV!

Guilherme Diaz-Bérrio, 31.08.09

 

 

 

 Antes de entrar a pé juntos com um post de Economia (já lá vamos daqui a bocado), achei por bem começar com "A minha UV!". Não para dar uma homenagem (merecida) ao Carlos Coelho e à equipa (que estão de Parabéns!) mas, para fazer uma especie de revisão do que aprendi.

 

E foi muito. Mas não sobre os temas, alguns bastante interessantes. O que realmente me ficou da UV, as lições que retirei, foi sobre mim próprio. Ser levado ao limite, ao ponto de cansaço tal, que a certa altura se começa a pensar em piloto automático é das melhores formas de uma pessoa se conhecer. Porque é em "piloto automático" que nos revelamos. Por isso, decidi por aqui o que aprendi.

 

Lider stressado gera um grupo stressado: 

Tive o privilégio de ser o coordenador do Grupo Amarelo, um fantástico grupo de pessoas. A determinada altura comecei a acusar o stress. O tempo era pouco, o trabalho muito, os prazos apertados. O stress tornou-se visivel, algo que um lider tem de ter cuidado. Qualquer grupo, esteja ele numa empresa, comissão política ou um grupo de UV, olha instintivamente para o "coordenador". Se quem lidera revela stress ou insegurança, todos, sem excepção, sentem isso e reagem da mesma forma.

 

A primeira coisa que um lider precisa - um Braço Direito:

Esta lição aprendi à minha custa, mas já me tinha sido transmitida por um antigo presidente de Secção, grande amigo e hoje companheiro de Blog (Nélson Faria). Todo o lider precisa de um braço direito. Um grupo raramente se queixa ao lider ou coordenador. É uma posição que "intimida". Qualquer coordenador deve ter alguem da sua confiança que faça o papel de amigo, e que lhe transmita as inseguranças do grupo, senão estará a navegar "à vista" (ou, no caso em mãos, uma fabulosa conselheira de UV).

 

Ritmo e organização:

Parar é morrer. O ritmo deve ser mantido ao mesmo nível. Isto aplica-se, na minha opinião, a qualquer posição. É um pouco como andar de bicicleta - é complicado ficar em cima dela quando se abranda ou se pára. O mesmo com um grupo. E o improviso tem os seus limites. Quanto mais desorganizada a pessoa (o meu caso particular) maior a necessidade de nos auto-disciplinar-mos. 

 

Como tudo, pressão a mais faz mal:

Ou "conhecer os limites de quem se coordena". O ritmo do grupo não é o ritmo do seu lider, ou do seu membro mais activo, mas sim do seu membro mais fraco. Dai a necessidade de ter especial atenção e conhecer o grupo bem. A determinada altura, continuei a manter o ritmo que para mim era perfeitamente aceitavel mas, para alguns membros do grupo, estava a ser exaustivo demais.

 

Espírito de grupo:

Nada melhor que um grupo unido. O team building, os momentos mais descontraidos. Os momentos de partilha e de festa. É aqui que se criam as amizades e se criam os laços que permitem a um grupo funcionar bem. E dou um exemplo: o Grupo Amarelo, no final da UV (simulação da Assembleia) teve um desempenho melhor que no inicio, quando se juntou.

 

Nem sempre o melhor argumento ganha o debate:

O meu "governo" tinha uma boa oposição. Bem preparada. Com excelentes argumentos e bem fundamentada. Pode até dizer-se que, nas suas intervenções, por pouco não demoliu o "governo" na simulação. No entanto, ganhei o debate. Não foi por ter os melhores argumentos (não tinha), mas por falar com convicção. Foi para mim o melhor exemplo de como um mau orador com bons argumentos pode perder para um orador convicto mas sem argumentos. Pode dizer-se que é mau, que não devia ser assim, mas é o que acontece. Ou nos adaptamos, ou nos afastamos.

 

Esta foi a minha UV, o que eu retirei dela. Um momento de limites e exaustão que me levou à introspecção (cliché, mas verdade). Aconselho todos a irem. Mesmo os que acham que já percebem de política ou que já sabem falar em público. É daquelas experiencias que só depois de vivida é que se percebe.

 

Duas últimas palavras. A primeira para o meu grupo. Aturaram um coordenador que leva as coisas muito a sério (por vezes demais), que não é conhecido por ter bom feitio a trabalhar e que por vezes exige demais. Cumpriram na integra, e souberam mostrar-lhe que brincadeira também faz bem. Não é preciso "engolir um garfo" para se estar em Política!

A segunda à minha excelente conselheira, a Elisabete Oliveira (ou, como eu lhe chamava, a "chefa"). Percebeu que, em certas alturas, senti-me "peixe fora de água" e que acusei um pouco o stress a meio da UV. Guiou-me, apoiou-me, ensinou-me. Um muito obrigado!

 

E aqui termina a "seca" da descrição, e até ao próximo post, um pouco mais... controverso!