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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

O Eurocepticismo do PS Marinho-pintista

Miguel Nunes Silva, 22.11.14

Quando em 74 o novo regime chegou ao poder, uma das políticas imediatamente encetadas foi a da descolonização. Aos Portugueses foi-lhes assegurado que Portugal, em versão pequena, podia ainda ser bem sucedido economicamente: através da cópia do modelo escandinavo em Portugal e através da adesão às Comunidades Europeias - assim acedendo a um mercado maior.

Pois bem, de acordo com a nova moção de António Costa ao Congresso do PS, a estagnação da economia nacional deve-se a 3 factores:

 

“(...)a integração da China no comércio internacional; o alargamento da União Europeia a Leste e a criação da moeda única”.

 

 

Ora, isto é gravemente problemático a vários níveis:


- Primeiro porque se algum partido ficou conotado com a descolonização e com a adesão à CEE, esse partido foi o PS. Mas se a moeda única foi nociva a Portugal, aonde fez o PS campanha contra tal medida?
E não estava o PS no governo quando o alargamento a leste foi decidido? O governo porventura deu alguma instrução aos diplomatas Portugueses em Bruxelas para resistirem ou adiarem tal alargamento? E se a justificação é que as decisões agora se fazem por maioria qualificada no Conselho Europeu, aonde se fizeram ouvir as objecções do PS ao fim das decisões por unanimidade?...

Sim, o PSD terá calado, consentido e sido tão seguidista quanto o PS, mas ao contrário do PS o PSD não se atreve a ser incoerente ao ponto de admitir tais erros - sem se desculpar - nos seus congressos... Já para nem falar da conotação federalista que figuras como Mário Soares têm tido.

 

- Segundo porque lá se trai a noção de que Portugal não depende de salários baixos para ser competitivo. A China e a Europa de leste não competem com Portugal na qualidade...

 

- Finalmente, porque a recorrente "alternativa" invocada pelo PS, a contrapor à austeridade, é a 'solução Europa'. Não se preocupem em reduzir a dívida, não se apoquentem com a sustentabilidade do sector social do estado. De onde virá o dinheiro para sustentar o que patentemente não é sustentável? Ora, da Europa, claro está... Daí a posição pro-federalista do PS, o apoio à emissão de títulos do tesouro colectivos por parte da UE (BCE), etc. Porque isso colectivizaria os problemas individuais de países como Portugal ou a Grécia. Que se dane a independência da nação. Que se dane a fraude que é prometer o dinheiro dos outros...

 

Mas esta moção de Costa não é senão um eco daquilo que se tem vindo a ouvir, desde há uns tempos, dos lados do Largo do Rato. As piadas sobre Merkel, a indignação perante a austeridade, a ameaça de romper o acordo com a Troika...
De súbito, é como se o PS já não fosse Europeísta. Nos dias que correm aliás, o PSD e PP até parecem carregar a cruz com mais orgulho do que o PS.

A verdade é que por mais que o PS esteja a ser confrontado com políticas do passado altamente ineficazes, o PS não deixou de ser Europeísta; aquilo que se revela é a incoerência de um partido que tem que fazer oposição com as costas quentes e que acaba por cair no populismo de taberna.

Politicamente Correcto - doença (crónica) Portuguesa

Miguel Nunes Silva, 10.02.14

Em Portugal é proibido questionar convenções. Quem o faz é imediatamente ostracizado. Se algo ameaça a postura convencional, então é porque é extremista, ou marginal, ou pior.

 

Exemplo: em país católico/socialista (frequentemente os dois vão de mão dada) quem põe em causa que o Estado deve sustentar todos os cidadãos e distribuir benesses até mais não, é alguém que é extremista/neoliberal/insensível. Que nunca ocorra a nenhuma cabecinha que quem vem a público dizer que não há dinheiro para tudo, esteja apenas a constatar a realidade e a chamar governantes e sociedade, à responsabilidade; quais insensíveis, violadores dos valores de Abril, ladrões que de conluio com o 'grande capital' põem o país a saque...

 

Daí que pessoalmente, eu ache vergonhosamente cobarde, que a extrema-esquerda use todos os insultos e mais alguns para atacar a direita no que toca a políticas económicas. Nunca poderia a direita sequer sonhar em chamar as barbaridades à esquerda, de que é chamada por esta. Mas como as Anas Drago e Jerónimos de Sousa estão perfeitamente cientes de que o politicamente correcto e a convenção estão do seu lado - o lado do povo, estão a ver? - nem sequer hesitam em chamar a governantes legítimos 'ladrões', ou de tentar insinuar corrupção e fraude - nunca pagando, claro está, quando se prova estarem errados.

 

Assim, não é de surpreender que - talvez em Portugal mais do que em qualquer outro país - os génios sejam todos póstumos. É biografia recorrente aquela que acaba por concluir que, em vida, a excelsa pessoa nunca foi compreendida ou admirada. Foi preciso morrer na miséria e na amargura para postumamente lhe reconhecerem o devido valor.

 

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Faço esta introdução antes de me lançar no tema: o resultado do recente referendo na Suíça, que foi discutido hoje, no programa 'Opinião Pública' da SIC Notícias.
Eu compreendo quem queira defender a União Europeia e eu próprio não me considero propriamente eurocéptico mas não me conformo com a falta de pensamento crítico ou tolerância de quem o faz. Como já tive oportunidade de escrever, em Portugal o europeísmo é cânone, é dogma, não é juízo lúcido.

A coisa começa logo enviesada: no próprio site da SIC Notícias, a abordagem ao assunto é o ABC de como não fazer jornalismo (eu não me licenciei em Jornalismo mas estudei Sociologia da Informação. Os jornalistas da SICN também?...).

Supostamente o programa tem como objectivo debater temáticas. Para tal tem que dar espaço a opiniões divergentes. Mas veja-se a própria sinopse: 

 

"Queremos saber o que pensa do restabelecimento de quotas para os cidadãos europeus que queiram imigrar para a confederação helvética? "

 

Até aqui tudo bem - salvo a confusão entre afirmação e interrogação - pois estão apenas a solicitar pontos de vista de forma neutral.

 

"Que razões terão levado 50,3 % dos suíços a votarem sim, numa altura em que o desemprego é de apenas de 3,2%

e os empresários dizem que o atual sistema de angariação de mão-de-obra estrangeira beneficia a economia? 
E que reação deverá ter agora a União Europeia,

uma vez que os resultados do referendo vêm pôr em causa os acordos de livre circulação de pessoas e de participação no mercado interno?"

 

Pois é, que tolinhos estes Suíços :D que curioso que tenham sido tão palerminhas...
Ou seja, a coisa descamba completamente. A enunciação é tão claramente parcial que chega a estar perto da desinformação. Um enunciado neutral seria algo que questionasse a decisão dos Suíços e depois desse um argumento a favor da decisão e outro contra. Do género: tendo em conta X esta foi uma boa decisão mas considerando Y não será contra-producente a prazo?

Isto é aliás aquilo que é normalmente feito para espicaçar o debate e pôr as pessoas a falar. Mas não. Aquilo que aqui é feito é 'guiar' o telespectador/internauta: em primeiro lugar solicita-se a opinião mas seguidamente bombardeia-se o leitor com 3 argumentos sucedâneos que fazem a decisão dos Suíços parecer absurda.

 

Pois bem, quem está a ver tem depois o prazer de assistir ao comentário do convidado Miguel Gaspar, Director-Adjunto do Público. Surpresa das surpresas, Miguel Gaspar - como bom intelectual tuga - está ele próprio surpreendido com o resultado!... - ó porque será? - Gaspar interroga-se porque terão os Suíços votado em lei tão irracional e apenas consegue concluir que foi um voto 'emocional'.

 

Estes paladinos da democracia são fabulosos: quando o voto é a seu favor 'o povo é quem mais ordena', quando é contra 'ai coitadinhos, foram iludidos'...

Mas esta cobertura não é exclusiva dos media Portugueses. A Universidade Britânica LSE, conhecida pelas suas simpatias esquerdistas e ultra-europeístas, fazia o mesmo argumento hoje de manhã: se votaram mal, não é porque os Suíços sejam de extrema-direita (já tinham assim classificado o referendo de antemão, de maneira que agora convinha distinguir o partido dos votantes, para não parecer mal) mas sim porque o SVP é muito esperto e é muito bom no marketing........

Mas a cereja no bolo foi quando os telespectadores começaram a telefonar e - ironia das ironias - alguns deles emigrantes Portugueses na Suiça, rapidamente acusam o comentador (Miguel Gaspar) se não fazer ideia do que fala pois a crescente criminalidade e as condições difíceis de empregabilidade amplamente justificam, na opinião deles, a imposição de quotas de imigração.
Ou seja, depois de semanas de cobertura que apelidava a iniciativa de extremista, populista, eurocéptica, com pressão da parte de Bruxelas para que o 'Sim' perdesse, e ainda fazendo passar a imagem de iniciativa danosa para os interesses dos Portugueses que queriam emigrar, vêm depois os Portugueses já na Suíça dar uma visão de perfeita razoabilidade e ainda por cima quebrar a ilusão de que a comunidade Portuguesa é uniforme.

 

Sim, a Suiça não vai ter tantos trabalhadores disponíveis mas agora que quotas são impostas, a via fica aberta para seleccionar aqueles que realmente têm boas hipóteses de ser empregues.

Sim, a iniciativa põe em causa acordos com a UE mas a UE não é a suprema autoridade daquilo que é moral e razoável na Europa. Uma vez que a UE também não ouviu os Suíços quando decidiu abranger a Roménia e a Bulgária com o espaço Schengen, porque não seria aceitável que os Suíços quisessem rever os acordos com a UE - mesmo que seja apenas para negociar meia-dúzia de cláusulas? Será que é eurocéptico discordar da UE ou ter interesses divergentes?

Porque não é concebível para os paladinos do multiculturalismo, que os motins e a violência urbana em Paris, Bruxelas, Roterdão, Londres, Malmo, etc são consequências directas de políticas de acolhimento que se provou deixarem muito a desejar em eficácia?

E sobretudo, porque não é concebível para os jornalistas Portugueses, algo tão simples como a possibilidade de os Suíços estarem a aprender com os maus exemplos de estados-membro da UE?

Não exijo que a cobertura seja favorável ou desfavorável, exijo sim que a cobertura seja imparcial e informada. Mas suponho que é exigir demais de um país que preguiçosamente confia no convencional para a rotina informativa.

Onde está o Wally?

Elsa Picão, 26.10.11

 

 

 

As fundações da União Europeia assentam sobre ideias e valores. Estes valores reconhecidos como fundamentais, e ultimamente um pouco esquecidos, incluem a garantia de paz duradoura, unidade, igualdade, liberdade, segurança e solidariedade.

A solidariedade entre Estados Membros presente em todo o processo de integração europeia pressupõe, penso eu, a partilha das vantagens da pertença ao espaço comum, como a prosperidade, mas também a partilha dos encargos entre os Membros. Esta manhã, mais uma vez, ao ler as noticias sobre a possível falta de acordo e o impasse à volta da Cimeira, voltei a perguntar-me onde está? Onde está a solidariedade como valor fundamental do processo de construção e integração europeia? 

"A questão Alemã"

Guilherme Diaz-Bérrio, 15.07.11

 

 

Muito se tem dito sobre a obrigação moral da Alemanha pagar a crise, e respectivos bailouts, sem protestar. Recentemente, decidiu juntar-se mais um argumento: a Alemanha benificiou com o Euro, foram os juros baixos que pagaram a reunificação, esses mesmos juros que colocaram os paises periféricos na falência, logo eles devem pagar a crise. In a nutshell, a culpa dos nossos males é deles, e da reunificação deles.

 

A minha primeira reacção, instintiva, quando leio este tipo de argumentos oscila entre clamar "barbaridade" e mandar as pessoas que professam tais barbaridades ler um livro ou dois de história. A segunda reacção é a que se segue: se as pessoas não vão aos livros de História, e se ficam por demagogia germanofóbica, venho eu trazer o livro às pessoas.

 

Antes de mais, temos de enderessar duas questões. A primeira é da que, todos lucraram com o Euro. Sem excepção. Se se pode dizer que o Euro potenciou exportações alemãs para o resto da Europa, também é verdade que o resto da Europa, em especial o Club Med (Portugal, Espanha, Grécia, neste caso) ganharam um enorme almoço gratis. Com o Euro deixaram de se financiar a 15 por ano ano, para se financiarem a uma confortavel taxa "germanica" de 3 a 4 por cento. E isto apenas foi possível porque, quando o euro foi criado, todos os financiadores julgaram que haveria uma garantia implicita alemã. Se estes meninos não pagassem a conta, a Mãe Germanica pagaria. Isto para dizer que o argumento, "eles têm de salvar o Euro porque foram os mais benificiados com ele" está gasto e errado. Eles já exportavam. Quem ganhou um Boom (que foi gerido de forma desastrosa por estes países) foi o Club Med.

 

A segunda questão a enderessar é a de que a Alemanha é, sempre foi, e continuará a ser no horizonte previsivel, o maior contribuinte liquido para a UE. Já aqui escrevi sobre isso: nos últimos 60 anos, fruto da "divída moral" por causa de Segunda Guerra Mundial, os Alemães não só pagaram a União como raramente protestaram (ao contrário dos segundos contribuintes liquidos, o Reino Unido, que tanto protestou que ganhou o "Cheque Inglês", durante o tempo da Senhora Tatcher, ou a França que é o maior recepiente liquido da Politica Agricola Comum). 

 

Agora o argumento que considero profundamente errado (retirado da caixa de comentários do Psico): 

saiu-lhes do pêlo? claro que sim. às custas da manutenção artificial de uma taxa de juro baixa que foi a desgraça para os pigs como se viu. para beneficiar um sofreram outros com o seu mau comportamento.

 

(...)

 

Mas lembro-me que a Alemanha queria impor, e bem, instituições sólidas europeias mas as suas estavam a falhar e teve que sobreviver financiando o leste com dívida pública a taxas mais baixas neste momento em que já não captava investimento.

 

(...)

 

Ora mesmo em cima do acontecimento a Alemanha através da célebre ditadura do marco, manteve taxas altas que de facto atraiam capital muito necessário para a dura reunificação.

 

Vamos lá aqui esclarecer uma coisa: a reunificação alemã custou, liquido, 1.3 mil milhões de euros ao Estado Alemão. Não estou a falar de "capital", ou "investimento", ou de "taxas de juro". Estou a falar aos cofres do Estado Alemão, ao contribuinte alemão, seja sob a forma de impostos, contribuições para a segurança social ou dívida pública. Estamos a falar de 40 por cento da sua economia, num esforço que durou de 1990 a 2005. 

 

Inicialmente o plano era financiar tudo com Dívida Pública Alemã, mas em 1992 o Bundensbank (o Banco Central Alemão, e o mais ortodoxo e duro do mundo desenvolvido) começou a protestar. É preciso ter em conta o contexto: Weimar deixou uma Memória Institucional muito dura nas autoridades monetárias alemãs. Eles são "inflacionófobicos". O Bundensbank fez duas exigências, que o Governo Federal seguiu: financiar a reunificação com impostos, e que ia aumentar as taxas de juro para conter a inflação. Apenas metade do valor exigido pela renificação veio pela emissão de dívida pública. O remanescente veio de uma politica orçamental extremamente austera: aumentos de impostos, redução da idade da reforma, aumento das contribuições, redução da despesa. O povo alemão mordeu a bala fiscal para se reunificar.

 

O papel do Marco Alemão não é o que se pinta. O Marco Alemão não era forma de financiamento. O Marco Alemão era a moeda mais estavel e menos inflacionária da OCDE. Facto do qual não só o Bundensbank se orgulhava, como se recusava a abdicar um milimetro que fosse. Quando foi criado, em 1979, o European Rate Mechanism (ERM), ele foi criado com um objectivo: preparar uma potêncial moeda única, reduzir a inflação e aumentar a estabilidade de alguns países (estamos em pleno choque petrolifero). O ERM foi na pratica ligar as moedas ao Marco, não para financiar a reunificação (estão a reparar nas datas?), mas sim porque o Marco era a moeda mais estavel e com a taxa de inflação mais baixa. 

 

A Alemanha não sobe as taxas de juro para atrair Capital (eles são ricos em Capital e tinha divisas e já na altura um excedente da Balança Comercial), mas sim para colocar um travão à inflação fruto da reunificação. (O Reino Unido sofre, no processo, porque em vez de reavaliar a moeda, no ERM, decide insistir na paridade, em 1992, até que quebrou sob o ataque de Soros. Um erro comum do Reino Unido: moedas fortes de mais.)

 

Não só isso, como, o Marco é sacrificado para garantir a reunificação. Para os mais desmemoreados, França e o Reino Únido são contra a reunificação. É segredo aberto que Miterrand tenta bloquear, e pede a Gorbatchev que a vete. Kohl só garante o apoio quando se compremete a uma União Monetária, sacrificando o DM.

 

Argumentar que foi depois o Euro, e a política de baixos juros do BCE, que ajudou a Alemanha é não ter em atenção o ciclo de taxas de juro. As taxas, há entrada do Euro, eram de 2%. E de 1999 a 2001 elas estão a subir. É apenas em 2001 que elas descem. Não para ajudar a Alemanha mas sim porque dois aviões bateram em duas torres e o mundo entrou em panico, aka, o 11 de Setembro. Depois, de 2003 a 2008, o BCE está, constantemente a subir taxas, de 1% para 3.25%. Se isto é uma política de descer os juros para ajudar a Alemanha, peço desculpa a expressão, mas eu "vou ali e já venho". 

 

O problema do Euro foi que não se contava com um pequeno pormenor: que os países do Sul actuassem como crianças. Quem se lembra do na altura governador do Banco de Portugal - Vitor Constancio - a dizer que "a dívida não era problema, Portugal era agora comparavel à Florida, endividem-se à vontade" (citação livre)? Aqui reside a responsabilidade, não na mitica (e não existente) política de juros baixos para financiar a reunificação alemã.

 

E aqui reside o problema intelectual dos alemães. Para eles o problema não é pagar ou ajudar. A última sondagem do Der Spiegel mostra mesmo isso. O problema deles, que lhes causa alguma perplexidade, é por um lado estarem a ver que estão a atirar dinheiro para um buraco negro, e em segundo lugar verem que os povos do Sul não estão dispostos a sacrificios para sairem da crise, e preferem culpar a Alemanha. Um povo que passou 15 anos a comer balas de impostos, moderação salarial, trabalhar mais, menos segurança social e de recessões sucessivas para se reunificar não entende esta postura.

 

Eu confesso que também não entendo, e partilho do pensamento Alemão.

 

Não é legitimo, politica ou financeiramente, continuar a lançar argumentos como este e outros (apelando à memória da Segunda Guerra Mundial) para forçar os Alemães a pagar. Não há discussão produtiva, ou negociação, que vá a bom porto assim.  

A Subsidiariedade à Alemã

Miguel Nunes Silva, 30.12.10

 

 

Os herbanários estão agora sob o olho da UE.

A União Europeia passou legislação ultra-regulatória que põe em perigo produtos homeopáticos, medicina tradicional chinesa e uma grande parte da economia rural de muitos países da UE.

A legislação não deriva de qualquer problema de saúde que tenha sido comprovado mas sim de puro excesso de zelo legislativo.

 

Eurodeputados Portugueses como Maria Graça Carvalho, Ilda Figueiredo ou António Fernando Correia De Campos fizeram questão de introduzir alterações mas esta legislação é ainda assim, mais um típico caso de desnecessária regulamentação que apenas resultará num crescimento da economia paralela por toda a Europa numa altura em que o controlo fiscal é mais necessário que nunca.

 

É uma medida que faria sentido em muitos estados do norte da Europa aonde estes produtos não têm grande tradição mas que não leva em conta a realidade sobretudo da Europa meridional.

 

Há já uma petição contra (http://www.causes.com/causes/529778) e um grupo de eurodeputados está já organizado para se opor a esta legislação.

Portugal e a Europa ou a Europa e Portugal?...

Miguel Nunes Silva, 14.11.10

Hoje, o eurodeputado Britânico Daniel Hannan escreve no seu blogue sobre a Irlanda.

 

Ele tira duas importantíssimas conclusões:

 

 

1 - A predominante opinião de que a Irlanda deve o seu milagre económico à UE está errada. A Irlanda desenvolveu-se sobretudo devido aos seus laços com o RU e os EUA e ao facto de falar inglês, o que ajudou imenso ao inserir a Irlanda como uma plataforma de sector terciário conectada aos seus companheiros anglófonos dos dois lados do Atlântico; isto tanto mais enfatizado pelo facto de que a maior parte dos fundos comunitários para a Irlanda vinha da PAC e era destinado à agricultura - sector em declínio e hoje marginal, também naquela república marítima periférica.

 

2 - A segunda conclusão que Hannan retira é que a Irlanda sai penalizada por pertencer à zona €uro. A Irlanda desenvolve a maior parte do seu comércio com países que não utilizam esta moeda e o custo de manter uma moeda que não pode ser desvalorizada é ver os fluxos comerciais afluírem ao semi-fraterno mas pobre enclave monárquico da ilha bem como à Grã-Bretanha.

 

Estruturalmente, a Irlanda difere substancialmente da Europa e vale a pena reflectir sobre qual seria hoje a orientação de voto dos Irlandeses num referendo...

 

Que lições tem Portugal a tirar? Nós estamos muito mais ligados à UE é claro e o nosso sector financeiro até conseguiu resistir à crise. No entanto, eu lembro que os mercados aonde as nossas empresas se refugiaram da crise foram o Angolano e o Brasileiro. É Timor que nos poderá comprar títulos da dívida, e a maioria dos votos que nos elegeram para o Conselho de Segurança da ONU vieram do terceiro mundo e não da Europa - aonde o nosso principal parceiro comercial Alemanha, não teve grandes pruridos em açambarcar os votos do bloco ocidental às nossas custas.

Em relação ao aspecto estrutural, Portugal é a quintessência do problema que levou à criação dos fundos de coesão. Se a Irlanda anda a contra ciclo, que dizer de nós?...

Soares, o Federalista

Miguel Nunes Silva, 28.06.10

Mário Soares, não tendo já um papel nacional a desempenhar se não o de fundador poeirento do PS, tem tentado nos últimos anos afirmar-se como a voz do federalismo europeu, em Portugal e na Europa.

 

Na homenagem que lhe foi feita em Arcos de Valdevez, Soares fez-se acompanhar dos espanhóis Frederico Mayor Zagaroza e Raul Morodo para proclamar que a Europa se encontra 'sem rumo'.

 

 

A 'visão' de Soares indica-lhe que é necessário haver 'políticas convergentes' entre Portugal e Espanha e que 'a Europa ou é federalista ou não é Europa'.

O ex-Presidente acrescenta ainda que a menos que a Europa se federalize totalmente '(...)vamos ser o extremo ocidental da Ásia, uma região pobre e sem influência'.

 

Mas como sempre, há algo de profundamente errado com a visão de Soares:

 

- A Europa só foi federalista no século XX e conseguiu sobreviver vários milénios sem união política. MAIS: todas as tentativas de união, directas ou indirectas foram sempre tentadas a favor de uma potência Europeia em especial e geralmente em detrimento das demais.

 

- Se a Europa tem sido federalista e está agora sem rumo, mais federalismo vai resolver o problema como?...

E que dizer da estrondosa vitória de partidos xenófobos e ultra-nacionalistas como clara oposição à mensagem federalista de centro-esquerda?

Só me ocorre prenunciar que se continuarmos a federalizar a Europa, o faremos até a extrema-direita dominar os governos da Europa e fizer um 'opting-out' total e final ...

 

- Soares e a sua tese da marginalização da Europa têm razão de ser. A Ásia, pela sua dimensão e localização, será o próximo centro do comércio mundial, substituindo o Atlântico.

Mas os ventos da história - que neste caso são soprados pela evolução tecnológica - não vão mudar, quer a Europa se federalize, quer não.

 

Outra coisa: repararam na contradição implícita? Se a Europa, enquanto extremo ocidental da Ásia, se vai tornar pobre e sem influência, que dizer então de Portugal se transportarmos esta analogia para o continente Europeu?

Não é justo dizer que Portugal é uma periferia ocidental pobre e sem influência na Europa?

Então e posto isto, vamos federalizar a Europa?! o que significaria uma devolução ainda maior de soberania a Bruxelas?!...

 

Uma outra contradição é o sentido de emergência e ansiedade que a ascenção das potências asiáticas provoca nos europeístas.

O problema é que as potências asiáticas não baseiam o seu poder em estruturas federais ou confederais, apesar de cooperarem em vários fóruns e organizações de cooperação política, comercial, etc.

Ora, se é na Ásia que se encontra o dinamismo geopolítico e este não faz uso de pseudo-federalizações pós-modernas, a Europa deve tentar unificar-se e tentar construir o que nenhuma potência - por alguma razão - não conseguiu até hoje porque ...

 

Finalizo sem sequer ousar ameaçar o tabu que existe na sociedade Portuguesa em relação a Espanha mas no qual peço que reflictam.

O que é que a UE fez por ti este ano?

Elsa Picão, 07.06.10
 
 
 
 
A União Europeia não é algo indefinido lá longe em Bruxelas!
 
Diariamente, a Comissão, Parlamento e Conselho trabalham com o objectivo de tornar a UE num espaço mais própero, solidário e próximo dos seus cidadãos.
 
No link (http://ec.europa.eu/snapshot/index_pt.htm) que vos proponho encontrarão uma visão rápida de dez medidas em que ao longo do último ano a UE fez a diferença nas nossas vidas.

Euro: Sangue frio e Credibilidade

Guilherme Diaz-Bérrio, 25.09.09

 No dia 9 de Agosto de 2007, os mercados pararam. Lembro-me desse dia especialmente bem pois, além de ser o meu aniversário, foi o dia em que recebi de "prenda de anos" ir trabalhar para um Hedge Fund. 

 

Imaginem o meu começo: primeiro dia no trabalho e aniversário, e quando entro, os mercados estão em "Arritmia cardíaca"! Ninguém sabia o que se estava a passar!

 

O mercado interbancário de Londres e Frankfurt estava parado. Nenhum banco emprestava dinheiro a outro banco na zona euro. Como consequência, a Euribor estava a caminho da Lua! Normalmente este é o dia que se associa com o "começo oficial" da actual crise, o dia em que os problemas se tornaram demasiado evidentes.

 

Foi também o dia em que um homem liderou um Banco Central de uma forma eximia. O mercado parado, todos os bancos em pânico, os investidores a pensar "Os EUA ainda estão fechados, a Reserva Federal o que fará?", e o Banco Central Europeu decide tomar a iniciativa e não esperar! Em poucas horas apagaram o fogo e acalmaram os mercados. Pela primeira vez, a Reserva Federal seguiria outro Banco Central nas suas medidas. Enquanto Bernanke e a Fed estava a garantir ao Congresso que o "problema estava contido", Trichet e o BCE estavam com calma, a fazer a ponte entre bancos, para garantir o bom funcionamento do mercado, sem descer as taxas de juro a zero.

 

Nunca houve uma diferença tão clara de respostas dos dois lados do Atlântico em relação à resposta a uma crise. Nunca o Banco Central Europeu sofreu tantas pressões para seguir a Reserva Federal. Mas Trichet revelou-se o único banqueiro central a manter o sangue frio no meio da crise. Enquanto a Reserva Federal ligava as impressoras, o BCE mantinha um equilibrio delicado entre o seu mandato contra a inflação e a estabilidade do sistema financeiro.

 

Muito se passou: falou-se do fim do Euro, da saída de países, de como Trichet ia "implodir com a Europa" com a sua "teimosia", de como deviamos seguir os americanos na sua política, de que era preciso as famosas "Eurobonds"!

 

Dois anos depois, ainda não saimos da crise. Mas as diferenças de sustentabilidade e credibilidade dos dois lados do Atlântico começam a ser claras. O Japão e a China hoje falam em passar parte das reservas de Dólares para Euros, os bancos europeus estão de muito melhor saúde que os americanos (honrosa excepção para os Espanhois, o "buraco negro" financeiro da Europa!) e a contracção de crédito parou na Zona Euro, segundo os últimos dados.

 

Já vi, nos meus dias de fundo de investimento, quando Trichet e Bernanke falam no mesmo dia, os "mercados" seguem o primeiro e ignoram o segundo. Hoje, já não se fala de fim do euro. O Euro sobreviveu à sua maior crise, e a uma das maiores crises financeiras das últimas décadas. Agradeçam, em primeiro lugar, ao BCE e ao seu "irritante" Governador, Jean Claude Trichet!

Retoma...? Ainda não!

Guilherme Diaz-Bérrio, 15.09.09

 

 

A imagem acima tem andado a fazer as rondas. Imaginem a tonelagem das marinhas dos EUA e do Reino Unido combinadas, e têm uma amostra do que se passa ao largo de Singapura: a maior "concentração maritima" de embarcações comerciais da história recente. 

 

A razão? Nada para transportar! Este é o estado actual do Comercio Internacional, ao largo do maior porto do mundo. A proverbial "aterragem no chão" do dito comercio! Enquanto isso, pelos EUA e pela UE... fala-se em "retoma"?