Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

Horizontes Reformistas

Miguel Nunes Silva, 31.05.11

  

Com o dealbar da década de 90, a exaustão normativa resultante da fricção da Guerra Fria e o triunfo dos regimes centristas no conflito bipolar, levou à emergência de alternativas híbridas nos espectros políticos da maioria dos regimes democráticos.

Nos espectros mais à esquerda – sobretudo na Europa – a “terceira via” providenciou fôlego para mais uma década de governação esquerdista e nos espectros mais à direita – América – o neoconservadorismo logrou oferecer um modelo tradicionalista que combinado com caracsterísticas estatizantes de esquerda, manteve intacta a evolução açambarcadora do aparelho Estado.

 

Assim, no rescaldo da crise financeira internacional uma das ideologias que sobreviveu foi a do Libertarismo – também apelidada erroneamente de neoliberalismo. Os conservadores mais puros foram forçados a recorrer a uma corrente ideológica alternativa tanto ao conservadorismo tradicional como ao neoconservadorismo.

 

Com o vazio ideológico que a terceira via deixou à esquerda e com a inspiração libertária a ganhar força por outras paragens, há quem agora defenda soluções libertárias para Portugal. Isto no entanto, não toma em conta as particularidades culturais e geográficas do nosso país.

  

A minarquia ou presença mínima do Estado na sociedade, só é justificada em sociedades aonde a sociedade civil é forte o suficiente para se reger sem auxílio central. Este não é o caso de Portugal. Portugal é um país relativamente periférico e pobre.

Em Portugal, o fraco sentido de responsabilidade individual exige instituições que se ocupem de incutir no indivíduo, deveres e obrigações.

 

 

Um outro problema com uma teórica implementação de políticas libertárias em Portugal seria o domínio político da classe média e 

  

classe média baixa. Nas sociedades formais e racionais do norte, o sentido de civismo garante que os recursos do aparelho estado são alocados consensualmente aos segmentos da população que mais deles necessitam.

 

Em Portugal, apesar da ética católica não ser dada ao informalismo caótico extremo de sociedades tropicais, ela é ainda assim pouco responsabilizadora do indivíduo, e como tal o fenómeno do assalto ao aparelho estado enquanto unidade distribuidora de rendas revela a tendência mediterrânica para a tirania da maioria.

Por outras palavras, o Estado em Portugal só dificilmente poderia contrair-se de modo a limitar-se a programas sociais para os mais necessitados, porque a classe média e média baixa colonizou o aparelho Estado e canaliza a sua redistribuição central de recursos para si mesma.

E a melhor prova disto mesmo foram os governos José Sócrates.

Social Democracia... à portuguesa?

Guilherme Diaz-Bérrio, 09.09.09

 

 

Quem é capaz de contestar o seguinte, como principios defendidos por todos os militantes do PPD/PSD: 

 

O homem é explorado quando se sente asfixiado pelo aparelho burocrático do Estado;

O homem é oprimido quando, por qualquer modo, lhe é vedada a liberdade interior, ou a abertura ao transcendente espiritual;

O homem é oprimido quando a sua vida privada não decorre com a necessária intimidade;

O homem é explorado, a qualquer nível, quando é sujeito ao exercício tirânico da autoridade ou a imposições abusivas de minorias activistas;

O homem é explorado quando a sua consciência de pessoa é abafada pelas massas ou é objecto de manipulações da sociedade de consumo.

Contra todas as formas de exploração e de opressão, urge lutar, mobilizando as múltiplas conquistas do progresso, com vista a uma nova ética da vida em colectividade.

 Os mais rápidos dirão que isto é o programa do PSD. Desenganem-se… Os mais atentos identificaram de onde vem a citação acima: são os principios da Democracia Cristã europeia, a base fundadora dos partidos de Direita Liberal na Europa e representada na Europa pelo Partido Popular Europeu, formação onde nos inserimos.

Então e se eu citar o seguinte conjunto de principios:

“De nada vale o capital sem o trabalho, nem o trabalho sem o capital”  (...) ”é inteiramente falso atribuir ou só ao capital ou só ao trabalho o produto do concurso de ambos; e é deveras injusto que um deles, negando a eficácia do outro, se arrogue a si todos os frutos.” 

"A liberdade econômica é apenas um elemento da liberdade humana. Quando aquela se torna autônoma, isto é, quando o homem é visto mais como um produtor ou um consumidor de bens do que como um sujeito que produz e consome para viver, então ela perde a sua necessária relação com a pessoa humana e acaba por a alienar e oprimir."

O Estado deve, porém, abster-se de uma intervenção abusiva que possa condicionar indevidamente a ação das forças empresariais. A intervenção pública quando necessária deve ater-se aos critérios de equidade, racionalidade, e eficiência e não deve suprimir a liberdade de iniciativa dos indivíduos.

"Ah sim! Isso é a 'social democracia', Guilherme!". Nop, também não. No caso em mãos, são citações da Doutrina Social da Igreja [Católica]. Encaixam bem no PSD não encaixam? Pois... esse é exactamente o meu ponto: de "Social Democratas", no sentido europeu do termo [cisão na Segunda Internacional Socialista, actualmente representado pelo Partido Socialista Europeu onde nós não estamos!] temos muito pouco. Somos mais parecidos com um Partido de inspirações em correntes como a Democracia Cristã, Liberais e Conservadores. Uma versão portuguesa da CDU/CSU alemã ou do PP espanhol.

O problema? O nosso "trauma da Direita" que dá origem a esta aberração:

Um Partido Socialista que na realidade é Social Democrata, um Partido Social Democrata que é Popular, e um Partido Popular que pouco mais não passa de Populista!