Adeus Relvas
(e espero que o sucessor seja licenciado a sério!)
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O pagode continua. E continuará. Como continua sempre quando se perde o respeito.
Desta vez, Relvas chegou ao Tour de France, como mostra o vídeo em baixo. Estou certo de que chegará ainda mais longe.
Os cães vão ladrando, enquanto a caravana passa. E a caravana que passa é naturalmente a ridicularização do ministro. O que me preocupa, em toda esta história é a profunda falta de dignidade de toda esta situação. É um desaire tremendo para todos aqueles que depositaram esperança num novo ciclo político em Portugal.
Importa recordar Manuel Pinho e o episódio dos chifres na Assembleia da República. Importa recordar Martins da Cruz e o seu pedido de demissão a propósito das insinuações de favorecimento da sua filha numa Universidade Pública. Indivíduos que compreendem que a política só se exerce com autoridade. Miguel Relvas é, nesta altura, um claríssimo embaraço para todo o governo e, em especial, para o Primeiro-Ministro que já teve que lhe reafirmar a sua confiança política por 3 vezes, mas parece estar disposto a comprometer todos em prol da sua sobrevivência no exercício de funções. Resta saber se Passos Coelho está disposto a comprometer alguma da sua base de apoio para evitar a remodelação. Passos Coelho fará os possíveis por manter o ministro e a razão não é a RTP ou a reforma autárquica. Não somos ingénuos... A razão são as eleições autárquicas de 2013.
Resta-me citar o meu companheiro apache, José Meireles Graça: "Quanto ao bom do Relvas, é claro que se devia ter demitido há muito, no interesse próprio, no do Governo e no do País. Se o tivesse feito a tempo, perderia a auctoritas mas não a dignitas."
Chegam-me imagens de uma manifestação pedindo a demissão de Miguel Relvas. Uma manifestação absurda, mas que contribui para mais uma humilhação pública do ministro. Horas depois de ser ridicularizado por Alberto João Jardim. Uma conclusão salta à vista de todos: os longos anos de experiência na vida política e partidária ensinaram pouco a Miguel Relvas e as equivalências foram-lhe creditadas erradamente. Um ministro que se permite chegar a um ponto de desautorização, que assume carácter de humilhação pública, não pode perceber nada de política. A sua resistência foi, no início da semana passada, um sinal de imprudência. Hoje, já nada lhe resta senão resistir porque já não há uma saída digna da situação.
Esta é uma daquelas situações, para usar da metáfora de Pedro Passos Coelho, em que se atira porcaria na ventoinha... O resultado é evidente. Surpreendeu-me, por isso, que o Duarte Marques, presidente da JSD, e o Pedro Alves, secretário geral da JS, se lançassem tão prontamente para a frente da ventoinha. O primeiro conseguiu chamar a si, no dia informativo de ontem, a precariedade política do ministro com uma tentativa de defesa tão arrojada que soa a desespero. O segundo, respondeu hoje ao arrojo do Duarte, comprometendo-se mais do que se estivesse calado. Ao fim do dia, ninguém ficou bem na fotografia, porque, como dizia, quem passa em frente a esta ventoinha...
Nos últimos dias/semanas fui frequentemente abordado com piadas sobre o Relvas, insinuações sobre o Relvas, ou simplesmente um "Então o Relvas, hã?". Quem interpela espera naturalmente a defesa da dama. Afinal, somos todos do mesmo clube. Somos da mesma trupe. A surpresa é geral quando me ouvem denunciar o caso.
A minha história será, certamente, replicada por centenas por esse país fora, já que há, como eu, muito militante do PSD que não vê a sua militância como uma fé. Ontem, lia um outro militante dizer no Facebook que tinha vergonha de não ter nos órgãos de direcção do PSD quem denunciasse Relvas e "os casos" que o envolvem. Há, felizmente, quem o faça. Firmino Pereira, vice-presidente do PSD/Porto faz o favor de me representar a mim e a tantos outros militantes do PSD que não aceitam que a mediocridade se perpetue em cargos de responsabilidade política.
Sou militante do PSD. Mas não sofro de partidarite nem defendo clientelas. Muito menos coloco o partido acima da minha dignidade pessoal. E um indivíduo que depois de fazer uma licenciatura nas circunstâncias em que fez vir dizer-me que sempre levou uma vida na procura do conhecimento está, no mínimo, a insultar a minha inteligência.
Entrei, hoje, por uns breves minutos, numa pastelaria. Um episódio que não terá excedido 5 minutos. Foi o suficiente para ouvir duas anedotas contadas por clientes diferentes:
"Diz o Relvas para o Reitor:
- Sr. Reitor, dá licença?
- Está licenciado!"
"O Relvas perdeu a virgindade aos 12 anos. Praticou masturbação, mas deram-lhe equivalência."
Dada a manifesta piada em que se tornou um ministro cuja responsabilidade governativa incide sobre a coordenação política do executivo, começo a temer pela autoridade do governo e, em particular, do próprio Primeiro-Ministro.
Eu sou do tempo em que os ministros se demitiam, por forma a preservar a dignidade das instituições que representavam. Homens como Relvas não temem o prejuízo que lhes causam, porque apostam na curta memória do eleitorado. Infelizmente para ele, já foi inscrito na mais duradoura forma de memória colectiva do povo português: a anedota.