Com o dealbar da década de 90, a exaustão normativa resultante da fricção da Guerra Fria e o triunfo dos regimes centristas no conflito bipolar, levou à emergência de alternativas híbridas nos espectros políticos da maioria dos regimes democráticos.
Nos espectros mais à esquerda – sobretudo na Europa – a “terceira via” providenciou fôlego para mais uma década de governação esquerdista e nos espectros mais à direita – América – o neoconservadorismo logrou oferecer um modelo tradicionalista que combinado com caracsterísticas estatizantes de esquerda, manteve intacta a evolução açambarcadora do aparelho Estado.
Assim, no rescaldo da crise financeira internacional uma das ideologias que sobreviveu foi a do Libertarismo – também apelidada erroneamente de neoliberalismo. Os conservadores mais puros foram forçados a recorrer a uma corrente ideológica alternativa tanto ao conservadorismo tradicional como ao neoconservadorismo.
Com o vazio ideológico que a terceira via deixou à esquerda e com a inspiração libertária a ganhar força por outras paragens, há quem agora defenda soluções libertárias para Portugal. Isto no entanto, não toma em conta as particularidades culturais e geográficas do nosso país.
A minarquia ou presença mínima do Estado na sociedade, só é justificada em sociedades aonde a sociedade civil é forte o suficiente para se reger sem auxílio central. Este não é o caso de Portugal. Portugal é um país relativamente periférico e pobre.
Em Portugal, o fraco sentido de responsabilidade individual exige instituições que se ocupem de incutir no indivíduo, deveres e obrigações.
Um outro problema com uma teórica implementação de políticas libertárias em Portugal seria o domínio político da classe média e
classe média baixa. Nas sociedades formais e racionais do norte, o sentido de civismo garante que os recursos do aparelho estado são alocados consensualmente aos segmentos da população que mais deles necessitam.
Em Portugal, apesar da ética católica não ser dada ao informalismo caótico extremo de sociedades tropicais, ela é ainda assim pouco responsabilizadora do indivíduo, e como tal o fenómeno do assalto ao aparelho estado enquanto unidade distribuidora de rendas revela a tendência mediterrânica para a tirania da maioria.
Por outras palavras, o Estado em Portugal só dificilmente poderia contrair-se de modo a limitar-se a programas sociais para os mais necessitados, porque a classe média e média baixa colonizou o aparelho Estado e canaliza a sua redistribuição central de recursos para si mesma.
E a melhor prova disto mesmo foram os governos José Sócrates.