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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

Irresponsabilidade Humanitarista

Miguel Nunes Silva, 31.01.13

Em 2011, quando a Primavera Árabe ganhava ímpeto, os humanitaristas ocidentais lançavam achas para a fogueira: Amnistia Internacional ou Human Rights Watch (HRW) incitavam apoio aos revolucionários e reclamavam mais apoio da parte dos governos ocidentais e mundiais, para com a onda revolucionária no mundo Árabe.

 

 

Mas hoje, na apresentação do seu relatório anual, a HRW - surpresa das surpresas - queixa-se que afinal as 'democracias' erguidas nas ruínas dos prévios regimes aliados do Ocidente, não respeitam os mais básicos dos direitos humanos. Vejam só, se ao menos alguém tivesse previsto tal facto infeliz...

 

Como já aqui reportei há outros indicadores que também se degradam.

 

Mais uma vez se vê o resultado de amadores ideologicamente cegos, interferirem com políticas de estado cuja prerrogativa não pertencem à 'rua'.

 

Mas a irresponsabilidade destas associações não se resume à interferência com a política externa e os interesses de estados ocidentais, é que no fundo aquilo que estas ONGs verdadeiramente querem é que o mundo Árabe - e o resto do planeta - adoptem os valores ocidentais à força mesmo se depois estes se revelam impossíveis de adaptar. Este euro-centrismo fanático prejudica portanto as relações entre estados mas também prejudica as sociedades para onde eles são exportados.

 

Haja vergonha.

Para memória futura...

Miguel Nunes Silva, 14.01.13

... dêem-me ouvidos, pelo menos quando eu falo de política externa.

 

(este post é mais uma vez dedicado a certos ex-Psicóticos)

 

 

Nem um ano se passou desde a intervenção da NATO na Líbia (que Portugal apoiou...) e os aviões Europeus estão de volta aos céus africanos. Há umas semanas atrás, em vésperas de Natal, falava-se em Washington sobre a possibilidade de bombardear a Líbia de novo, desta vez para dar cabo dos Islamistas que o Ocidente havia armado durante a guerra civil Líbia. Para quem não esteve atento, os mesmos que assassinaram o embaixador Americano na Líbia e destruíram o consulado em Benghazi.

 

Esta semana não é a Líbia que se bombardeia mas sim o Mali, aonde Tuaregues e a corja Salafista fundaram um estado Islâmico vindos da Líbia em caos. Estes últimos impuseram a xaria e levaram a cabo um vandalismo bárbaro de locais e monumentos históricos classificados pela UNESCO como património da humanidade.

 

Já se fala que se forem expulsos do Mali, os Islamistas poderão procurar desestabilizar outros países como o Chade, a Mauritânia ou a própria Nigéria - potência regional da África ocidental.

 

Isto para não falar de consequências tais como o aumento no fluxo de imigração ilegal Africana - que Qadhafi mantinha em cheque - o aumento do valor dos seguros para os investimentos ocidentais na Líbia e no norte de África e a inerente falta de segurança dos mesmos.

 

E então? Viva a democracia? Valeu bem a pena? Vejam lá se querem repetir a dose na Síria....

Nobel da Demagogia

Miguel Nunes Silva, 11.12.12
A cerimónia de atribuição do Nobel da Paz à União Europeia em Oslo foi o espelho da classe política Europeia e o reflexo não foi bonito.
Para um prémio atribuído a uma organização internacional, por mais soberania partilhada que a constitua, foi absolutamente ridículo ver todos os chefes de governo presentes para captar o prestígio por associação que a UE estava a receber. 

Dito isto, ao nível institucional o M.O. foi o mesmo de modo que ninguém sai incólume na fotografia de grupo ...e de grupo. Van Rompuy tornou aquilo que se queria como uma cerimónia solene num evento hilariante ao invocar Kennedy com o seu "Ich bin ein Europäer". Solidariedade com um ideal questionável tudo menos consensual não é propriamente o equivalente da Berlim da Guerra Fria...

O aproveitamento político foi óbvio e barato mas o mesmo também se deve dizer infelizmente, de quem faltou pois David Cameron não esteve presente por razões igualmente populistas.
É uma Europa de politiquices e não - como devia ser - uma de estadistas.
Passemos então ao mérito do prémio em si. Aquilo que justificou a atribuição do prémio à UE foram projectos Europeus como o EuropeAid ou a Iniciativa Europeia para a Democracia e Direitos Humanos. No entanto, ao contrário da tradição de promover estadistas que encetavam negociações de paz, estes projectos iniciados por lógicas politicamente correctas de despesa orçamental e fruto do consenso possível - virtude desse mesmo politicamente correcto - entre os estados-membro, também dão azo a um prémio menos merecido; não só a UE nunca foi capaz de pôr travão a uma guerra mas quando tentou - Bósnia, Kosovo - falhou pois as forças internacionais e os projectos de construção de estado continuam ad eternum presentes nos Balcãs - para não mencionar o que o conflito actual no Congo diz de todo o investimento Europeu e da ONU nos esforços de paz.
Assim, premeia-se quanto muito as boas intenções, mas não os resultados. Mas porque a atribuição do Nobel é também política, há um aspecto preocupante que convém salientar: nem sequer na Europa se concorda na definição de democracia e direitos humanos, e é prioridade da UE expandir tais definições opacas ao resto do mundo? A que preço? E se uma outra civilização quisesse promover os seus ideais na Europa? Aceitamo-lo-íamos? 
E que dizer do inevitável problema que a Europa levou séculos a chegar a estes ideais num canto do mundo muito peculiar? É sustentável promover tais valores excepcionais no resto do mundo?

Quem somos nós para dizer aos outros como viver?

De vitória em vitória, até à derrota...

Miguel Nunes Silva, 31.07.12

É típico estes dias vermos muito encorajamento à derrota de Bashar al-Assad na Síria. Vale a pena recordar a esses 'peritos' que Israel - provavelmente a nação mais paranóica à face da Terra - não segue a linha da Europa ou de Washington nesse encorajamento. Os Israelitas sabem bem que os montes Golã foram a fronteira mais estável que tiveram nas últimas décadas e sabem também que Assad é, ao contrário dos ayatollahs de Teerão, um estadista racional. NÓS sabemos que Israel foi um dos poucos aliados Americanos que teve a coragem de alertar contra a invasão do Iraque.

 

Neste artigo de Richard Haass os factos são mais claramente expostos:

 

"(...) os apelos aos Estados Unidos e a outros países, que têm interesse e influência na região, em defenderem a democracia e os direitos humanos colidiram com as preocupações relacionadas com o queos interesses da segurança nacional irão sofrer, caso os regimes autoritários pró-ocidentais sejam expulsos."

 

"(...) armar a oposição não está isento de desvantagens. Correm o risco de alimentar uma guerra civil e de encorajar os regimes leais a firmarem-se. Além disso, as armas fornecidas para lutar contra o regime serão utilizadas nos tumultos, para combaterem uns contra os outros, se e quando o regime for removido, tornando o rescaldo na Síria muito mais violento."


Anseio pelo dia em que as nossas elites decidam fazer dos interesses do Estado e dos Portugueses uma prioridade maior que os seus precoceitos ideológicos.

Os nossos aliados...

Não se pode dizer que a Síria seja um regime aliado do ocidente que valha a pena salvar, mas tal como no caso da Líbia, pergunto-me se a mísera Síria vale a pena como centro das atenções do ocidente quando parece ser bem mais vital para a Rússia e China, quando o Irão é a principal preocupação do ocidente e quando todos nós estamos em dificuldades económicas.
E estes são os nossos aliados... 

Group Think

Miguel Nunes Silva, 01.02.12

 

 

O termo em título refere-se a uma tendência identificada por sociólogos que consiste na uniformização de ideias no contexto de uma dinâmica de grupo. 

Esta tendência é hoje em dia perfeitamente identificável nos ditos media mainstream pelo que é sempre arriscadíssimo confiar na narrativa preponderante pois ela não é necessariamente factual. Os media tendem a seguir narrativas mediáticas que suscitam interesse à sua audiência. Precisamente porque os media são inerentemente sensacionalistas, a sua narrativa deve sempre ser vista com algum distanciamento.

 

Hoje em dia vemos bem as consequências deste fenómeno no evento da Primavera Árabe. Para traçar uma analogia com que todos nos podemos identificar, durante os anos 70 era previsão estabelecida tanto na Europa como nos EUA que Portugal se tornaria comunista depois da revolução dos cravos. Washington chegou a planear isolar Portugal de forma semelhante ao embargo a Cuba para mais uma vez apresentar um exemplo negativo a não seguir por outros aliados.

As previsões falharam e no fim Portugal esteve perto mas não chegou a tornar-se comunista. De facto as eleições provaram depressa que o apoio eleitoral do PCP era bastante limitado e tirando os governos de salvação nacional, o PCP nunca sequer chegou a governar.

 

Podemos observar um tal paralelo hoje no Egipto e noutros países Árabes: a revolução era democrática e liberal, mas afinal parece que os secularistas são uma minoria e que não só os militares vão preservar uma porção do poder mas os islamistas serão aqueles catapultados para o poder e procederão assim à revogação de grande parte das reformas liberais de Hosni e Gamal Mubarak.


Há quem diga que as revoluções provam o falhanço das políticas de parceria com regimes autoritários mas nesse caso as contra-revoluções provam diametralmente o seu sucesso, e dado que tanto nas revoluções coloridas do leste da Europa como agora durante a Primavera Árabe existem importantes movimentos de resistência à mudança, então os ocidentais até têm sido relativamente bem-sucedidos. 

O politicamente correcto impede-nos de observar simples dilemas: ditaduras liberais Vs. democracias integristas.

 

Está na hora de abandonar a nossa mentalidade de rebanho e abrirmos os olhos.

A tal da 'Diplomacia Económica'...

Miguel Nunes Silva, 05.01.12

 

Esta quarta-feira foi a vez de Paulo Portas se revelar enquanto ministro do novo governo. Depois de Assunção Cristas foi a vez de o MNE vir a público tentar melhorar a imagem do governo com mais uma reforma inovadora e um Ministro dinâmico jovem e energético - aonde é que já vimos isto? Ah pois...

Pelo menos foi essa a intenção ao se criar uma oportunidade mediática com Portas e o corpo diplomático que obteve ampla difusão - em directo em vários canais de televisão por cabo.

 

Enquanto internacionalista residente, este Psicótico vê a responsabilidade de comentar o espectáculo como implícita. Mais importante ainda, vejo esta análise como a mim consignada porque durante a era Socrática fiz questão de comentar a actuação do governo em política externa e tenho agora que ser consequente com o meu percurso.

 

Infelizmente, por muito que eu gostasse de poder afirmar que uma nova era se apresenta na condução da política externa do nosso país, as minhas conclusões são na sua maioria negativas. No entanto, por muito que me custe observar os mesmos erros de sempre a serem cometidos (e custa, acreditem), posso pelo menos orgulhar-me de ser consequente com opiniões que tenho expressado ao longo dos anos.

 

O Ministro Portas fez um discurso longo em prol da diplomacia económica mas enganem-se aqueles que pretendam elogiar uma nova abordagem à diplomacia pois não só não é a diplomacia económica algo de novo - o termo já nos é transmitido bem gasto, pelos sectores económicos Americano e asiático - mas não é tão pouco algo de novo em Portugal. Os governos Sócrates sempre pugnaram pela abordagem económica à política externa e só quem não recorda os périplos de Sócrates e Amado pelo mundo Árabe, pela América Latina e pela China é que poderia sequer sonhar em atribuir a Portas e ao XIX Governo Constitucional o mérito do conceito.

 

Pois bem, nenhuma novidade mas se o conceito é bom aonde está motivo para crítica? O conceito é desde logo problemático porque eu comento de acordo com uma perspectiva política e o termo é técnico. Há uma grande diferença entre diplomacia e política externa: a primeira é táctica e técnica, a segunda é (ou deveria ser) estratégica e política. Mas deixando a semântica de lado, o problema que se põe de imediato é saber qual a estratégia por detrás desta política e a minha análise é negativa sobretudo devido ao facto de o discurso do governo não ter deixado antever qualquer estratégia - muito pelo contrário, parece não querer dar importância à necessidade de uma.

A intenção é simples: fazer negócio o mais possível. Mas o Estado Português não é uma empresa, é uma entidade política. Não sou contra abrir oportunidades ao empreendedorismo e facilitá-lo mas essa é a função do Ministério da Economia. Os diplomatas Portugueses podem ajudar mas não são treinados (nem devem) para ser gestores.

Passo a explicar: que aconteceria se empresas Chinesas e Americanas estivessem ambas interessadas na aquisição da EDP? Aparentemente, de acordo com o paradigma aestratégico do governo, o critério seria 'first come, first served'. Ora isto é ausência de visão. Isto é imediatismo irresponsável e desprezo para com o interesse nacional - o qual é intrinsecamente de longo prazo. Isto é diplomacia de manga de vento pois significa governar ao sabor do vento.

 

Um dos pontos que foi corajosa e orgulhosamente avançado foi o de que a avaliação das missões diplomáticas de Portugal seria agora regido pelo critério das relações comerciais. Uma vez mais isto revela a total ausência de visão ou planeamento estratégico pois vejamos o exemplo do massacre de Santa Cruz: se fosse hoje, Portugal não se bateria pela independência de Timor-leste pois o volume de negócios com a Indonésia é e será sempre superior ao das trocas comerciais com o pequeno Timor.

 

Tudo isto resulta claro da falta de um Conceito Estratégico Nacional. Claro que quando se decide ser escravo da narrativa politicamente correcta de fim-de-História demo-liberal, percebe-se que haja alguma ...'hesitação' em definir ameaças, imperativos estratégicos e critérios de política externa; é chato fazer escolhas pois escolhas implicam decisões, decisões implicam riscos e tomar riscos exige coragem. É tão mais confortável andar ao sabor da maré e esperar pelo melhor...

Mas a outra principal razão não é estrutural e sim de liderança: como avisei ao longo dos últimos anos, o percurso de alguns dos líderes deste governo nunca me inspirou esperança em ver grandes estadistas dali emergir. Detesto dizê-lo mas ...'eu avisei'.

 

Confesso que durante algum tempo mantive alguma esperança de que este governo pudesse ser diferente quando ao apresentar os seus planos de governo decidiu pôr o vector da Lusofonia à frente de o do Atlantismo e de o da Europa. Gostaria que quem quer que seja que tenha sido pro-activo o suficiente para argumentar a favor de uma hierarquia estratégica diferente para a nossa política externa, fosse agora coerentemente mantido à frente de uma reforma do MNE. Gostaria...

4o lugar!! - Portugal era o 4o maior exportador de armamento para a Líbia

Miguel Nunes Silva, 08.08.11

Em resposta a uma pergunta de um deputado da Assembleia Nacional, o PM Francês François Fillon anunciou que a França era apenas o terceiro maior fornecedor de armamento à Líbia antes da guerra, um lugar acima de Portugal, que arrecadou 11 milhões de euros no ano prévio à intervenção aliada.

 

 

Repito: Declaramo-nos hostis a um bom cliente e apoiamos agora os rebeldes porque ...

Líbia: Portugal na carneirada

Miguel Nunes Silva, 03.08.11

Quando a guerra civil se instalou, Portugal prestou-se a ser indigitado mediador na crise e num primeiro momento a sua neutralidade era séria mas à medida que o conflicto se pronlongou, a independência de Portugal foi-se esfumando: em Março já presidia ao Comité de Sanções à Líbia das Nações Unidas (que no momento em que Tripoli dominava a maior parte do país era claramente parcial contra o regime) e poucas semanas depois, aquilo que era uma operação ad hoc por parte de países que apenas também eram membros da NATO, acabou envolvendo toda a Aliança Atlântica – alguém ouviu um pio da parte das Necessidades?

A semana passada Lisboa foi mais longe e transferiu o seu reconhecimento diplomático de Tripoli para Benghazi.

 

Eu compreendo que tenhamos aliados com pouca sensatez mas não posso compreender que nós próprios nos demos ao luxo de conduzir a nossa diplomacia ao sabor do vento.

Portugal tem interesses na Líbia! Se o regime de Tripoli sobreviver, os países beneficiados serão aqueles que apoiaram o regime ou se mostraram neutrais. Portugal está a tomar partido num disputa que não só não está resolvida mas na qual tem também muito a perder.

 

Que ganhamos nós em apoiar os rebeldes? Sim, a narrativa dos rebeldes é a da democracia liberal mas mesmo que eles pratiquem no futuro aquilo que pregam hoje, isso não é desculpa para arriscar tudo aquilo que tem sido construído com Tripoli até agora, em nome de ideais que a nós em nada irão beneficiar.

 

A verdade por detrás da posição de Portugal é infelizmente que o governo tem cedido recorrentemente à pressão de “aliados” que têm outros interesses no conflicto...