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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Filosofias de Política Externa em Portugal

Miguel Nunes Silva, 30.10.09

 

 

 

 

 

 

Em entrevista à Sociedade das Nações, – título de programa agoirento, por sinal – Luís Amado foi explícito quando afirmou que qualquer entendimento com os partidos à esquerda do PS era impossível e que teria a sua reprovação, enquanto estes persistissem em políticas externas que não em conformidade com os eixos de política externa do actual regime, por outras palavras, que não tolerassem a integração Portuguesa da UE e da NATO – mais uma prova aliás, de que as ofertas de coligação de Sócrates não eram honestas.

Aquilo que tentarei explicar neste post, é o porquê:

 

 

 

Libertarismo – por muitos considerado como a anarquia de direita, os Libertários, em Portugal encontrados sobretudo nas franjas da direita e com simpatizantes nalguns partidos, são por natureza isolacionistas e não dão fundamental importância ao multilateralismo, à excepção daquele que facilite as relações económicas e comerciais.

 

Neoconservadorismo – Neste momento sobretudo prevalente no PND mas com simpatizantes no CDS ou no PSD, os Neoconservadores acreditam que os exércitos das potências democráticas devem embarcar em cruzadas para libertar o mundo da opressão política e “tornar o mundo seguro para a democracia”.

 

Internacionalismo Liberal – A filosofia por excelência do regime e a razão pela qual em matérias de política externa existe consenso no arco da governabilidade (CDS, PSD, PS), o internacionalismo liberal avança que o mundo é tanto mais seguro quanto mais democrático e mais liberal. Tende para as intervenções humanitárias e considera que os regimes demo-liberais são o auge da evolução política dos povos.

 

 

Internacionalismo Proletário – Evidentemente de inspiração marxista, esta escola de pensamento tem como adeptos os militantes do PCP mas provavelmente também ainda alguns no PS. Pauta-se por um apoio às revoluções proletárias e pela chamada “solidariedade socialista”. Esta implicaria o fim dos estados enquanto máquinas burocráticas de opressão da burguesia e do grande capital, em favor da revolução mundial dos trabalhadores.

 

 

Terceiro-mundismo – Provavelmente a escola de eleição do Bloco – embora também com muitos adeptos no PS – esta escola é de inspiração neo-marxista mas difere dos internacionalistas proletários na origem da revolução, que é mais urgente e necessária no 3º mundo i.e. nas zonas mais pobres do mundo. Difere também na questão dos direitos humanos, que assumem papel primordial, ao contrário do IP (comparar reacção do Bloco com a do PC, à visita de dignatários Angolanos) Numa visão altamente pós-moderna, o 3ºM é pacifista e assenta num transnacionalismo que é derradeiramente subversivo aos estados-nação. Em Portugal esta filosofia é promovida em publicações tais como o “Le Monde Diplomatique” e caracteriza-se por um fervor incondicional pela causa Palestiniana.

 

 

Assim, sem tolerar a competição livre ou a colaboração militar entre estados socialmente desiguais, dificilmente o BE ou o PCP poderiam integrar uma coligação com um qualquer governo centrista.

 

 

 

Os nano mini, micro ...

Miguel Nunes Silva, 08.10.09

                Confesso desde já que nutro grande simpatia pelos pequenos partidos. É lá que encontramos a pureza ideológica, os não corrompidos e aqueles que fazem política a custo pessoal, em vez de o fazerem para ganho pessoal. É verdade que também é lá que estão frequentemente os socialmente inadaptados, os radicais utópicos e os extremistas. Mas ainda assim, é um universo muitíssimo interessante.

 

O último ano foi rico para estes movimentos, os quais se multiplicaram e encontraram maior aceitação com a crise e com a falta de confiança generalizada nas políticas mainstream.

 

Concorreram às eleições dez destas formações:

 

 

PCTP/MRPP – O eterno partido maoista Português liderado por Garcia Pereira tem sempre sido dos mais populares entre os inconformados. Nas europeias conseguiu 42 940 votos e nas legislativas 52 633.

 

MEP – O partido dos optimistas com nomes como Laurinda Alves na liderança, é o mais bem sucedido dos novos pequenos partidos. Europeias: 55 072; Legislativas: 25 338.

 

PND – A cisão do CDS era suposto afirmar-se enquanto partido liberal mas as opiniões ultra-conservadoras expressas no Demo-Liberal são mais próprias do Partido Republicano norte-americano. O antigo partido de Manuel Monteiro somou 21 380 votos nas legislativas.

 

MMS – Os meritocráticos portugueses poderão a médio prazo dar representação aos liberais de Portugal. No entanto, o seu liberalismo não se estende à área social aonde algumas das medidas que visam introduzir em termos de segurança, podem ser perspectivadas como draconianas pelo público. 21 738 nas europeias e  16 580 nas legislativas.

 

PPM – Os monárquicos somaram 14 414 votos nas europeias e 14 997 nas legislativas. Sem grandes mudanças, o PPM é consistente mas a sua coerência também se estende ao seu tamanho…

 

FEH – A coligação entre o Partido da Terra (MPT) e o Partido Humanista totalizou  apenas 12 025 votos nas legislativas mas juntos, o seu resultado nas europeias foi muito mais impressionante: 24 062 votos no MPT e 17 139 no PH. Uma coligação curiosa depois dos anos de parceria do MPT com o PPM, de onde originou pela mão de Gonçalo Ribeiro Telles. Ainda de referir que o eurocepticismo dos conservacionistas lhes granjeou financiamento irlandês nas europeias, o que poderá também explicar o seu bom resultado.

 

PNR – Os infames “neo-nacionalistas” mantêm o seu núcleo duro de seguidores mas a sua visão xenófoba sempre os afastará de qualquer acordo de coligação; para não mencionar a sua conotação – justa ou não – com o neo-fascismo. 13 214 votos nas europeias e 11 614 nas legislativas.

 

PPV – Um dos novos partidos menos bem sucedidos, o Portugal pró Vida reduz-se à plataforma anti-aborto. Este movimento cívico conservador reuniu 8485 votos nas legislativas.

 

PTP  - Os trabalhistas também não impressionaram com os seus tempos de antena no mínimo amadores. Ainda assim, 4789 pessoas confiaram neles. Seria impensável coligarem-se com outros partidos? Talvez não.

 

POUS – Os seguidores da 4ª internacional ficaram-se pelo seu eleitorado tradicional: 5177 nas europeias e 4320 nas legislativas. O partido de Carmelinda Pereira tem enviado cartas abertas aos partidos de esquerda apelando a uma união das esquerdas. Quer o POUS finalmente sair do seu isolamento?

 

 

                O que é interessante aferir é que até os pequenos partidos sofreram com o voto útil e com o voto protesto. Os únicos partidos que aumentaram a sua votação em relação às europeias foram o PCTP/MRPP e o PPM.

 

                Estes resultados são interessantes pois se bem se lembram, o Bloco de Esquerda emergiu duma coligação de movimentos como estes. A surgir uma coligação semelhante no entanto, esta seria de partidos centristas e qualquer lugar do parlamento que pudessem ocupar seria em detrimento do PS mas também do PSD.

 

                Não é muito difícil imaginar uma Aliança Independente entre o MEP, o MMS e a FEH, por exemplo. Juntos teriam aritmeticamente conseguido 54 000 votos nestas legislativas e 120 000 nas Europeias. Não seria inconcebível que conseguissem alguns mandatos nos grandes distritos. Se adicionássemos o PPM ainda mais representação teriam mas excluo-o por agora pois o PPM tem acordos de coligação com o PSD e o CDS em outras instâncias.

                Eventualmente outras coligações são possíveis claro: Coligação da Direita PND-MMS, Centro Independente PTP/MEP/MMS/FEH…

 

 

                Que acham os leitores?