Na ONU existem ‘estados’ cujo maior valor é o de constituírem um voto na Assembleia Geral. Durante o século XX o número de estados aumentou dramaticamente e, sobretudo depois da segunda guerra mundial, o valor destes aumentou também visto que na ONU eles têm um voto que conta tanto quanto o das maiores potências.
Como em todas as ficções, a realidade acaba por se impor e assim se criou o Conselho de Segurança aonde as grandes potências têm assento permanente. Um outro artifício foi a criação de estados procuração através dos quais as superpotências podem contar com votos adicionais na Assembleia Geral.
Porque na realidade, como todos sabemos, uma qualquer república das bananas, não tem o mesmo valor de um estado-civilização como a China ou a Índia.
Assim, ‘territórios associados’ como a Micronésia ou as ilhas Marshall constituem uma reserva de voto dos EUA e durante a Guerra Fria, a Ucrânia e a Bielorrússia serviam o mesmo propósito para a URSS.
Mas o absurdo das ficções políticas também existe perto de nós. No parlamento Português, o Partido Ecologista ‘Os Verdes’ é uma tal ficção política. O PEV nunca foi sozinho a eleições nem nenhuma sondagem alguma vez o isolou do PCP para discernir a sua verdadeira abrangência de eleitorado. Aparentemente, os membros que o constituíram saíram do PCP para o formar de propósito e o seu programa nunca diverge ou entra em conflito com o do partido comunista.
A título de exemplo vejamos as barragens: a do Sabor foi duramente criticada, a do Alqueva não. Porquê? Porque o PCP obtém os votos que lhe permitem manter-se no parlamento, do Alentejo e o projecto do Alqueva é uma antiga reivindicação dos agricultores Alentejanos.
À direita, os conservacionistas apelidam ‘Os Verdes’ de “melancias” – verdes por fora, vermelhos por dentro.
O cúmulo desta ficção política são as audiências entre os partidos e o Presidente da República – aonde o PCP passa a contar com duas – e as intervenções na Assembleia da República – aonde o PCP intervém duas vezes sucessivas.
Em contraste, aliados do PSD como o PPM ou o MPT sempre foram partidos autónomos que o PSD graciosamente permite terem lugar no parlamento, através das suas listas.
Acho do mais mau jornalismo que pode haver, o facto das TVs privadas, aderirem a esta ficção política. Que a RTP o fizesse é uma coisa, a TV pública tem que – ou tende a – respeitar formalismos e ser institucional. Mas as TVs privadas também prestam atenção aos Verdes em claro detrimento de formações políticas mais pequenas que muito mais mérito possuem, por estar no combate político autonomamente e há mais tempo.
Em tempos de crise, o que é supérfluo é sacrificado. Vamos começar por algumas ficções.