Não, não escrevo para me associar-me à manifestação de amanhã.
Não, também não venho defender o governo e repudiar a manifestação. O direito à manifestação está consagrado na Constituição da República portuguesa.
Venho apenas, cumprindo o que li em alguns cartazes, soltar a Grândola que há em mim.
Que a manifestação de amanhã seja ordeira, que o povo se saiba comportar, que saiba efectivamente usar da liberdade e igualdade que tanto tem sido apregoada. Que não hajam polícias feridos, paralelos arremessados, pessoas magoadas.
Com referência a Zéca Afonso1, que amanhã, por todo o país reine a Paz, que seja soltados gritos dignos de um poeta, e que apenas voem as Pombas, em detrimento das pedras da calçada.
Esta é a Grândola que há em mim.
Frédéric Bastiat , economista e jornalista françês, escreveu que "A Fraternidade forçada, destrói a liberdade". Não podia concordar mais.
Manifesto-me sempre que acho necessário, nos locais certos, com a minha participação política desde muito jovem.
Muitos dos que amanhã estarão presentes na manifestação, nunca votaram, nunca participaram activamente num partido ou organização política.
Disse Francisco Sá Carneiro "A intervenção ativa é a única possibilidade que temos de tentar passar do isolamento das nossas ideias e das teorias das nossas palavras à realidade da atuação prática, sem a qual as ideias definham e as palavras se tornam ocas."
Eu, orgulhosamente, muitas vezes com sacrifício pessoal, abdico de tempo com a família, com os amigos, abdico de tempo de passeio, abdico até de dormir algumas vezes, para participar politicamente, procurando as melhores soluções.
Aos manifestantes de amanhã apenas qustiono, "E se a troika se lixar, qual o nosso destino? França, como o Engenheiro?"
1"Páz, poeta e pombas" - Do álbum "Venham mais Cinco"