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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

Para memória futura...

Miguel Nunes Silva, 14.01.13

... dêem-me ouvidos, pelo menos quando eu falo de política externa.

 

(este post é mais uma vez dedicado a certos ex-Psicóticos)

 

 

Nem um ano se passou desde a intervenção da NATO na Líbia (que Portugal apoiou...) e os aviões Europeus estão de volta aos céus africanos. Há umas semanas atrás, em vésperas de Natal, falava-se em Washington sobre a possibilidade de bombardear a Líbia de novo, desta vez para dar cabo dos Islamistas que o Ocidente havia armado durante a guerra civil Líbia. Para quem não esteve atento, os mesmos que assassinaram o embaixador Americano na Líbia e destruíram o consulado em Benghazi.

 

Esta semana não é a Líbia que se bombardeia mas sim o Mali, aonde Tuaregues e a corja Salafista fundaram um estado Islâmico vindos da Líbia em caos. Estes últimos impuseram a xaria e levaram a cabo um vandalismo bárbaro de locais e monumentos históricos classificados pela UNESCO como património da humanidade.

 

Já se fala que se forem expulsos do Mali, os Islamistas poderão procurar desestabilizar outros países como o Chade, a Mauritânia ou a própria Nigéria - potência regional da África ocidental.

 

Isto para não falar de consequências tais como o aumento no fluxo de imigração ilegal Africana - que Qadhafi mantinha em cheque - o aumento do valor dos seguros para os investimentos ocidentais na Líbia e no norte de África e a inerente falta de segurança dos mesmos.

 

E então? Viva a democracia? Valeu bem a pena? Vejam lá se querem repetir a dose na Síria....

4o lugar!! - Portugal era o 4o maior exportador de armamento para a Líbia

Miguel Nunes Silva, 08.08.11

Em resposta a uma pergunta de um deputado da Assembleia Nacional, o PM Francês François Fillon anunciou que a França era apenas o terceiro maior fornecedor de armamento à Líbia antes da guerra, um lugar acima de Portugal, que arrecadou 11 milhões de euros no ano prévio à intervenção aliada.

 

 

Repito: Declaramo-nos hostis a um bom cliente e apoiamos agora os rebeldes porque ...

Líbia: Portugal na carneirada

Miguel Nunes Silva, 03.08.11

Quando a guerra civil se instalou, Portugal prestou-se a ser indigitado mediador na crise e num primeiro momento a sua neutralidade era séria mas à medida que o conflicto se pronlongou, a independência de Portugal foi-se esfumando: em Março já presidia ao Comité de Sanções à Líbia das Nações Unidas (que no momento em que Tripoli dominava a maior parte do país era claramente parcial contra o regime) e poucas semanas depois, aquilo que era uma operação ad hoc por parte de países que apenas também eram membros da NATO, acabou envolvendo toda a Aliança Atlântica – alguém ouviu um pio da parte das Necessidades?

A semana passada Lisboa foi mais longe e transferiu o seu reconhecimento diplomático de Tripoli para Benghazi.

 

Eu compreendo que tenhamos aliados com pouca sensatez mas não posso compreender que nós próprios nos demos ao luxo de conduzir a nossa diplomacia ao sabor do vento.

Portugal tem interesses na Líbia! Se o regime de Tripoli sobreviver, os países beneficiados serão aqueles que apoiaram o regime ou se mostraram neutrais. Portugal está a tomar partido num disputa que não só não está resolvida mas na qual tem também muito a perder.

 

Que ganhamos nós em apoiar os rebeldes? Sim, a narrativa dos rebeldes é a da democracia liberal mas mesmo que eles pratiquem no futuro aquilo que pregam hoje, isso não é desculpa para arriscar tudo aquilo que tem sido construído com Tripoli até agora, em nome de ideais que a nós em nada irão beneficiar.

 

A verdade por detrás da posição de Portugal é infelizmente que o governo tem cedido recorrentemente à pressão de “aliados” que têm outros interesses no conflicto...

E Tudo o Vento Levou

Miguel Nunes Silva, 23.02.11

 

 

 

Se há algo que esta crise no mundo Árabe prova, é que decididamente muito de aquilo que os media apelidam de ‘comunidade internacional’ é na verdade ‘comunidade ocidental’. A cobertura tem sido lamentável com uma clara parcialidade por parte dos jornalistas ocidentais e mesmo dos Árabes, que oriundos das classes altas e médias altas, educados em universidades ocidentais – ou com currículos ocidentais – tomam claramente o partido dos manifestantes.

 

 

Mas não nos enganemos, se as revoluções são muito populares no mundo árabe, isso deve-se não só às elites mas também aos preconceitos da dita ‘rua Árabe’. A rua Árabe é anti-americana, terceiro-mundista em política externa e mesmo antisemita. A irem em frente estas revoluções trarão regimes muito ambíguos em relação ao ocidente se não mesmo antagonistas.

 

No caso do Egipto por exemplo, as elites capitalistas que defendem a revolução fazem-no por interesse próprio pois querem que a economia Egípcia seja menos aberta. As empresas nacionais que o regime favoreceu e cultivou durante muito tempo cresceram ao ponto em que o investimento directo estrangeiro se tornou uma ameaça para o corporativismo doméstico.

Igualmente importante: as elites ‘liberais’ que neste momento apelam ao derrube dos regimes são as mesmas que se aliam aos Europeus de esquerda no anti-americanismo anti-globalização. São os descendentes dos Nasseritas que impulsionaram o Movimento dos Não-Alinhados ou a Liga Árabe – instituições que toleraram os maiores massacres da Guerra Fria mas sobretudo os maiores ataques aos interesses e valores do Ocidente. Afinal, não é a Al-Jazeera anti-Israel e anti-EUA?

 

Quem olhar para o mapa político da Europa observará que os governos de esquerda se acumulam no sul da Europa (Portugal, Espanha, Grécia). Isto não é aleatório já que o espectro político pende mais para a esquerda nos países mediterrânicos. Pessoalmente já pude observar o horror nos olhos dos estrangeiros a quem conto que comunistas e trotskistas dominam 1/5 do parlamento. Se no sul da Europa isto é tão patente, que dizer do sul do Mediterrâneo?

Evidentemente cada caso é um caso: se a revolução resultasse na Líbia, provavelmente o novo regime seria muito mais favorável ao ocidente, a crise na Jordânia não estará tão relacionada com as elites capitalistas.

 

Mas aquilo que é crucial compreender é que os regimes que resultarão destas revoluções serão muito menos favoráveis ao ocidente. Tal como as independências Árabes do pós-guerra nacionalizaram o petróleo e levaram o mundo Árabe para uma maior proximidade com o bloco soviético, também agora os Iranianos esfregam as mãos por verem os regimes que mantinham uma estabilidade pró Ocidental caírem. Não quer dizer que amanhã haja regimes islâmicos favoráveis a Teerão no poder. Mas significa sim que serão mais compreensíveis para com a República Islâmica. É muito claro que com os ditadores irá também o paradigma estratégico que nos favorecia até agora.

 

As alternativas estão a oriente. A Rússia tenta há uma década influenciar o abastecimento energético da Europa. Fê-lo a leste – mérito de Putin – e as companhias Russas persistem em continuar a mesma política no norte de África (ver Gazprom na Argélia por exemplo).

Ora é espectável que as elites terceiro-mundistas, isolacionistas e anti-Americanas prossigam as boas relações comerciais com os interesses Americanos e Europeus? É óbvio que não. E que dizer dos contractos das indústrias de defesa ou da preferência financeira das elites? Será de esperar que estas elites privilegiem ou tratem justamente os países que apoiaram os regimes prévios? A alternativa em matéria de armamento continua a ser a Ásia. O mesmo se pode dizer da moeda de referência.

 

A Turquia é um bom exemplo – até porque a sua população é mais educada e menos vulnerável ao populismo. Mesmo a Turquia, com um governo islâmico acabou por cair numa ambiguidade ocidentofóbica. É membro da NATO mas mantém exercícios militares com a China. Quer entrar para a UE mas oferece apoio à Líbia e ao Irão. Permite o projecto Europeu de pipeline Nabucco mas também o South-Stream Russo – em concorrência um com o outro.

 

Quando será que o Ocidente compreenderá que num mundo cada vez mais competitivo e multipolar não se pode dar ao luxo de perder aliados e que a democracia não traz compatibilidade estratégica mas sim frequentemente o contrário? Quando nos deixaremos do ridículo de servirmos de claque a eventos que beneficiarão todos menos nós?

 

Fechem o guarda-chuva - não dêem cobertura aos nossos rivais - ou deixem-se levar pelo temporal…

E fica tudo dito!

Miguel Nunes Silva, 21.02.11

 

 

"Os processos de transição democrática nestes países são muito mais complexos do que uma simples leitura ideológica em torno da democracia e dos direitos humanos: há factores muito mais complexos que devem ser ponderados pela UE. Esta é sem dúvida a situação mais complexa, mais perigosa e mais difícil com que a Europa se confronta desde o fim do império soviético, provavelmente desde o fim da Segunda Guerra Mundial e não podemos encarar esta situação com ligeireza, e com clichés. Temos que encarar esta situação com muito realismo face à dimensão dos problemas que temos pela frente nos próximos meses e nos próximos anos".