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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

Novela Machete: Angola tem razão

Miguel Nunes Silva, 19.10.13

A novela continua mas desta vez com consequências mais graves.

 

O aproveitamento político de uma simples gafe começa a prejudicar as relações entre Portugal e Angola numa altura em que os mercados dos países em desenvolvimento são cruciais para o nosso país - mais uma política de esquerda que se revela desastrosa.

 

É certo que eleitoralismo e demagogia não são apanágio exclusivo dos Portugueses e o Jornal de Angola como megafone governamental é tudo menos insuspeito de aproveitamento político.

 

O que está verdadeiramente em causa no entanto é a razoabilidade de ambas as partes e aí Portugal foi menos razoável. Luanda sabe perfeitamente que em Portugal a Justiça é independente do poder político - enfim, pelo menos mais independente do que é em Angola - e ninguém em Angola tem ilusões de que o governo possa influenciar a PGR a abandonar as suas investigações.

 

Mas se as pessoas em Portugal esperam que Angola leve em conta o facto de não partilharmos o mesmo tipo de regime, e evite pressionar o governo ou levar a cabo represálias por algo que não está ao seu alcance controlar, então Portugal também tem que fazer a sua parte.

 

As tensões com Angola começam com o aproveitamento cobarde, demagógico e irresponsável que a oposição faz do caso mas o próprio caso começa com as violações do segredo de justiça.

 

Se Portugal se quer queixar que tem um tipo de regime diferente do de Angola, então não pode ter o melhor dos dois mundos. Se a PGR tem a independência e o poder para investigar quem lhe aprouver, também tem responsabilidade por evitar violações do segredo de justiça - as quais se têm tornado uma constante vergonha em todos os casos mediáticos das últimas décadas.

 

Não havia razão para embaraçar altas personalidades do regime Angolano sem que isso fosse absolutamente necessário. A violação do segredo de justiça foi o primeiro acto de falta de razoabilidade. O cancelamento por parte de Luanda da parceria estratégica foi apenas o segundo.

Novela Machete: Diplomacia = Arrogância...

Miguel Nunes Silva, 05.10.13

A vergonhosa falta de sentido de estado esquerdazóide revela-se em todas as oportunidades.

Para a moralista esquerda, a diplomacia é sempre negativa se respeitar regimes diferentes do nosso.

 

O MNE tentou pôr água na fervura numa causa de tensão nas relações entre Portugal e Angola mas o que a esquerda queria era ver o Ministro ser arrogante e dizer aos Angolanos para baterem a bolinha baixinha porque o nosso sistema de justiça é melhor que o deles.

 

Afinal, porquê manter boas relações com um dos nossos principais investidores e mercados de exportação, em altura de crise financeira e económica?...

Ou porquê pôr o interesse nacional à frente do aproveitamento político oportunista e cobarde?

 

 

Portugal no Conselho de Segurança da ONU

Paulo Pinheiro, 13.10.10

 

Portugal foi ontem eleito membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, depois da desistência do Canadá.

 

Esta é a terceira vez que Portugal tem assento no Conselho de Segurança, depois de ter sido eleito para os biénios de 1979-80 e de 1997-98.

 

A partir de 1 de Janeiro de 2011 o grupo dos dez membros não-permanentes passa a integrar: Brasil, Bósnia-Herzegovina, Gabão, Líbano e Nigéria, eleitos em outubro de 2009, e a África do Sul, Alemanha, Brasil, Índia e Portugal.

 

Está de parabéns a Diplomacia Portuguesa, em especial o ministro Luís Amado!

 

Nota do MNE sobre esta eleição: http://www.mne.gov.pt/mne/pt/noticiaspt/201010121900.htm

 

Esta vitória deveu-se em grande medida ao peso da CPLP, pelo apoio já dado ao Brasil para se tornar membro-permanente do Conselho de Segurança e pela ligação que Portugal tem a África, tendo em conta que a maioria do trabalho feito neste órgão versa sobre este continente. Contou ainda com o apoio da Turquia e de Cuba...

 

Existem discussões sobre a reformulação do Conselho de Segurança, que apresenta um desequilíbrio em seus membros na nova ordem mundial. Há uma corrente forte que pretende a entrada do G-4 - Alemanha, Japão, Brasil e India - como membros permanentes, mas resta uma nação africana. Este G-4 tem forte resitência de dos seus vizinhos: Paquistão (contra a Índia), Coreia do Sul e China (contra o Japão), Itália (contra a Alemanha), Argentina e México (contra o Brasil).

 

É esta a reforma que queremos? O aumento da representatividade no Conselho de Segurança das economias mais poderosas e das mais emergentes?

 

O PODER DO "poder suave" (soft power)

João Lemos Esteves, 09.09.09

 

                                   

              

O conceito de soft power é central na moderna teoria das relações internacionais e do Direito Internacional Público. O poder de um Estado e a sua actuação a nível internacional já não se pautam somente (ou sobretudo) pela sua capacidade militar ou força bélica, mas pela sua forma de convencer os outros, a população da "aldeia global" em que vivemos, da justeza e oportunidade das suas decisões em matéria de política externa, nomeadamente, das intervenções militares. Este é o recorte teórico, abstracto do conceito de soft power. No entanto, ele reveste-se de enorme relevância prática: se reflectirmos, todos nós somos afectados, sentimos o efeito do "soft power" quando ouvimos música (na sua grande maioria americana), vamos ao cinema e escolhemos (quase sempre) um filme realizado nos Estados Unidos da América ou aqui , neste blog, temos acesas discussões sobre as primárias norte-americanas ou a actuação de Obama.

 

Com efeito, as imagens, a cultura, no mundo globalizado ,é um instrumento fundamental na diplomacia dos Estados Unidos da América - Hollywood afigura-se, assim, como o centro, a capital mundial do soft power. Este é o ponto de partida de um estimulante e curioso livro de Nathan Gardels e Mike Medavoy, designado " American Idol after Iraq".  Durante décadas, a política externa norte-americana assentou na força, no reforço do armamento militar, no unilateralismo, em construções jurídicas como a de "preemptive war" que legitimaram intervenções militares à margem da Comunidade Internacional (e do Direito Internacional), o que gerou um forte sentimento de anti-americanismo em zonas estratégicas para a estabilidade internacional, como o Médio Oriente. E, ao mesmo tempo em que Bush era odiado, apelidado de diabo um pouco por todo o mundo, "Os Simpsons"  tornaram-se ícones de uma cultura sem fronteiras, universal, criados à imagem de Hollywood e retratando a sociedade norte-americana. Tomando consciência desta realidade, o Departamento de Defesa dos EUA reduziu o orçamento militar para a operação no Afeganistão, reforçando, pelo contrário, as verbas destinadas a instrumentos de persuasão, ao soft power, visando conquistar os corações e as mentes (hearts and minds) das população local. 

 

No entanto, o poder suave, apesar de suave, ainda é poder. E, como qualquer poder, deve ser utilizado com prudência e na sua justa medida. As produções de Hollywood podem, tal como as intervenções militares deficientemente justificadas, afectar a imagem dos EUA no mundo, serem profundamente contrárias à diplomacia americana. Como? Fácil: banalizando assuntos como o sexo, droga e o egoísmo materialista, dando uma imagem negativa da sociedade norte-americana (que é visceralmente religiosa e mais conservadora do que a sociedade europeia). Em países onde a religião domina a vida social e política, como o Irão ou Paquistão e países muçulmanos em geral, a cultura norte-americana é encarada como um adversário, um inimigo que urge combater e derrotar a todo o custo. Muitos até consideram o principal adversário do seu modelo de sociedade, pois séries como Sex and the City ou Desperate Housewifes colidem com os valores espirituais, os dogmas sagrados e incontestáveis daquelas sociedades. 

 

Consequentemente, impõe-se a adopção de uma nova diplomacia, assente no equilíbrio entre "hard" e "soft power", apelando à responsabilidade social dos produtores de Hollywood, na esteira de Harry Turner, para quem os filmes devem entreter e educar. Transmitir valores, experiências e exemplos, respeitando sempre o direito constitucionalmente consagrado de livre expressão e informação. Porque todos fazemos parte da sociedade e temos deveres e responsabilidades para com ela. 

 

Aconselho vivamente a leitura deste livro. Para perceber que a política e a cultura não são mundos paralelos, distintos, estranhos. Bem pelo contrário:  política e cultura andam sempre interligadas, influenciando-se reciprocamente. A política pressupõe a cultura (toda a mensagem política tem que ser transmitida e explicada) e a cultura é um modo de expressão e afirmação da política( um filme, um quadro ou um livro encerram uma mensagem, um determindo modo de ver o mundo e a sociedade, ou seja, uma concepção política, pois não há pessoas neutras, imunes à vida da pólis). E Hollywood nunca foi alheia à vida política norte-americana...