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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

"A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor"

André S. Machado, 09.03.11

 

... já escrevia a pena do Padre António Vieira.

 

A tomada de posse de um Presidente da República é um momento de especial solenidade. A cerimónia está programada ao minuto e há regras de protocolo fundamentais. Alguns dirão que é uma questão de forma, mas a forma e o simbolismo têm o seu valor, especialmente em política. Mesmo que as atitudes não representem qualquer mensagem política, não deixam de demonstrar o nível de consideração que os intervenientes sustentam entre si.

 

Hoje, lamentavelmente, assistimos a uma profunda falta de respeito e consideração pelo Presidente da República. Mário Soares, convidado, não se dignou cumprimentar o Presidente, numa omissão bem representativa de antigos rancores e ressentimentos. Os deputados do Bloco de Esquerda adoptaram a mesma postura, sendo o único grupo parlamentar ausente, numa demonstração clara do respeito que cultivam pelas instituições e pelas escolhas democráticas do povo. A estes juntaram-se muitos deputados do Partido Socialista, num gesto que apenas lhes fica mal, face ao discurso da "cooperação institucional" que tanto gostam de cultivar.

 

No meio de tudo isto, mais uma vez surge José Sócrates como protagonista. Começou por sorrir (apenas uma vez) durante o discurso, logo no momento em que Cavaco Silva se referiu à juventude. Revelador, não? Mas o mais flagrante foi o total desprezo pela sessão de cumprimentos, a que chegou atrasado por ter estado a falar aos jornalistas.

 

Tudo isto vale o que vale: pouco. Cavaco Silva tomou posse e fez um discurso memorável, centrado na realidade substantiva do país e assumindo, desde já, a magistratura activa com que se comprometeu. Com elevação. Com educação. Isso, de facto, é o mais importante.

Há que levar a mal...

André S. Machado, 08.03.11

 

Enquanto toda a Europa trabalha, em Portugal o povo tudo esquece entre os tradicionais festejos do entrudo. Em tempos de crise e contenção, o país pára num dia normal transformado em feriado nacional, que nenhum governo arrisca privar aos portugueses.

 

Entretanto, e no meio da folia que tolhe o país, um coordenador da DREC é demitido por expressar a sua opinião sobre o processo de avaliação de professores; os juros da dívida pública atingem máximos históricos; os Homens da Luta ganham a presença no Festival Eurovisão da Canção; e o movimento "geração à rasca" continua a cruzada anti-política e alguns dos seus membros são expulsos ao pontapé de uma acção de campanha de Sócrates, entre sorrisos e humor infeliz do Primeiro-Ministro. Tudo isto ao som dos bombos e do samba do quente Brasil, em desfiles de gente meio nua pelas ruas das frias cidades portuguesas.

 

O mais grave, porém, é que vivemos num constante Carnaval, durante todo o ano. Todos os dias vemos, lemos e ouvimos mais do mesmo. A única diferença é que a banda sonora não é tão alegre como a que acompanha estes três dias. É caso para dizer que no Carnaval, por vezes, há que levar a mal...

World Press Photo 2010

André S. Machado, 11.02.11

 

Esta fotografia de Jodi Beiber, repórter sul-africano, fez a capa da Time em Agosto de 2010. Retrata Bibi Aisha, afegã de 18 anos, vítima de uma mutilação protagonizada pelo marido que não tolerou o regresso da mulher para junto da família, em fuga dos seus maus tratos.

 

A mim, o que esta foto me diz é que ainda há muito para fazer no que à defesa dos direitos humanos diz respeito. Diz-me que precisamos, de quando em vez, de nos lembrar destas pessoas que, por todo o mundo, são feridas na sua dignidade e concentrar um pouco das nossas atenções nestas realidades. Diz-me que a comunidade internacional está focada, e bem, na recuperação das economias e no combate à crise, mas que há um mundo para além dos números e dos euros / dólares: há um mundo em que os valores civilizacionais mais básicos são esmagados pela intolerância, pelo fundamentalismo, pela violência.

Que bem que vai o debate interno no PS, em vésperas de congresso...

André S. Machado, 31.01.11

 

Almeida Santos, presidente do Partido Socialista: Neste momento, o dr. Carrilho é quase um adversário do PS. (...) Não é bem o exemplo típico do indivíduo que se possa citar como característica da situação interna do partido

 

Palavras do presidente do PS sobre um camarada de partido, à margem da reunião da Comissão Política que marcou o congresso (eleitoral). Resposta a um militante que se limitou a criticar a falta de debate interno no seio do partido. Palavras para quê?

Saturados e desorientados

André S. Machado, 15.11.10

 

Luis Amado, numa entrevista ao Expresso, revela-se saturado de ser Ministro. Hoje, desdobra-se em explicações e desmentidos, acentuando a "motivação" com que está no Governo.

Teixeira dos Santos, numa entrevista ao Financial Times, admite o elevado risco de Portugal ter de recorrer a ajudas externas (entenda-se UE e FMI). Ao longo do dia multiplicaram-se os esclarecimentos.

António Mendonça, no Parlamento, volta a afirmar que as obras do TGV começam no início do próximo ano, quando o contrato ainda não foi visado pelo Tribunal de Contas e quando o grupo criado para avaliar as parcerias público-privadas (resultado das negociações com o PSD, em sede de orçamento) ainda não se pronunciou.

 

Num Governo que começa a ter várias cabeças, o discurso muda de dia para dia, conforme as circunstâncias. É um Governo esgotado que dirige este país. Mais grave que isso, é um Governo de gente saturada e desorientada que não consegue encontrar um caminho para Portugal.

Carácter Online

André S. Machado, 13.11.10

 

Muitas vezes tenho recordado, nos últimos tempos, a célebre frase de Vitor Hugo, quando este dizia que A prudência dos cobardes assemelha-se à luz das velas: ilumina mal, porque treme. Isto porque, recentemente, tenho assistido a infelizes e tristes manifestações de falta de carácter de pessoas que ofendem a honra e o bom nome de outras, atrás do manto cobarde do anonimato, concretamente, em espaços "online" como os blogs ou redes sociais.

 

A resposta que sempre tenho encontrado, porque também eu já fui alvo destas frustradas tentativas de gente cobarde, é o simples e puro desprezo. Dar importância a este tipo de atitudes é alimentar ainda mais a inveja, o ciúme e a falta de carácter destas pessoas, que encontram a sua miserável realização pessoal nestas acções que bem revelam a sua estrutura ética e moral. Na verdade, cada ofensa visa, apenas e só, diminuir alguém na sua honra, mas resulta, em verdade, na diminuição da própria dignidade de quem ofende. O ataque sob a capa do anonimato diz mais do que insulta, do que daquele que é insultado.

 

Mas o véu do anonimato, atrás do qual se escondem os cobardes, não é eterno. Calculo que seja muito difícil descobrir o autor de um blog anónimo ou o dinamizador de um perfil anónimo numa qualquer rede social, mas chega sempre o dia em que o nome surge. Surge naturalmente porque a cobardia não é um defeito, que possa ser corrigido: a cobardia é um traço de carácter que, mais cedo ou mais tarde, se torna claro para todos. Por isso sei que todos os dias é possível que aperte a mão a um destes tipos sem escrúpulos, mas conforta-me a convicção de que chegará o dia, e nunca é assim tão tardio, em que o véu cai e o cobarde sentirá as pernas tremer, porque terá de responder por aquilo que diz ou escreve, cara a cara, esse momento que tanto receia.

 

Desilude-me profundamente ver amigos envolvidos nestas situações tão desagradáveis. Desilude-me, sobretudo, porque vêem-se envolvidos por uma única razão: assumir frontalmente as suas posições. Custa-me, ainda, saber que se multiplicam os cobardes em instituições que não merecem ver o seu nome manchado com as atitudes desta gente.

Resta-me o confortável sentimento de saber que todos os dias estou ao lado do exacto oposto daquilo que critico nestas linhas. Escrevo no Psico, em que todos assinamos e assumimos as visões que defendemos; e trabalho, diáriamente, com quem dá a cara por aquilo em que acredita. Essa é a luz das convicções, é a luz que não treme.

"I really like the UK"

André S. Machado, 03.11.10

 

 

Foi a frase do dia, de António Horta Osório, 46 anos, pai de três filhos, português. Nomeado, hoje, presidente executivo do Lloyd´s Bank, o mais importante banco do Reino Unido (detido em 40% pelo Governo). Assumirá funções em Março de 2011, abandonando a unidade do Santander no Reino Unido, que liderava desde 2006. Uma carreira de excelência que nos deve honrar, enquanto portugueses.

 

Cada vez mais encontramos nomes de portugueses em lugares de destaque no panorama internacional. Portugueses de mérito mais que reconhecido e que elevam o nome de Portugal por esse Mundo fora. Por isso, esta alegria de ver compatriotas nossos a vingar além fronteiras não deixa de contrastar com uma profunda desilusão: a de saber que temos os melhores entre nós, mas o país não consegue sair do abismo em que se vê mergulhado e, mais grave que isso, não tem nos seus líderes a fibra e a raça destes que tanto nos orgulham.

Quando não se tem nada para dizer...

André S. Machado, 25.08.10

 

... o melhor é estar calado. Foi o que sempre me disseram.

 

O Ministro da Defesa, o nosso conhecido Augusto Santos Silva, anunciou nesta entrevista o envio de células de informações militares para o Líbano e Afeganistão. O que o Sr. Ministro que gosta de "malhar na Direita" parece não saber é que este tipo de missões, secretas pela sua natureza, não se anuncia.

 

Santos Silva pôs em causa, de forma clara, a confidencialidade do Estado Português, colocando a vida dos militares portugueses destacados nestes teatros de operações, em risco. Numa situação deste género não se exige outra coisa senão a sensibilidade e humildade políticas de reconhecer neste episódio um erro (muito) grave e retirar as devidas consequências. No caso deste Ministro em concreto, que tantas vezes prefere vestir a pele de Augusto, o Malhador, a demissão parece ser o óbvio.

O (pobre) Estado da Nação

André S. Machado, 15.07.10

 

O desemprego está a descer, a economia está a crescer, as reformas estão a dar resultados, tudo vai bem desde a educação até às finanças públicas. Isto é o Portugal de Sócrates, que hoje falou aos portugueses como o Primeiro-Ministro de um país sem problemas e no caminho do crescimento e do desenvolvimento.

Com números, estatísticas e projecções usou da sua notável (há que admitir) capacidade de argumentação e retórica para se destacar como o político do optimismo e da confiança, contra o "glamour do pessimismo". Mas não são longos e bonitos discursos, floreados com números e estudos comparatísticos, que trazem mais confiança aos portugueses. Antes são necessários resultados, que não se fiquem por abstractas percentagens, mas que se substanciem em algo de material na vida quotidiana de todos nós; Antes são necessários compromissos, que garantam estabilidade à vida dos portugueses; Antes é necessária sensibilidade social e política, para melhor legislar e governar.

 

A verdade é que a taxa de retenção e abandono escolar diminuiu nos últimos anos, é certo, mas continuamos a estar muito aquém da média europeia (o dobro) e o Governo quer encerrar ainda mais escolas e continuar na senda do conflito com professores, pais e alunos. A verdade é que a taxa de mortalidade infantil diminuiu nos últimos anos e que a esperança média de vida dos portugueses tem vindo a aumentar, mas o Governo continua a atacar o interior do país, encerrando centros de saúde e retirando cuidados médicos às populações mais envelhecidas. A verdade é que o número de licenciados continua a aumentar, mas o Governo pretende afastar um conjunto significativo de pessoas do Ensino Superior, diminuindo nos apoios sociais aos mais necessitados e dando um duro golpe na igualdade de oportunidades no acesso à formação académica. A verdade é que Portugal é um país relativamente seguro, mas o Governo corta no investimento nas forças de segurança, num período em que aumenta a criminalidade violenta e organizada. No fundo, há indicadores positivos para quase tudo e o jogo dos números ajuda à retórica, mas não basta puxar desses galões: é preciso conhecer o país e, mais importante, sentir o país.

 

No meio de tudo isto vemos um Primeiro-Ministro preocupado com crises políticas e com a sua manutenção no poder, numa altura em que até ele próprio sente que os portugueses já não se revêem nele e no seu governo. Mais que isso, vemos um Primeiro-Ministro elevar o "optimismo" como palavra de ordem, quando ele próprio sente que o país não está optimista, não está confiante e está longe de estar motivado. Na verdade, vemos um Primeiro-Ministro incapaz de "puxar pelas energias do país", quando ele próprio sente que é o país que não o quer a puxar por ele.

Um bocadinho mais de respeito

André S. Machado, 08.06.10
 
 
 
A Ordem dos Advogados impõe um exame nacional de acesso ao estágio: Inconstitucional.
O Governo pretende que o aumento dos impostos tenha efeitos retroactivos: Inconstitucional.
A Ministra da Educação pretende que alunos com mais de 15 anos possam passar do 8º para o 10º ano, se passarem nos exames do 9º ano: Inconstitucional.
Se quisermos ser polémicos, até podemos considerar que certos casamentos celebrados em Portugal podem ser inconstitucionais.
 
 
 
A Constituição de um Estado é o pilar estrutural da sua identidade jurídico-política; é o reduto dos princípios fundamentais do ordenamento jurídico e do sistema político, económico e social; é o vaso de boa parte da identidade nacional, enquanto lei fundamental do Estado. Neste sentido, a Constituição é mais que um simples documento: a Constituição assume-se como o grande monumento jurídico do Estado, na qualidade de depositária do código genético do poder e da soberania nacionais.
Portugal tem uma Constituição. Se é boa ou má não sei. O que eu sei é que foi aprovada e sucessivamente revista pelos legítimos representantas do povo português, segundo rígidas regras de aprovação e revisão. E se é certo que chega o momento de uma revisão mais profunda, por força dos tempos; também é certo que enquanto vigorar, a presente Constituição da República Portuguesa merece o respeito que a sua solenidade e relevância política impõe.
 
 
Hoje, são os próprios órgãos do poder político que ignoram a Constituição. Não deixa de ser paradoxal que sejam aqueles que juram defender a Constituição, os que mais a violam e colocam em causa. É uma autêntica falta de respeito pela mais importante das Leis e um espírito de total indiferença a esta que reina, neste país. Isto é inadmissível, num Estado de Direito cujo fundamento último reside na Constituição da República.
Por isso é importante rever a Constituição: Não para a adaptar aquilo que hoje a viola, o que subverteria um pouco o sistema; mas para mobilizar os portugueses na construção da Lei que de forma mais solene garante os seus direitos fundamentais. E mais do que isso: para que os portugueses se identifiquem mais com a sua Lei fundamental e estejam cientes dos mecanismos de que dispõem para a defesa dos seus direitos, quando estes são postos em causa, em situações como as que em cima pude enumerar e que, infelizmente, são apenas alguns exemplos dos atropelos que foram sendo feitos, ao longo dos anos.