Pão para a boca...
Nas últimas semanas enquanto em Portugal se foi noticiando mais um aumento do preço do pão ou a escassez temporária de açúcar, na imprensa internacional têm aparecido amiúde artigos sobre o aumento do preço das matérias-primas.
Este aumento é quase sempre justificado pela especulação bolsista mas a questão é, quanto a mim, mais séria e abrangente para que nos possamos satisfazer com tão simples argumento.
Com uma procura a crescer a uma média de 2-3% ao ano são três as categorias de factores que tornam volátil a oferta de matérias-primas como o trigo, o arroz, o açúcar ou o óleo de palma.
A produção para alimentar o mercado de biocarburantes, que disparou com o aumento do preço do petróleo, preocupações ambientais e incentivos fiscais para aqueles que privilegiam a sua utilização.
A transformação de áreas agrícolas em áreas urbanas.
Os incidentes climáticos: seca na Rússia ou cheias na Austrália são exemplos levam alguns a afirmar que momentaneamente os Estados Unidos, a Franca e a Argentina são os únicos países capazes de fornecer trigo ao planeta.
Ainda, segundo a FAO em 2050 existirão mais 50% de bocas para alimentar o que coloca uma pressão ainda maior numa oferta já volátil.
Ora, eu pergunto,
Será admissível que a cada época de sementeiras se “prometa” aos agricultores um preço a pagar por quilo de cereal e na altura das colheitas o preço efectivamente pago seja bem inferior, não raras vezes apenas suficiente para cobrir custos de produção?
Não terá Portugal aqui uma oportunidade para revitalizar a sua agricultura? Torna-la moderna e rentável?
Numa altura em que se discute a reforma da PAC porque é que não se debate seriamente em Portugal o futuro da Agricultura?
Porque é que um País, que só perde em negar o seu mundo rural, se permitiu transformar um importador líquido de matérias-primas e produtos alimentares?