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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Pão para a boca...

Elsa Picão, 18.01.11

 

Nas últimas semanas enquanto em Portugal se foi noticiando mais um aumento do preço do pão ou a escassez temporária de açúcar, na imprensa internacional têm aparecido amiúde artigos sobre o aumento do preço das matérias-primas.

 

Este aumento é quase sempre justificado pela especulação bolsista mas a questão é, quanto a mim, mais séria e abrangente para que nos possamos satisfazer com tão simples argumento.

 

Com uma procura a crescer a uma média de 2-3% ao ano são três as categorias de factores que tornam volátil a oferta de matérias-primas como o trigo, o arroz, o açúcar ou o óleo de palma.

 

A produção para alimentar o mercado de biocarburantes, que disparou com o aumento do preço do petróleo, preocupações ambientais e incentivos fiscais para aqueles que privilegiam a sua utilização.

 

A transformação de áreas agrícolas em áreas urbanas.

 

Os incidentes climáticos: seca na Rússia ou cheias na Austrália são exemplos levam alguns a afirmar que momentaneamente os Estados Unidos, a Franca e a Argentina são os únicos países capazes de fornecer trigo ao planeta.

Ainda, segundo a FAO em 2050 existirão mais 50% de bocas para alimentar o que coloca uma pressão ainda maior numa oferta já volátil.

 

Ora, eu pergunto,

 

Será admissível que a cada época de sementeiras se “prometa” aos agricultores um preço a pagar por quilo de cereal e na altura das colheitas o preço efectivamente pago seja bem inferior, não raras vezes apenas suficiente para cobrir custos de produção?

 

Não terá Portugal aqui uma oportunidade para revitalizar a sua agricultura? Torna-la moderna e rentável?

 

Numa altura em que se discute a reforma da PAC porque é que não se debate seriamente em Portugal o futuro da Agricultura?

 

Porque é que um País, que só perde em negar o seu mundo rural, se permitiu transformar um importador líquido de matérias-primas e produtos alimentares?

 

Agricultura? Sim, agricultura...

Rui Cepeda, 27.02.10

 

 Para facilitar, entenda-se por agricultura todo o sector agro-pecuário e agro-industria.

 

A agricultura é uma actividade económica frequentemente envolta em polémica. Não me recordo do último ministro da agricultura considerado bom! Não temos politica agrícola, ou temos uma má... No debate político, é um tema tabu ou prontamente considerado demagógico! Parece que ainda não recuperamos do trauma do Estado Novo e a sua "aposta" na ruralidade. A discussão geralmente fica limitada a chavões e ideias pré-consebidas, muitas delas falsas... O erro mais comum é a generalização!

É frequente dizer que a agricultura não é competitiva, de facto alguns sector são mais competitivos que outros, como em qualquer área da economia....

Dos habituais chavões aproveito dois:

"As nossas unidades produtivas não tem escala para competir com outros países" Um bom exemplo é a produção de leite, uma das zonas que mais produz leite de vaca na Europa é o norte de França, com explorações familiares com cerca de 50 animais, como nos também temos...

"Os países desenvolvidos negligenciam a agricultura" O que dizer então dos Estados Unidos, França, Holanda ou até mesmo a Dinamarca, o maior exportador mundial de carne de suíno?

 

A atribuição de 200 milhões de euros para uma fabrica de baterias para automóveis, que cria 200 postos de trabalho é aplaudida, mas qualquer cêntimo gasto em subsidio para a agricultura parece excessivo. Sem dúvida que existiram e existirão subsídios para a agricultura mal aproveitados, como em qualquer outro sector da economia, mas isso não deve ser um argumento para barrar investimento ou apoios ao sector! E a solução passa por maior fiscalização, exigir mais rigor e ser mais criterioso.

 

Os apoios podem deixar de ser directos aos produtores e existirem na forma de técnicos qualificados para prestar apoio á produção, na criação de pontos logísticos, na disponibilização de material genético para melhoramento, na promoção das marcas, no apoio á erradicação de doenças, etc...

 

Quando se fala bastante em Portugal se ter transformado num país de serviços, com as consequências bem visíveis em termos de divida externa, faz todo o sentido a aposta no sector primário, que garante a produção e no sector secundário, que ao fazer a transformação dos produtos introduz-lhes valor acrescentado. Vamos fazer um choque tecnológico na agricultura, promover técnicas mais eficazes, melhorar os processos de transformação... Provavelmente vamos aumentar as exportações e diminuir as importação nos produtos que conseguimos ser competitivos, e serão uns quantos! 

A agricultura é uma poderosa arma para fixar população e criar riqueza no meio rural, conforme União Europeia reconhece e que nos tanto necessitamos.

 

O tema é muito extenso e não quero abusar da paciência dos nossos estimados leitores... Não tenho a veleidade de possuir capacidades messiânicas, apontar soluções milagrosas, nem mesmo de ser um perito no sector, se conseguir contribuir para que se debata este assunto, dou-me por satisfeito!