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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Roleta Americana

Estará o Tio Sam em Apuros?

Daniel Seco Aragão, 25.10.20

   

     No dia 3 de novembro, assistiremos a um verdadeiro espetáculo, celebrando um interessante conceito grego, a democracia. Os Estados Unidos da América são um país no qual coexistem realidades muito distintas e, por vezes, inconciliáveis. Em 2016, contra as perspetivas anteriormente dadas pelas sondagens, Donald J. Trump ganhou as eleições presidenciais, obtendo a maioria dos membros do Colégio Eleitoral, apesar de ter conseguido menos votos, no total.
    O ano de 2020 tem-se revelado muito interessante, digno de um agradável filme de ficção científica, drama, ação, ou falta dela. As eleições presidenciais norte-americanas não podiam de deixar de ser igualmente circenses, com uma disputa entre dois avozinhos. O que acontecerá?
     Nestas eleições, o candidato do partido democrata é Joe Biden, e o do partido republicano é o atual presidente do país, Donald J. Trump. O primeiro, diria, político de carreira, Vice-Presidente de Barack Obama, é um candidato que se posiciona mais ao centro a nível ideológico, enquanto que o segundo, polémico empresário, assume uma postura conservadora e até ultraconservadora.
     Em dezembro de 2019, o mundo começou a virar as suas atenções para uma cidade chinesa, Wuhan, até à data pouco conhecida. Enquanto que os cidadãos, formigas num jogo de gigantes, iam tomando o seu dia a dia, de forma normal, os governos, a nível mundial, começaram a receber informação sobre um novo e perigoso vírus.
     Com um vertiginoso escalar, em março, um mundo despreparado e inseguro ficou obrigado a conviver, semanas a fio, apenas com os membros do respetivo agregado familiar. A humanidade quase que parou, pelo que também parou a economia, mas o desemprego, irrequieto indicador, subiu em flecha.
   Nos Estados Unidos, portanto, foi quebrada uma importante condição vital à reeleição, a segurança e pujança da economia. A sua postura ziguezagueante, por vezes tola e irresponsável, primeiro ignorando o perigo e elogiando o governo chinês, desprezando e adiando qualquer decisão que permitisse controlar o vírus de forma eficaz, foram erros crassos. Também a forma um pouco humorística que teve, gozando com os responsáveis de saúde e dando conselhos, por vezes mortais não abonaram nada em seu favor. Quando não se sabe do que fala, mais vale estar calado.        Este pandemónio colocou a descoberto as fragilidades do sistema de saúde norte-americano, visto que, no desemprego em que milhões se vieram a encontrar, deixaram de ter seguros de saúde, antes associados aos seus contratos de trabalho.
      Todos estes pecados eleitorais, levaram a que um bastante provável vencedor passasse a estar bastante próximo da excomunhão presidencial. De repente, o cenário político inverte-se de forma abissal, a nível das sondagens nacionais, o democrata, atualmente, tem cifrado a sua superioridade em 9%, em média. É certo que os democratas, com grande força em Estados muito populosos, como a Califórnia, têm tendência a ganhar o voto popular, o que não implica uma vitória eleitoral, como referi, mas este valor é claramente expressivo. Passaram a entrar na classificação de swing states bastiões vermelhos, como o Arizona. Este grupo de estados passou a ser composto, no meu entender, por 13 estados, que, ao todo, agregam 164 votos no Colégio Eleitoral.
   Atualmente, as sondagens dão uma vitória na maioria destes Estados a Joe Biden, com vantagens, por vezes claras, do ponto de vista estatístico. O cenário, neste momento, é o da vitória democrata, apesar de que probabilidades não passam disso mesmo e que tudo pode mudar.
     Mas atenção, no meu entender, Donald Trump tem nas suas mãos o destino desta eleição. Ele tem uma capacidade para mobilizar massas de forma assustadora, seja por apoiantes ou por pessoas que não o apreciem particularmente. É importante ter em mente que este era um candidato que derrubou verdadeiros profissionais políticos do partido republicano e que se tornou a sua imagem. Conseguiu criar uma sociedade de ódio entre perspetivas políticas diferentes, polarizando o teatro político de forma brutal.
    Num mês de outubro já em chamas, com a questão da aceitação ou não dos resultados eleitorais, por exemplo, o contágio presidencial pode muito bem iniciar a lista de surpresas já características desta reta final. Que últimos truques terão os jogadores na manga? Que mais escândalos ecoarão pelo mundo? Quão mais será dilacerada a sociedade americana? E a magistral pergunta: quem será o imperador da civilização ocidental nos próximos quatro anos?
     Enfim, por vezes pode parecer que tudo isto não passa de uma querela entre dois idosos, num lar, mas aqui a gerontologia nada consegue fazer. Talvez a psiquiatria fosse o melhor remédio.