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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Politicamente Correcto - doença (crónica) Portuguesa

Miguel Nunes Silva, 10.02.14

Em Portugal é proibido questionar convenções. Quem o faz é imediatamente ostracizado. Se algo ameaça a postura convencional, então é porque é extremista, ou marginal, ou pior.

 

Exemplo: em país católico/socialista (frequentemente os dois vão de mão dada) quem põe em causa que o Estado deve sustentar todos os cidadãos e distribuir benesses até mais não, é alguém que é extremista/neoliberal/insensível. Que nunca ocorra a nenhuma cabecinha que quem vem a público dizer que não há dinheiro para tudo, esteja apenas a constatar a realidade e a chamar governantes e sociedade, à responsabilidade; quais insensíveis, violadores dos valores de Abril, ladrões que de conluio com o 'grande capital' põem o país a saque...

 

Daí que pessoalmente, eu ache vergonhosamente cobarde, que a extrema-esquerda use todos os insultos e mais alguns para atacar a direita no que toca a políticas económicas. Nunca poderia a direita sequer sonhar em chamar as barbaridades à esquerda, de que é chamada por esta. Mas como as Anas Drago e Jerónimos de Sousa estão perfeitamente cientes de que o politicamente correcto e a convenção estão do seu lado - o lado do povo, estão a ver? - nem sequer hesitam em chamar a governantes legítimos 'ladrões', ou de tentar insinuar corrupção e fraude - nunca pagando, claro está, quando se prova estarem errados.

 

Assim, não é de surpreender que - talvez em Portugal mais do que em qualquer outro país - os génios sejam todos póstumos. É biografia recorrente aquela que acaba por concluir que, em vida, a excelsa pessoa nunca foi compreendida ou admirada. Foi preciso morrer na miséria e na amargura para postumamente lhe reconhecerem o devido valor.

 

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Faço esta introdução antes de me lançar no tema: o resultado do recente referendo na Suíça, que foi discutido hoje, no programa 'Opinião Pública' da SIC Notícias.
Eu compreendo quem queira defender a União Europeia e eu próprio não me considero propriamente eurocéptico mas não me conformo com a falta de pensamento crítico ou tolerância de quem o faz. Como já tive oportunidade de escrever, em Portugal o europeísmo é cânone, é dogma, não é juízo lúcido.

A coisa começa logo enviesada: no próprio site da SIC Notícias, a abordagem ao assunto é o ABC de como não fazer jornalismo (eu não me licenciei em Jornalismo mas estudei Sociologia da Informação. Os jornalistas da SICN também?...).

Supostamente o programa tem como objectivo debater temáticas. Para tal tem que dar espaço a opiniões divergentes. Mas veja-se a própria sinopse: 

 

"Queremos saber o que pensa do restabelecimento de quotas para os cidadãos europeus que queiram imigrar para a confederação helvética? "

 

Até aqui tudo bem - salvo a confusão entre afirmação e interrogação - pois estão apenas a solicitar pontos de vista de forma neutral.

 

"Que razões terão levado 50,3 % dos suíços a votarem sim, numa altura em que o desemprego é de apenas de 3,2%

e os empresários dizem que o atual sistema de angariação de mão-de-obra estrangeira beneficia a economia? 
E que reação deverá ter agora a União Europeia,

uma vez que os resultados do referendo vêm pôr em causa os acordos de livre circulação de pessoas e de participação no mercado interno?"

 

Pois é, que tolinhos estes Suíços :D que curioso que tenham sido tão palerminhas...
Ou seja, a coisa descamba completamente. A enunciação é tão claramente parcial que chega a estar perto da desinformação. Um enunciado neutral seria algo que questionasse a decisão dos Suíços e depois desse um argumento a favor da decisão e outro contra. Do género: tendo em conta X esta foi uma boa decisão mas considerando Y não será contra-producente a prazo?

Isto é aliás aquilo que é normalmente feito para espicaçar o debate e pôr as pessoas a falar. Mas não. Aquilo que aqui é feito é 'guiar' o telespectador/internauta: em primeiro lugar solicita-se a opinião mas seguidamente bombardeia-se o leitor com 3 argumentos sucedâneos que fazem a decisão dos Suíços parecer absurda.

 

Pois bem, quem está a ver tem depois o prazer de assistir ao comentário do convidado Miguel Gaspar, Director-Adjunto do Público. Surpresa das surpresas, Miguel Gaspar - como bom intelectual tuga - está ele próprio surpreendido com o resultado!... - ó porque será? - Gaspar interroga-se porque terão os Suíços votado em lei tão irracional e apenas consegue concluir que foi um voto 'emocional'.

 

Estes paladinos da democracia são fabulosos: quando o voto é a seu favor 'o povo é quem mais ordena', quando é contra 'ai coitadinhos, foram iludidos'...

Mas esta cobertura não é exclusiva dos media Portugueses. A Universidade Britânica LSE, conhecida pelas suas simpatias esquerdistas e ultra-europeístas, fazia o mesmo argumento hoje de manhã: se votaram mal, não é porque os Suíços sejam de extrema-direita (já tinham assim classificado o referendo de antemão, de maneira que agora convinha distinguir o partido dos votantes, para não parecer mal) mas sim porque o SVP é muito esperto e é muito bom no marketing........

Mas a cereja no bolo foi quando os telespectadores começaram a telefonar e - ironia das ironias - alguns deles emigrantes Portugueses na Suiça, rapidamente acusam o comentador (Miguel Gaspar) se não fazer ideia do que fala pois a crescente criminalidade e as condições difíceis de empregabilidade amplamente justificam, na opinião deles, a imposição de quotas de imigração.
Ou seja, depois de semanas de cobertura que apelidava a iniciativa de extremista, populista, eurocéptica, com pressão da parte de Bruxelas para que o 'Sim' perdesse, e ainda fazendo passar a imagem de iniciativa danosa para os interesses dos Portugueses que queriam emigrar, vêm depois os Portugueses já na Suíça dar uma visão de perfeita razoabilidade e ainda por cima quebrar a ilusão de que a comunidade Portuguesa é uniforme.

 

Sim, a Suiça não vai ter tantos trabalhadores disponíveis mas agora que quotas são impostas, a via fica aberta para seleccionar aqueles que realmente têm boas hipóteses de ser empregues.

Sim, a iniciativa põe em causa acordos com a UE mas a UE não é a suprema autoridade daquilo que é moral e razoável na Europa. Uma vez que a UE também não ouviu os Suíços quando decidiu abranger a Roménia e a Bulgária com o espaço Schengen, porque não seria aceitável que os Suíços quisessem rever os acordos com a UE - mesmo que seja apenas para negociar meia-dúzia de cláusulas? Será que é eurocéptico discordar da UE ou ter interesses divergentes?

Porque não é concebível para os paladinos do multiculturalismo, que os motins e a violência urbana em Paris, Bruxelas, Roterdão, Londres, Malmo, etc são consequências directas de políticas de acolhimento que se provou deixarem muito a desejar em eficácia?

E sobretudo, porque não é concebível para os jornalistas Portugueses, algo tão simples como a possibilidade de os Suíços estarem a aprender com os maus exemplos de estados-membro da UE?

Não exijo que a cobertura seja favorável ou desfavorável, exijo sim que a cobertura seja imparcial e informada. Mas suponho que é exigir demais de um país que preguiçosamente confia no convencional para a rotina informativa.

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