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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Milagre! A Justiça passa a ver quem julga

Rui Pinto Reis, 23.04.21

Desalforjámos palavrões, gritámos obscenidades e, no fim daquele fatídico e triste espectáculo apresentado por Ivo Rosa, soluçámos entre sons de um choro constante e copioso. Aquele bolsado em directo, mediatizado para todo um país, prendeu-nos às cadeiras. As televisões, com o seu dom de nos abraçar, agarraram-nos à sua frente enquanto nos enojavam e, no fim, uma amálgama de indignação, tristeza e desalento invadiram um país com dúvidas, sem perceber se deveria desconfiar do juiz ou da lei.

 

É kafkiano acreditar que um cidadão tenha sido acusado pelo ministério público sem fundamento. Pior, é aceitar que deve ser tratado de forma diferente pelo facto de ser uma figura pública com responsabilidades no nosso país.

 

Sobre a questão do Senhor Pinto de Sousa, não posso tecer comentários porque, além de não ser jurista, confio na justiça. Mas, enquanto cidadão, não posso deixar de observar a discrepância de julgamento que as pessoas têm feito, mediante a sua clubite partidária, relativamente aos casos que nos vão aparecendo com o passar dos dias.

 

Rui Rio, que a 12 de Abril disse que o resultado da Operação Marquês "é a justiça a não funcionar” e afirmou que "o país vive na impunidade, pelo menos para os mais poderosos”, permitiu que, a 21 de Abril - do mesmo ano -, a sua Comissão Política Permanente lançasse um manto de suspeição sobre o Conselho de Jurisdição do PSD, dizendo que o processo disciplinar que o CJ admite levantar ao líder do partido é um processo político. 

 

Não querendo, obviamente, comparar a gravidade das irregularidades apontadas a um e os crimes imputados a outro, não deixa de ser hipócrita e irónico que, em apenas nove dias, as opiniões oscilem tanto quanto os corpos gelatinosos permitem. Além do desprezo pelas regras e pela denúncia do militante que decidiu queixar-se da conduta do líder do partido, existe uma enorme sobranceria da CPN ao querer imputar as culpas do processo a quem se limitou a julgá-lo. 

 

Uns cometem a infracção. Outros queixam-se. A culpa é de quem julga os factos. 

Estultice, dirá o leitor. Antes fosse! Mas na realidade, é dissimulação, imposturice e sonsice. O que têm estes substantivos em comum e em contrário ao anterior? São cometidos com propósito e conscientemente. 

 

Sem respeito pelas instituições e sem o mínimo de pudor de lançar lama para cima dos que não são alinhados com o poder, muitas vezes, em exclusivo por serem seres pensantes e livres, sem necessidade de comer na mão do dono, há, de tempos a tempos, tentativas de homicídio de carácter que vamos permitindo. Agora não! O silêncio cúmplice não faz de nós melhores do que os culpados, só nos torna tão ou mais covardes que eles e por isso mesmo, temos a obrigação de, por vezes, sair em defesa do carrasco sob pena de um dia, que não estará para longe, deixar de haver quem queira cumprir a justiça com receio do julgamento popular.

 

Sou amigo do Paulo Colaço há anos suficientes para saber que ele não precisa de mim para o defender e que, provavelmente, se pudesse, não permitiria que eu saísse em defesa dele. Mas, Paulo, nestes casos, quem tem de ser cego é a justiça. Nós não.

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