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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Game of Egos

Daniel Seco Aragão, 23.01.21

                Um ditador sempre acha que o seu império imaginário é mais puro e mais forte do que um diamante. Mas, ao esbarrar na democracia, como a espuma das ondas nas rochas, a ilusão acaba por se dissipar, por vezes, de um modo estrondoso ou, pelo menos, vergonhoso.

                A fórmula é sempre a mesma: polarizar e dividir para reinar. E é esta estratégia que a uns irrita e, a outros, deleita. Mas uma coisa é certa, não se deve combater o fogo do ódio com a gasolina da sua reciprocidade. É a clareza cristalina dos factos, da paciência e tolerância que pode e deve desvanecer a neblina que promete e estimula o sebastianismo e o egocentrismo.

                Porque será que estas palavras, agora que as escrevi, me parecem ser descritivas de múltiplas realidades atuais? Que dolorosa ironia.

                Nos últimos meses tenho tentado observar de forma mais atenta o musical americano, não da Broadway, mas da famosa Casa Branca. E que belo espetáculo. O melhor é ter uma característica que apaixona os corações lusos: é gratuito.

                Por muito que a imprensa seja tendenciosa, tenho de admitir. Aquele espetáculo tem sido a melhor novela possível. Por vezes digno de um autêntico circo. Nem tenho palavras para descrever tal ato na democracia norte-americana.

                A coroa do populismo, ostensiva para o imperador, revela-se espinhosa para uma República e suas instituições. A última, esperemos, cereja no topo do bolo foi a invasão do Capitólio que recentemente assistimos. Esta é a segunda vez que a casa da democracia norte-americana foi assaltada. A primeira foi feita pelos ingleses em 1814. Curiosamente, não me admiraria que estes últimos o tenham feito um pouco mais bem vestidos. Sem chifres, pelo menos, visíveis.

                Os indivíduos que tentaram tomar de assalto o Capitólio representam uma consequência de uma política e postura infantil e autoritária. Foram movidos pela mentira e desespero de um homem. Irónico que seja a nação que mais despende em defesa, tenha sido alvo de uma insurreição interna. 

                Após perder as eleições, colocou em tribunal uma série de ações e pediu várias recontagens. Algo que estava dentro do seu direito. Perdeu caso após caso, recontagem após recontagem e mesmo assim a criança ainda acha que pode ficar com aquele que vê como o seu brinquedo: o poder. Assim, nestes últimos meses tem afirmado que as eleições foram fraudulentas quando juízes que ele próprio nomeou e membros do seu próprio partido envolvidos nas eleições o desmentem.

                Trump perdeu. Perdeu as eleições. Fiquei feliz por ver a atitude democrática que alguns dos mais distintos republicanos mostraram ao defender a vitória de Biden. Tê-lo-ão feito porque, possivelmente, ao contrário do atual presidente, não acham que a democracia é uma pastilha que se pode deitar fora quando acaba o sabor.

                Como terminarão estes dias da família Trump na Casa Branca? Uma coisa é certa. Vale sempre a pena ter um pacote de pipocas por perto. Nesta novela tudo é imprevisível, mas esta personagem laranja não precisa só de sal ou noção, mas um pouco de humildade. A democracia não é um jogo de egos.

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