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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Quando o medo vai às urnas

Rui C Pinto, 01.05.11

 

Vive-se hoje, em Portugal, um caldo social preocupante, denso e pouco transparente no plano político, volúvel e pouco firme no plano democrático. As eleições de 2011 arriscam-se a reeditar a eleição de uma Assembléia da República que torna difícil a governação do país e a sua absoluta necessidade de estabilidade e condições de governabilidade. Esta reedição acontece por vários motivos: o primeiro é a demissão dos portugueses da responsabilidade sobre a situação a que chegou o país, sobretudo a responsabilidade pelas escolhas que fez nas últimas eleições; o segundo é o receio da perda do guarda-chuva do Estado. 

 

 

Durante 37 anos, após o 25 de Abril, criou-se por oposição ao antigo regime um estado que protegia aqueles que o anterior desprotegia. Porém, construiu-se esse Estado à semelhança do anterior. Assim, durante 37 anos construiu-se um Estado de que uma esmagadora maioria é beneficiária, seja pelo próprio emprego, seja pela segurança social, seja pelas prestações de cuidados de saúde, seja pela educação. Criou-se um Estado de que todos são beneficiários de alguma forma e que leva a que todos o protejam das reformas de que carece. Criou-se assim um caldo em Portugal que arrisca sobremaneira a liberdade que consquistámos em 74. 

 

José Sócrates, como em 2009, arrisca-se ganhar as eleições legislativas fazendo apenas o discurso de protecção do status-quo. Este discurso não é mais que populista e menos que perigoso: adiar a realidade da situação económica e financeira do país. Diabolizar a ajuda externa (que ele mesmo pediu, consciente de que esta é essencial à viabilidade económica do país) é absolutamente irresponsável na medida em que extrema as posições à sua esquerda. O discurso de hoje de Carvalho da Silva, na Alameda, por ocasião das celebrações do 1º de Maio foi de um ataque reaccionário à Europa e às suas instituições. Acusou a Europa de usurpação da nossa soberania e de neo-colonização relembrando os 3D's do MFA e garantindo que a troika ameaça a Democracia. 

 

Sócrates promete manter tudo como está. Ele é o defensor do Estado Social, ele é o defensor do Serviço Nacional de Saúde, ele é o defensor da Escola Pública. Sócrates promete lutar pelas reformas e pelo subsídio de desemprego, contra aqueles que querem acabar com o Estado Social. E aqueles que querem acabar com ele são aqueles que falam da necessidade de reformas para o tornar sustentável. 

O Estado, construído desde o 25 de Abril de 74, é hoje protecção de uma grande maioria de portugueses. De fora estão jovens que não conseguem emprego; idosos que lutam pela sobrevivência com reformas miseráveis; de fora estão aqueles que não têm lugar no protectorado estatal. Neste momento o Estado é governado para manter regalias e a protecção de alguns. O Estado deixou, há muito, de ser o garante das liberdades de todos para garante das regalias de alguns. 

 

Em Portugal são hoje aceites discursos populistas que apelem à protecção do Estado, que defendam o Estado da sua necessária reforma. Enquanto isso, confunde-se Estado com José Sócrates, e esquecem-se seis anos de irresponsabilidade política e de ataque à sustentabilidade económica do Estado Português. Esta realidade política é densa e é assustadora, na medida em que não permite vislumbrar saídas com discursos consequentes e realistas. A mensagem do eleitorado é clara: para se ganharem eleições em Portugal é preciso garantir a protecção daqueles que vivem sob a protecção estatal. E esse Estado será alimentado pelo sacrifício de todos, sobretudo pelo sacríficio do futuro dos jovens e da qualidade de vida dos idosos.

 

O Estado condiciona e muito, hoje, a democracia em Portugal. O futuro, hoje, não é claro. 

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