Folheando um dos jornais da terra, deparei-me com esta carta que é reveladora do desrespeito permanente da Sra. Ministra da Educação para com os professores.
"Como é do conhecimento geral, o Ministério dividiu a carreira dos professores em duas, sendo uns, poucos, professores titulares e os restantes, a grande maioria, simplesmente tratados por professores!
Feita esta divisão no papel, havia que organizar o concurso para que os professores do último escalão progredissem para professores titulares. Então como funciona esse concurso para professor titular? Pela Internet, os professores enviam os formulários onde registam os passos das suas carreiras, os seus cargos e os seus desempenhos a diferentes níveis. Mas aqui começa a grande embrulhada. E tudo isto porque o Ministério pretende fazer uma análise curricular de uma carreira... somente pelos últimos sete, repito, sete anos! Ou seja, só conta, diz-nos tão pedagógica figura, o que fizeste nos últimos sete anos. A nossa carreira vale apenas isso...sete anos!
Tenho 28 anos de serviço, onde fui tudo o que se pode ser numa escola. Enumero algumas para que a vergonha possa cobrir a cara de quem manda: fui presidente do Conselho Directivo durante seis ou sete anos, presidente do Conselho Pedagógico, presidente do Conselho Administrativo, coordenador dos directores de turma, director de turma, delegado de disciplina, acompanhante da prática pedagógica, exerci, durante dez anos, funções docentes como Leitor de Língua e Cultura Portuguesas, do Instituto Camões, nas Universidades de Portsmouth e de Estocolmo, escrevi manuais didácticos, fiz investigação na área das Aprendizagens e das Novas Tecnologias, apresentei bastantes comunicações em conferências internacionais, fiz várias actualizações em diversos domínios, tirei uma pós-graduação, criei e lancei um Clube de Rádio. E vem agora uma senhora ministra, dizem, da Educação!, comunicar-me que isto de nada vale, que uma vida como professor se resume simplesmente a sete anos?!
As faltas contam, qualquer que tenha sido o seu motivo! Por exemplo, o Ministério que me mandou fazer formação e me deu dispensa para a frequentar, vem agora penalizar-me porque obedeci e a frequentei! Isto não é uma atitude não só provocatória como de desprezo em relação à actividade docente? Afinal onde está o prémio pelo mérito, pelo esforço e pela excelência?
Apetece-me convocar Almada Negreiros e parafrasear o seu Manifesto: uma geração, que consente deixar-se representar por [esta monstra] é uma geração que nunca o foi! (...) Se [esta ministra é portuguesa], eu quero ser espanhol!"
FERNANDO JOSÉ RODRIGUES Professor, escritor, 28 anos de serviço reduzidos a 7
01-03-2007
Jornal de Leiria