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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Crónicas de um jovem sem futuro (III)

Rui C Pinto, 24.02.11

Diz que vai haver uma manifestação no dia 12 de Março por parte de uma geração enrascada. É, de facto, uma geração de jovens enrascados que têm todos os motivos para ir para a rua. Para mostrarem que existem. Para que o país saiba que estes jovens, para além de beber uns copos e fumar umas ganzas no Bairro Alto, existem, sentem as suas aspirações frustradas, são politizáveis, e consequentemente, são actores desta sociedade, fazem parte dela, e não são apenas aqueles miúdos alheados e irresponsáveis de que são frequentemente rotulados. 

 

Enganam-se os senhores doutores opinantes e botadores de opinião, nos jornais, nas tv's, nos blogues e redes sociais... Não, caríssimos! Não se trata da geração morangos com açúcar! Tenham tino! Percebem tanto do Portugal em que vivem como da Líbia do Khadafi, e opinam sobre ambas com douta e reverente ligeireza. Ouçam lá, ó Pacheco, ó Sousa Tavares, ó Pulido Valente, não é a geração morangos com açúcar, bolas! É a geração Riscos!! Se ao menos soubessem como é grande a diferença...

 

E eu, que sempre pedi a revolução, vou ficar em casa. Esta não é a minha manifestação. A minha revolução é mais dura. Esta é a manifestação dos desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal, que protestam pelo direito ao emprego e pelo direito à educação; pela melhoria das condições de trabalho e o fim da precariedade; pelo reconhecimento das qualificações, competência e experiência, espelhado em salários e contratos dignos.

 

Este é o protesto de uma geração que quer partilhar das fatias do bolo. O meu protesto é mais dramático e exige mais consequências. Eu não peço um contracto para a vida e o fim da precariedade dos contractos a termo. Eu peço é que aqueles que os têm os deixem de ter para que eu possa competir com eles. Eu não peço um salário mais elevado e um contracto digno, como reconhecimento das minhas qualificações, mas que sejam todos avaliados pelo seu mérito e capacidade de trabalho tenham eles os graus académicos que tiverem, sejam gordos ou magros. Eu reivindico um mercado de trabalho que permita a um jovem, que apostou na qualificação, dar provas de competência e de capacidade de trabalho. Um mercado de trabalho onde o salário é função da produtividade e da mais valia do trabalhador. Um mercado de trabalho que potencie perspectivas de progressão nos salários e nas responsabilidades em função do mérito e da competência.

 

Isto é o mesmo que dizer: eu, ao contrário destes jovens que vão marchar no dia 12, não quero que o meu chefe me dê a assinar um contracto de trabalho para a vida com salário tabelado à categoria de licenciado e carreira tipificada em meia dúzia de escalões de progressão mediante bom comportamento. Eu quero que me seja dada a oportunidade de provar que tenho muito mais competências do que o meu chefe e que não só mereço o lugar dele como o mereço com um melhor salário. A quem vai marchar no dia 12 eu digo: se é para fazer parte do sistema que marcham, marcham por pouco! O que vocês reivindicam não é uma solução, é fazer parte do problema.

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