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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Um Apelo à Razão

Miguel Nunes Silva, 20.09.10

 

À medida que a crise perdura e se alastra, governos por toda a Europa apressam-se a cortar nas despesas. Que o leitor não tenha ilusões que os cortes vão afectar os sectores verdadeiramente responsáveis pelo despesismo irresponsável. Não, não são as gratificações sociais insustentáveis que nos endividaram que vão ser afectadas. Como já tive oportunidade de criticar, o PS foi eleito para fazer o trabalho que a direita ‘neoliberal’ não pode fazer por falta de credenciais socialistas mas o populismo socrático – incontestado pela estrutura PS – nem o sentido de estado necessário à sustentabilidade do país, tem.

 

Não, por toda a Europa a tendência é a mesma, os cortes vão afectar sectores que em nada contribuem para o despesismo imparável mas que eleitoralmente são menos ‘problemáticos’. Um deles é a defesa. Por muito que admire Merkel e Cameron, a decisão de reduzir dramaticamente o orçamento da defesa é uma medida de puro eleitoralismo. A Europa já está em termos mundiais abaixo da média de gastos em defesa e os novos cortes revelam desprezo por um sector que é estratégico para a soberania e continuidade do Estado. O termo ‘estratégico’ deveria ser apreendido pelos políticos como exigência de coerência e planeamento de longo prazo e não como sacrificável a curto prazo.

Gastos relacionados com o sector da Defesa são um investimento nacional. A diplomacia Portuguesa foi crucial para a independência de Timor-Leste mas se a marinha e o exército para lá não tivessem sido mobilizados será que Portugal teria a presença económica que tem actualmente? Provavelmente não.

 

 

O que Portugal precisa

 

 

Se houver uma crise na Guiné-Bissau e Portugal não puder enviar uma fragata como aconteceu nos anos 90, será que a UE concorda em deixar a Portugal a organização das cimeiras UE-África?

 

Portugal precisa de mais investimento em Defesa. Precisamos de um terceiro submarino de modo a preservarmos a nossa dissuasão militar – se não tivermos um submarino em permanente actividade, esta praticamente não existe – precisamos de uma fragata adicional para garantir a permanência de duas em alto mar em simultâneo – relembro que temos a 11ª maior ZEE do mundo – e precisamos de um navio multi-funções para podermos intervir com meios logísticos em caso de catástrofes naturais ou situações de emergência nas nossas áreas de interesse nacional.

Escrevo sobre esta matéria porque já conheço o nosso PM assim como o nosso Ministro da Defesa. O primeiro sempre se apressa a repetir as tácticas políticas de outros países, o segundo deve ao primeiro o seu cargo.

 

Já aqui tive a oportunidade de expressar o meu cepticismo – para usar um eufemismo – nesta equipa. Resta-me apelar à razão para que numa altura crítica o governo – e a oposição… – não cedam a pressões eleitoralistas e compreendam que tal como demora uma década a adquirir um vaso de guerra, também demora uma década penar sem um.

26 comentários

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    Miguel Nunes Silva 20.09.2010

    Sim e não.

    Em questões de soberania nacional, o pooling só é viável até certo ponto.
    É óbvio que os países têm que ter forças armadas proporcionais às suas capacidades mas que não pensem que a UE teria mandado forças para Timor-Leste para defenderem interesses Portugueses !...

    Não há 27 forças de combate no deserto na UE...
    Aquilo que penso que queres referir é a grande diversidade de fabricantes de material bélico na UE, os quais os federalistinhos querem reduzir a um oligopólio continental à la America.
    Mas o problema é que muitos desses fabricantes exportam o armamento para fora da Europa, de modo que nem esse argumento tem razão de ser.
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    José Pedro Salgado 20.09.2010

    Estamos a falar de coisas diferentes. Tu estás a falar de pooling em questões de soberania nacional, eu já estou a admitir que o pooling necessita, antes de mais, de uma mudança no paradigma de como se olha para a Política Estrangeira no geral e para a Defesa em particular. Mas que é o passo lógico, porque senão é um desperdício desnecessário de recursos, com um grau de eficácia muito mais pequeno.

    Eu não estava a falar de fabricantes de armamentos, estava a dar o primeiro exemplo que me veio à cabeça de multiplicação desnecessária de recursos: não precisamos de ter todos tanques (os mesmos tanques, pelo menos), aviões (idem), etc.
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    Miguel Nunes Silva 20.09.2010

    José,

    Eu lamento informar mas a Defesa serve os interesses nacionais e enquanto tiveres estados nacionais diferentes, independentes e soberanos vais ter interesses divergentes, justapostos e rivais.

    Dizeres que uns países devem ter tanques e outros navios é o mesmo que dizeres que os EUA e a China deviam trocar competências de infantaria e força aérea...

    A UE não é um estado! Nunca foi.

    O teu raciocínio assenta na mesma premissa da lógica do Bloco de Esquerda: vamos abdicar de todos os meios belicistas e o resto do mundo seguirá o nosso bom exemplo até à paz mundial.

    Enquanto houver estados diferentes, haverá interesses diferentes e não é minimamente razoável confiar na boa fé de quem ainda há umas semanas nos queria tirar direito de voto na UE.
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    José Pedro Salgado 20.09.2010

    Miguel, eu lamento informar-te que os 65 anos de paz que a Europa goza não foram atingidos através de meios belicistas.

    E eu não defendo que nos livremos deles, mas que reconheçamos que, se um dia tivéssemos problemas desse género, arriscaríamos estar a lutar contra canhões armados com fisgas, só porque quisemos ter a certeza que aquilo que tínhamos era modesto mas era nosso.
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    Miguel Nunes Silva 20.09.2010

    Pois, pois ...

    Vou-te citar um ex-ministro Francês numa entrevista recente:

    'À mes yeux, les pères fondateurs [de l'Europe] ce sont d’abord Staline et Truman, avant même Monnet et Schuman' http://bit.ly/cQz11Z
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    José Pedro Salgado 20.09.2010

    Mas eu não acho que a Europa seja um destino divino. Nem queria sugerir que o que criou a paz Europeia fosse a UE. Mas foi o que a manteve, não o medo de represálias.
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    Miguel Nunes Silva 20.09.2010

    Equilibrio de poderes É medo de represálias.

    Basta ver aliás os efeitos da queda da URSS: primeiro grande conflito do século XXI (Iraque) e a Europa ficou completamente dividida.

    Bom augúrio!..........................
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    José Pedro Salgado 20.09.2010

    Preferias unanimismo?

    A divisão não é necessariamente negativa, mas já admiti que os mecanismos de coordenação têm de ser reformados.
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    Miguel Nunes Silva 20.09.2010

    José,

    Desculpa mas vou ter de te ofender (;-p) : tu pareces um xuxa.

    O problema da divisão estratégica da Europa não se encontra numa imperfeição institucional da UE. A Europa nunca esteve unida por alguma razão.
    Deixo-te esta minha convicção: podes reformar, reforçar e refundar a Europa quantas vezes e tão profundamente quanto queiras, o resultado será o mesmo: divisão estratégica...
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    José Pedro Salgado 20.09.2010

    "Some men change their party for the sake of their principles; others their principles for the sake of their party." - Churchill

    Não estou a sugerir que vou mudar de partido ou tu de princípios, mas isto de me chamarem socialista no Psico começa a ser um lugar comum.

    E quanto ao teu último ponto, vamos concordar que discordamos: não tenciono mudar a tua perspectiva do mundo.
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    Miguel Nunes Silva 20.09.2010

    Eu estava a brincar, claro. Penso que fui bem claro na minha tentativa de não 'ofender'.

    Mas a tua visão é muito parecida com a visão socialista. Acreditas que o poder institucional é capaz por si só de mudar imperativos precedentes e instalados.

    A União Europeia é um gigante projecto de engenharia social que está a chegar ao seu limite.
    Propor ainda mais partilha de soberania numa altura destas parece-me em duas palavras: extremamente insensato.

    Mas tudo bem, concordamos em discordar.
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    José Pedro Salgado 20.09.2010

    Claro.

    Eu, por outro lado, acho que tu exageras na impermeabilidade das pessoas e das instituições aos valores uns dos outros.

    E, escusado será dizer que, sentenças de morte já a UE teve muitas, que é como quem diz: pode ser que desta vez tenhas razão, mas até um relógio parado está certo duas vezes ao dia.
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    Miguel Nunes Silva 20.09.2010

    Na UE nada morre, tudo se transforma.

    UEs já houve muitas meu caro. Esta não há-de ser a última.

    De qualquer modo eu não quero a morte da UE. Mas gostava de alguma moderação e humildade.
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    José Pedro Salgado 20.09.2010

    Foi a ambição de que conseguia abordar desafios difíceis (que cépticos diziam que não conseguia) que fez e faz a UE crescer.

    Acho que estás a confundir os justos ambição e orgulho com ganância e soberba.
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    Miguel Nunes Silva 20.09.2010

    Que desafios?...

    A integração económica ter-se-ia dado de qualquer modo.

    Quanto ao resto, enfim... se há bons exemplos de ambição política bem sucedida, eu gostaria de vê-los.
    Sempre que há um problema faz-se um opt-out ou deixa-se a questão de molho.

    Mesmo assim claro, eu acho que já se chegou aonde podia chegar.
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    José Pedro Salgado 20.09.2010

    Ter-se-ia feito de qualquer modo? De outra forma que não a actual?

    E o grande projecto político é a paz europeia, já se sabe.
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    Miguel Nunes Silva 20.09.2010

    Litmus test being: peace without prosperity
    without MAD
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    José Pedro Salgado 20.09.2010

    Como assim, paz sem prosperidade?

    E porque é que a guerra fria ajudou mais do que atrapalhou?
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    Miguel Nunes Silva 21.09.2010

    - A UE ainda ainda não passou o teste da paz sem prosperidade

    - A guerra fria ajudou a manter a Europa coesa face a uma ameaça exterior.

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    José Pedro Salgado 21.09.2010

    Acho que esse argumento só é relevante se não achares que essa prosperidade é resultado da UE.

    E pensar que a guerra fria manteve a Europa coesa implica ignorar que tudo a leste do muro era Europa.
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    Miguel Nunes Silva 22.09.2010

    - Tens razão, não acho. Pelo menos se foi, foi apenas marginal.

    - O 'núcleo' da UE está a ocidente...
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    José Pedro Salgado 22.09.2010

    - Pois, mas nem eu nem tu podemos saber isso de certeza. E conjecturas valem o que valem.

    - Por essa ordem de ideias, o núcleo da UE são 6 países (e não inclui Portugal).
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    Miguel Nunes Silva 22.09.2010

    - Não são só conjecturas. Desde 1945 até hoje, todo o mundo prosperou (exceptuando as economias marxistas). Porque é que a Europa havia de ter ficado para trás - ainda para mais quando estava na vanguarda do sistema capitalista e tinha um plano Marshall à disposição e proteccionismo estatal?

    - E se forem só dois ...
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    José Pedro Salgado 22.09.2010

    - Quando dizes todo o mundo referes-te a quem?

    - Portanto a "Europa" que a Guerra Fria ajudou a manter coesa foi a França e a Alemanha? E o que é que manteve coeso os outros todos? Sem falar que a Alemanha estava dividida ao meio.
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    Miguel Nunes Silva 22.09.2010

    - Ao planeta Terra?...

    - O que seria o mercado comum sem o eixo Franco-Alemão? Até porque a Europa periférica tinha a EFTA.
    Quanto às duas Alemanhas, nem tu sabes o quão importante foi a Alemanha mutilada para a construção Europeia. Mas isso já é outra conversa.
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