UV 2010: Dia 2
Ao segundo dia da Universidade de Verão, Marcelo Rebelo de Sousa deu a aula da tarde, falando da social-democracia em tempos de crise.
O desafio psicótico que fizemos a três dos participantes não foi tão simples quanto isso: reportar a aula do antigo líder do PSD. Cá está:
“Hoje toda a gente quer ser social-democrata”: esta foi uma das frases proferidas por MRS na aula desta tarde na UV.
Segundo o Prof, a social-democracia é a única solução depois do marxismo ter falhado avassaladoramente, e o capitalismo aliado ao liberalismo ter sucumbido com esta crise económica.
Sendo a social-democracia um modelo flexível e adaptável às constantes mutações temporais, não se contentando em defender uma democracia política, MRS defende também uma democracia económica e social. Acrescentando que um partido com esta matriz nunca colocaria em causa a justiça social, porém a mesma tem de ser medida com bom senso e equilíbrio.
Como social-democrata e, por conseguinte como reformista, defendeu as reformas da justiça, da administração pública, da educação e da saúde. E alertou para os novos desafios da sociedade, nomeadamente o combate à exclusão no que concerne a alguns grupos sociais.
Para dentro do Partido, apelou à unidade na diversidade e à preparação doutrinária e ideológica para termos um projecto amadurecido.
O Prof. fez uma intervenção realista e directa capaz de cativar toda a plateia que respeita a inteligência e postura do orador.
João Antunes Santos
Ao bom estilo do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, a aula foi guiada a alta velocidade, abarcando o passado da Social-Democracia como premissa para a variante actual e, indeclinável na previsão daquela que sucederá à que vivemos. Ao se afirmar um convicto social-democrata, e por falar muitas vezes da experiência pessoal, permitiu aos participantes conhecerem uma visão directa sobre a sua forma em terras lusófonas.
Através da referência a diversos livros, sustentou o aparecimento da Social-Democracia em Portugal, o percurso e os desafios dos nossos dias perante aquilo que diz serem “as várias crises”.
Rematou a intervenção ao descrever o papel do Estado Social-Democrata, incidiu nos desafios imediatos para a ideologia e para o próprio partido laranja.
Sofia Manso
Social-Democracia: novas realidades, novas soluções, os mesmos valores
2º dia de UV. Depois dos primeiros trabalhos e de entrar no espírito Uviano tivemos o prazer de receber entre nós um dos expoentes máximos da social-democracia em Portugal: o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.
De realçar a simpatia, a simplicidade e a acessibilidade do discurso. Se estas são características que marcam qualquer pessoa que conheça o Prof. Marcelo apenas dos seus comentários políticos televisivos, mais ainda se destacam neste ambiente da UV.
Quanto ao conteúdo, a intervenção de MRS abordou várias áreas, desde a formação ideológica do partido e da social-democracia, até à própria história da democracia em Portugal, passando por temas como a importância da JSD e da UV na formação de jovens políticos. Daqui, gostaria só de realçar a definição clara e inequívoca da social-democracia, que a distingue do marxismo, do conservadorismo e do liberalismo. Na verdade, esta diferença torna a social-democracia apetecível para alguns partidos, como o Partido Socialista, que sem renegar à esquerda (como é compreensível do ponto de vista eleitoral) acaba por muitas vezes tentar ocupar o lugar da social-democracia, que desde sempre, e com muito trabalho, foi ocupado pelo PSD.
Mas deste texto prefiro destacar alguns temas que pessoalmente me são mais atractivos e que se prendem com as prioridades do PSD agora, no fundo, tal como o tema diz, “em tempos de crise”. Daqui, MRS realçou 4 desafios imediatos para o PSD:
- Fazer reeleger Cavaco Silva (que é como o Professor Marcelo afirmou o mais social-democrata dos líderes do PSD);
- Revisão Constitucional;
- Resposta à crise;
- Ser Governo.
No que diz respeito à reeleição de Cavaco Silva, pouco há a dizer. Obviamente será sempre objectivo do PSD a eleição de um Presidente Social-Democrata.
Na Revisão Constitucional, pela actualidade do debate e pela importância que este terá na situação política nos tempos que se aproximam, achei a intervenção do Professor Marcelo especialmente importante. Por uma lado, apela a que o PSD defina de forma clara quais os seus objectivos com esta proposta e quais as condições para levar a cabo uma Revisão. Por outro lado, realça a importância de o PSD saber explicar aos portugueses que uma Revisão Constitucional não é um programa de Governo, quer-se isenta, neutra e terá de ser resultado de um consenso entre partidos e essa é uma das coisas que a esquerda tem tentado esconder. Outra das coisas que a esquerda tem tentado esconder é no que se centra afinal o debate entre PS e PSD em áreas como a saúde e a educação. O PSD, como partido da social-democracia, não quer acabar com o SNS ou com a escola pública. O que se pretende é que, perante uma crise como a que enfrentamos, se possa taxar de forma diferente o acesso a estes serviços consoante as possibilidades de cada um. E repare-se, o texto proposto pelo PSD permite que numa situação em que não haja uma asfixia do Estado Social, as taxas moderadoras voltem a ser iguais para todas.
Na resposta à crise, MRS salientou que além do saneamento financeiro imposto pela crise económica e que terá obrigatoriamente de passar por cortes na despesa, é necessário intervir também na crise social, nomeadamente no desemprego. Mas permitam-me que me centre no corte na despesa pública. Sobre este aspecto, MRS disse uma coisa importantíssima. Não podemos andar a cortar aqui e ali sem saber afinal o que queremos. Temos de definir que serviços é indispensável que o Estado preste e, só depois, poderemos ver de que recursos precisamos e então distribui-los.
Por fim, e porque já me estou a alongar mais do que desejaria (mas menos do que o suficiente para analisar devidamente tão valioso contributo), o PSD tem de chegar ao poder. E tem porque é o partido que realmente pode fazer a diferença e colocar Portugal no rumo certo. Mas não haja pressas. O PSD tem, mais do que nunca uma responsabilidade perante os portugueses, de se assumir como verdadeira alternativa e de conseguir implementar um projecto sério e realista. Para isso, será bom que se trilhe um caminho de amadurecimento do projecto do PSD, para que quando for poder o PSD possa resolver os problemas do país e corresponder às expectativas dos portugueses.
Nuno Carrasqueira