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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Propostas para o PEC

Guilherme Diaz-Bérrio, 08.03.10

 

 

Aqui vai uma proposta para o Pacto de Estabilidade e Crescimento. Dado que todos os governos adoram, citando Reagan, "taxar tudo o que mexe, taxar ainda mais se continuar a mexer e por fim subsidiar quando parar de mexer", sugiro que se crie o Imposto para a Parvoíce Acrescentada!

 

Não, não me estou a referir às campanhas internas do PSD (embora, adorava que um "Passos Coelhista" me explicasse o que é a "Introdução do Tributo Solidário" que vi nos slides sobre o PEC, mas adiante). Refiro-me à crónica do Eurodeputado "independente" (adoro estes eufemismos... está na "moda" ser-se "independente") do Bloco de Esquerda, Rui Tavares.

 

A Crónica só está disponível na versão Impressa (ou para assinantes online do Jornal). Tem um nome interessante: "A humilhação dos Porcos", e uma caixa que convida à leitura (como todas as caixas tendem a tentar faze-lo): "Os PIGS têm de possuir alguma destas características: países pequenos, do Sul, católicos ou pelo menos não protestantes. Têm de ser humilháveis."

 

Achei que seria uma óptima maneira de começar o dia: ler que piada nos traria um historiador a falar de Economia. Quão errado estava...

 

Vou poupar-vos aos floreados engraçados do texto - "A menina bonita dos neoliberais", entre outros termos dignos de uma "Cartilha de militante do Bloco" - e vou directo ao ponto:

"(...)deveriam ir mais longe: confrontar a Alemanha. Deveriam pegar nas declarações dos políticos alemães (...) e lembrar-lhes que, a seguir à queda do Muro de Berlim, estes países foram solidários com a reunificação da Alemanha. E agora, (...) é preciso outro tipo de solidariedade europeia. Caso contrário, a Alemanha estará a ser um mau vizinho."

 

Ah! Como é belo o argumento da "solidariedade europeia". E nos tempos que correm, vale para tudo. Tal como vale todo o tipo de argumentos para "passar a conta" para os alemães, desde o 2ª Guerra Mundial, ao Ouro grego e agora... a "solidariedade europeia durante a reunificação". 

 

Fomos solidários com a Alemanha? Sim, claro que fomos! Era-mos todos grandes fãs da Alemanha! E porquê? Porque, enquanto que de 1991 a 2003 a Alemanha gastava 5 por cento do seu PIB (que é pequeno!... note-se o sarcasmo!) por ano, para se reunificar e recuperar a Alemanha de Leste, continuava a ser o maior contribuinte liquido para o Orçamento Comunitário da UE, donde saiam os fundos da Coesão para... Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha.

 

Sim, contribuintes líquidos, ou seja, não receberam um cêntimo. E fizeram-no com sacrifício: parte dos fundos saíram de prestações sociais da Segurança Social, e tiveram que aguentar um aumento da idade da reforma para os 67 anos, de modo a manter o sistema solvente. 

 

Nos últimos 60 anos, a Alemanha tem sido o maior contribuinte para a integração económica e política na Europa. Dirão por solidariedade, eu diria por vergonha da "herança das duas grandes guerras". Esse peso na consciência fe-los sacrificarem-se para se reunificarem, reconstruirem e contribuir massivamente para a coesão europeia de que os "PIGS" benificiaram... eu diria que ao fim de 60 anos, a dívida está saldada. 

 

Poderiam ter-se desculpado em 1991, quando Helmutt Kohl anunciou a reunificação. Não o fizeram e "morderam a bala". E é por isto que o eleitorado alemão está tão "anti-PIGS". É por estarmos a pedir que eles paguem a factura da festa, e não queremos fazer o que eles foram forçados a fazer (e muito mais). Nenhum alemão entende porque tem de pagar as contas gregas para manterem reformas aos 62 anos, quando eles próprios se sacrificam até aos 67 anos. Nenhum alemão entende porque tem de pagar a irresponsabilidade de povos que viveram décadas acima das suas possibilidades, à custa do risco de crédito da Alemanha.  

 

Solidariedade Europeia não justifica premiar a irresponsabilidade e o mau comportamento. Todos sabíamos as regras do jogo. Afinal, o Pacto não "era estúpido"! E está na altura de parar de forçar a Alemanha a engolir todas as facturas, depois de tudo o que eles já pagaram, para a construção europeia. Sejamos sérios senhores!

 

E já agora, no dia em que a Alemanha salvar a Grécia (e por consequência directa, for forçada a salvar todo o Club Med), ou destruimos o Euro, ou entregamos a soberania financeira à Alemanha... querem mesmo ir por este caminho ou vamos começar a assumir a responsabilidade pelos nossos actos e problemas?

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