A questão copo meio cheio ou meio vazio...
Eu sou dos que gosta de pensar que o copo está meio cheio, mas com toda a franqueza vou começando a vê-lo esvaziar... Abro os jornais e olho para um desemprego de dois dígitos; Na rádio ouço falar de falência nacional, na grécia e no défice histórico; Na televisão vejo imagens de significativas manifestações das mais variadas classes profissionais; Ligo-me à net e leio que o Conselho de Estado está convocado para debater a situação política nacional.
No meio de tudo isto, pergunto-me como aqui chegámos. Mais que isso questiono-me como os que nos conduziram até aqui ainda lá estão!
Não demoro muito a chegar a uma conclusão: Se é verdade que Sócrates e o PS simbolizam esta política falhada, também é inequívoco que algo falhou na oposição.
Sou do entendimento que Manuela Ferreira Leite prestou um serviço notável ao PSD e, sobretudo, ao país. A sua liderança política diferenciou-se pelo carácter, pelos princípios e pelas visões e propostas estratégicas acérrimamente defendidas. O reconhecimento do seu contributo tardará, mas certamente não faltará. "Depois de mim virá quem bem de mim dirá"... Sábias palavras, as do povo.
Todavia, e sem prejuízo para o notável resultado nas europeias e autárquicas, algo de errado se passa no PSD quando não é governo hoje, depois de um mandato falhado como foi o do PS.
Aqui chegados, aproximamo-nos de mais umas eleições para a liderança do partido e o muito que já foi escrito por estes lados só será ultrapassado pelo muito mais que se seguirá, tenho a certeza. Também aqui, infelizmente, começo a ver o copo meio vazio e a esvaziar...
Pela profunda admiração, consideração e estima que tenho pelo Prof. Marcelo Rebelo de Sousa não escondo que gostava de o ver entrar na corrida. Acho, muito francamente, que seria a pessoa mais bem colocada para agregar o partido. Contudo, também não escondo a minha desilusão face às "ponderações de ponderação" e à proposta da solução de unidade ou de candidatura única (num partido como o PSD uma candidatura única chegaria a ser, creio eu, mau sinal). Considero que uma candidatura do professor traria um interessante e útil debate para o seio do partido. Não se tendo concretizado fica esta nota, justificada pela visibilidade que teve todo o processo de "ponderações".
Quanto a Castanheira Barros pouco ou nada posso dizer. Não conheço o seu projecto político e nem sequer tive oportunidade de alguma vez o ouvir.
Pedro Passos Coelho é tema recorrente por estas bandas... Não gostei das suas atitudes durante as campanhas e acho que a lógica de oposição interna, em momento eleitoral crucial, foi um obstáculo significativo à afirmação da actual liderança. No entanto, não destilo o ódio que alguns cultivam perante a figura de Passos Coelho, antes reconheço-lhe a coerência, quanto mais não seja. Partilho, todavia, as reservas de muitos quanto à substância de uma imagem que, sem sombra de dúvidas, Passos conseguiu construir, com mérito.
Quanto a Aguiar-Branco ou Rangel não passam de possibilidades. Sobre estes remeto-me para a lúcida visão do Diogo Agostinho: Um líder é aquele que tem vontade de liderar e que assume a defesa da sua visão e do seu projecto político, independente e livre.
Porém, não é só uma questão de liderança que afecta o PSD de hoje. É antes uma questão de substância e de conteúdo programático ou ideológico, como queiram. É também uma questão de afirmação junto da população. É, no fundo, uma questão de identidade.
Claro está que a liderança está intimamente ligada a este desafio: Parte, sobretudo, do líder que surgirá das próximas directas reconstruir essa identidade e, mais importante, aproximar os militantes dessa mesma ideia.
O país precisa, hoje mais do que nunca, de uma oposição forte e credível: Uma oposição liderada por quem se assume como a verdadeira alternativa.
Eu continuo a acreditar no PSD e, em especial, nos seus militantes, meus companheiros. Acredito que o copo que hoje vejo meio vazio possa voltar a ver meio cheio. É esta a minha esperança.