Escrevi aqui no Psicolaranja no último fim de semana, que a presença de Aguiar Branco na apresentação do livro de Passos Coelho não era politicamente irrelevante. Com a agravante de o actual líder parlamentar do PSD ter qualificado Passos Coelho como um “bom candidato”. Recebi muitas críticas no sentido de que fizera uma interpretação errada – Aguiar Branco foi elogiar Passos Coelho a uma sessão de propaganda pessoal (não institucional, saliento) para dar a ideia de que é capaz de construir um clima de unidade no partido. Com o devido respeito, esta interpretação não me parece minimamente adequada – se assim fosse, Aguiar-Branco seria um kamikaze político. Ele que não é propriamente um “líder natural”, que não é conhecido pelas suas qualidades oratórias, que não tem capacidade para cativar e explicar os méritos das suas opções, que –ainda por cima – está conotado com a actual direcção e é co-autor da opção de excluir Passos Coelho das listas das últimas legislativas, vinha agora em vésperas de enfrentar Coelho, elogiá-lo. Aguiar Branco que pelo seu perfil já seria um candidato fraco, com tal gesto ditava a sentença da sua derrota. A realidade é esta: Aguiar Branco só poderia ter a ambição de ganhar a Passos Coelho se apostasse numa estratégia de demarcação de ideias, de perfil, de experiência – e o confrontasse sem receios, nem calculismos. A mensagem que Aguiar Branco quis deixar foi “estou fora, podes contar comigo na liderança do grupo parlamentar”. E tudo isto porquê? Porque estou cada vez mais convicto de que se vai verificar o “ Factor Rangel”.
Há muito que Rangel tem a batata quente nas mãos. O que vai suceder nos próximos dias/semanas na vida interna do PSD vai ser determinado pela opção que Rangel tomar. Daí a agitação das distritais, na sua grande maioria, apoiantes de Passos Coelhos (até algumas que se assumiam anti-coelhistas viraram agora sem que ninguém saiba porquê, vide o exemplo de Aveiro, terá sido a influência de Couto dos Santos? ). É que a candidatura de Passos Coelho não tem entusiasmado, mobilizado os militantes de base do partido. Passos tem o aparelho: não é nenhuma surpresa, visto que Miguel Relvas tem trabalhado arduamente e com mérito neste particular. Mas não tem o apoio de uma “maioria silenciosa” de militantes que publicamente não o criticam, rejeitando, no entanto, embarcar na “onda mediática pós-Passos”. Quanto mais prolongada for no tempo a marcação das directas, mais perde Passos Coelho, que se desgasta cada vez que fala, enredado nas suas contradições, incoerências e falta de um pensameto estratégico. Dominar o marketing não chega.
Perante esta conjuntura, o avanço de Rangel é um piano enorme que cai em cima de Passos. Excluindo Marcelo Rebelo de Sousa, Rangel é o melhor candidato da ala que não apoia o até agora único candidato à liderança. Porque acumulou um significativo capital político com a sua vitória nas europeias. Porque é bom orador – Passos Coelho ao querer ser tão metódico na gestão da imagem perdeu a espontaneidade e a vivacidade de outrora, tornando-se monótono. Porque Rangel tem um conhecimento de várias da governação, desde a Justiça e até passando pela economia e juventude – ao contrário de Passos que , fazendo campnha há dois anos e lançando um livro, não deixou uma ideia que fique sobre alguma área da vida do país. A única que gerou discussão – a privatização da CGD – a realidade já demonstrou o seu mérito e o próprio proponente já a abandonou...
Outra questão é saber se a forma como Rangel se apresenta é a melhor, nomeadamente, a notícia de hoje do SOL é-lhe favorável ou não? E qual o melhor timing para Rangel avançar oficialmente? Deixarei as respostas para o meu próximo post.