Ringue de Ideias do PSD: Vasco Campilho
Prioridades para um PSD ganhador.
Foi com gosto que acedi ao convite do Psicolaranja para participar no seu ringue de ideias. Pediram-me que reflectisse sobre o PSD. Meus caros, não tenho feito outra coisa. Contra mim falo, porque penso que mais importante – bem mais importante – que o PSD é o País. Mas a verdade é que se o estado do PSD me inspira cuidados, não deixa de ser o nosso partido o instrumento mais capaz de produzir as mudanças de que Portugal precisa. Deste modo se justifica que dedique neste momento tanto da minha intervenção pública à questão partidária.
Queria organizar a reflexão que pretendo partilhar convosco em três tempos, três horizontes de desafios com que o PSD tem de se confrontar para poder ser de novo uma força portadora de esperança e capaz de mobilizar uma maioria de portugueses em torno de um projecto político reformador.
Sair da crise interna
O primeiro tempo é o desafio do instante presente, o do horizonte imediato da crise partidária em que nos encontramos. Temos um partido sem liderança, sem mensagem, sem coesão. Passaram-se mais de três meses sobre as eleições legislativas – que perdemos fragorosamente – e continuamos sem saber que rumo o partido vai tomar no futuro. Pior: nem sequer começámos a debatê-lo seriamente. Como sair deste impasse? Só vejo uma solução: iniciar o quanto antes o processo de eleição de uma nova liderança.
Defendo que o próximo Conselho Nacional convoque um Congresso Extraordinário electivo, antecedido, conforme dispõem os estatutos do PSD, da eleição directa do Presidente da Comissão Política Nacional. Defendo ainda que na elaboração do regulamento eleitoral das directas, o Conselho Nacional estabeleça a possibilidade de haver uma segunda volta no caso de não haver nenhum candidato com mais de 50% dos votos expressos na primeira volta. Desenvolvi, aliás, uma proposta nesse sentido que pode ser consultada aqui. Só desta forma se pode garantir um debate aberto, profundo e consequente que trave em tempo útil o processo de degenerescência política em que nos encontramos e lance as bases da nossa reconstrução enquanto Partido.
Encontrar um líder
O segundo tempo é o do curto prazo, o do horizonte da nova liderança que precisamos de encontrar. É bem conhecida a minha preferência por Pedro Passos Coelho, que apoiei em 2008 e pretendo voltar a apoiar nas próximas directas. Mas o que pretendo nesta reflexão é menos justificar esta preferência do que falar do modo como encaro o processo de escolha de uma nova liderança. É importante que o PSD aproveite este momento para se reencontrar com a essência do debate político. Isto implica um esforço de todos os militantes em concentrar-se no essencial, que é a definição do projecto de que o partido deverá ser portador no futuro. Mas esta responsabilidade cabe acima de tudo aos próprios candidatos ao cargo de Presidente do PSD: espera-se que tenham a coragem de apresentar um projecto político claro para o País, e não apenas um catálogo de intenções avulsas, que seria uma mera decoração de um projecto de poder para o Partido.
A este propósito, a valsa de hesitações a que temos assistido entre potenciais candidatos é um mau prelúdio: nada de bom pode sair deste tacticismo que tem sido a marca de água das nossas derrotas. Ainda assim, mantenho a expectativa de que venham a debate candidatos bem preparados, com o genuíno propósito de levar o PSD à vitória para mudar Portugal. Espero também que o debate das directas decorra com elevação e sem acrimónia, criando as condições para uma unidade genuína, sem os unanimismos artificiais que nos empobrecem, nem as desavenças pessoais que nos enfraquecem. Caberá ao futuro líder, qualquer que ele seja, convocar todo o partido para essa unidade. E caberá a cada um de nós responder a essa convocatória, e esforçar-se mais do que até agora nesse sentido. Só assim os portugueses passarão a respeitar-nos de novo.
Definir um posicionamento político
O terceiro tempo é o do médio prazo, o horizonte do reposicionamento que o PSD necessita de efectuar para se colocar em condições de voltar a mobilizar uma maioria eleitoral e sociológica por um projecto de mudança congruente com os nossos valores de sempre. Nos últimos 25 anos, o PSD ganhou quando soube protagonizar a mudança no modelo económico e ao mesmo tempo representar o ponto de equilíbrio da sociedade portuguesa no que concerne aos valores morais; e perdeu sempre que se afastou deste posicionamento. As maiorias absolutas do PSD foram conquistadas num período em que Portugal precisava desesperadamente de mudança na economia: a herança do 11 de Março era ainda de uma brutal actualidade. Aquilo que diferenciou a mensagem política do PSD nessa época foi a recusa em conformar-se com a herança económica do PREC. E foi o sucesso desse inconformismo que lhe garantiu um lugar na história. Nas últimas eleições, o PSD não soube aproveitar a ocasião para reproduzir a sua fórmula vitoriosa - mudança na economia e equilíbrio social. Ao invés, não soube encarnar a ruptura na economia e assumiu um papel polarizador nos debates societais, o que condenou qualquer hipótese de alargar a sua base de apoio.
Hoje, é cada vez mais claro que Portugal precisa de uma agenda de mudança económica que permita resolver os desequilíbrios estruturais e reencontrar o caminho do crescimento. Estou convicto de que essa agenda pode unir o PSD, e de que só o PSD a pode protagonizar. Mas o PSD não poderá levar a agenda de mudança à vitória enquanto não fizer um aggiornamento ideológico que o compatibilize com aquilo que é o ponto de equilíbrio da sociedade portuguesa hoje, em matéria de valores. Não se trata de pôr o PSD a promover causas fracturantes: pelo contrário, trata-se de desfracturar as causas de valores, promovendo a coesão de uma sociedade cada vez mais plural. Esta é talvez a mais importante das missões da próxima liderança: construir um posicionamento ideológico e discursivo que torne a matriz de valores e de princípios do PSD compreensível e apelativa para uma maioria de portugueses.
Passar com sucesso estes três desafios é fulcral para o sucesso futuro do PSD. E note-se que a questão da liderança a eleger em breve, embora fundamental, não é determinante em nenhum deles. Não é determinante no primeiro, porque ainda não estará eleita. Não é determinante no segundo, porque a responsabilidade de um debate esclarecedor e elevado é partilhada por todos os candidatos e pelos seus apoiantes. E não é determinante no terceiro, porque o posicionamento do partido é algo que nunca depende apenas de um líder, por mais carismático que este seja. Aquilo que é determinante nestes três desafios é que enquanto militantes - enquanto cidadãos - todos saibamos comportar-nos à altura dos nossos deveres e das nossas responsabilidades. No futuro do nosso partido, nenhum de nós é espectador: todos somos actores. Chegou a hora de tomarmos o futuro nas nossas mãos. E fazermos história.