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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

O tamanho meus senhores, o tamanho!

Guilherme Diaz-Bérrio, 02.11.09

 Aqui há uns meses fiz um ponto no meu blog pessoal: um dos problemas fundamentais da banca norte americana, senão o maior, não era a solvência do sistema como um todo mas sim a excessiva concentração do sector.

 

Para se ter noção da dimensão do problema, os EUA tem pouco menos de 10 mil instituições bancárias. Na altura - estavamos em Março de 2009 - este era um dos argumentos para não se nacionalizar e separar bancos de activos "problemáticos": havia bancos a mais, não era possivel seguir o "plano sueco" [A suecia é um case study em como resolver crises bancárias: entrar, separar bancos à força, desfazer posições, voltar a privatizar]. Foi um dos argumentos que sustentou os bailouts dos Sec. Estado do Tesouro Paulson (Republicano - administração Bush) e Geitner (Democrata - administração Obama). 

 

Na altura alguns argumentaram, em vão, que não eram 10 mil bancos que estavam em causa, mas sim 10! Que este "Top10" detinha quase 50 por cento de todos os depósitos bancários, e detinham também a grande parte do risco nos seus balanços. Que era este "Top 10" que estava a ameaçar o sistema. E, o argumento tinha várias conclusões lógicas: a primeira era que o rumo que se estava a seguir (Bush e Obama!) ia exacerbar o problema (tornando bancos grandes ainda maiores) e ia "estrangular" os bancos pequenos saudáveis. Ao ajudar os bancos grandes - grandes em tamanho e contribuições para o Congresso - fez-se a vida mais dificil para a gestão de bancos prudentes: afinal, de que serve ser prudente, quando é uma questão de cara ou coroa? Cara ganha o gestor, Coroa perde o contribuinte. 

 

Duas administrações cairam no mesmo erro. E continuam a persistir nesse erro focando atenção onde ela não é necessária. Um exemplo: Bonus dos gestores. O problema de risco excessivo não veio dai, mas sim do facto de qualquer gestor da Goldman Sachs ou Citigroup sabia o que mercado também sabia: se correr mal, alguém paga a factura! 

 

Senhores, o tamanho importa! E historicamente, isto não é o "capitalismo americano"! Muito pelo contrário. Desde a sua fundação, o povo e a classe política são, ou eram, endemicamente hostis a grandes bancos. É por isso, meus senhores, que os maiores mercados de obrigações do mundo são os americanos: Não havendo grandes bancos, nenhum tinha capacidade para fazer financiamentos grandes sozinho, logo teve de se desenvolver um mercado onde os bancos pudessem dispersar os financiamentos! É por isso que o sistema financeiro americano é tão diferente do europeu: o último é concentrado na Banca, o primeiro é concentrado em mercados descentralizados! Isto só se inverte na década de 80, com o "salvamento do Citigroup e Companhia" na crise de dívida sul americana, salvamento esse promovido por sua excelência, o "Maestro" Greenspan.

 

Moral da história:

Paremos lá os desvios "turisticos". Enquanto não se partir o Top10 - que neste momento é mais Top3, com o Citigroup, Goldman Sachs e JP Morgan a concentrarem a maior parte do risco para o sistema nos seus balanços - não há recuperação sustentável do sistema bancário como um todo. E enquanto não existir esta recuperação, os mercados de crédito não voltaram à sua função normal de intermediação de poupança e consumo. Logo continuaremos a ver uma economia americana (e mundial por arrasto) disfuncional, ligada às maquinas de taxas de juro a zero (que, já agora, estão a financiar uma enorme bolha global ... e não vai ser bonito de a ver rebentar) e "estimulos temporários".

 

O tamanho, em banca, importa!

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