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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Sobre o "contrato eleitoral"

PsicoConvidado, 14.09.09

 

Os candidatos da JSD à AR assinaram, no passado mês, um contrato com os eleitores. Nada de muito revolucionário - algo semelhante tinha sido já visto com Rangel nas Europeias -  mas agora com uma diferença notável: a de divulgação constante de agendas, números, assim como promessas de uma relação de proximidade com os eleitores/jovens.
 
Eu tive uma palavra a dizer na elaboração do documento e, honestamente, considero a versão final algo light. É um bom primeiro passo, mas ainda insuficiente.
 
Não vou analisar em detalhes as propostas do documento em si, nem o que poderia/deveria ser mudado (posso fazê-lo num post futuro), pois gostaria de pegar no assunto de uma forma mais prática. É mesmo necessário ter um documento deste género..? Os políticos são assim tão maus..? E a privacidade das pessoas, não deve ser respeitada, não deveria haver uma confiança mútua entre o eleitor e eleito..?
 
Ora bem: todos sabemos que vivemos numa era de descrédito, onde a confiança, pura e simplesmente, não existe. Tal aconteceu devido à inacção dos políticos, muito também porque os mesmos não têm que prestar contas a ninguém que não o próprio partido. E todos sabemos que, aí, o mérito é muitas vezes irrelevante, e que as punições são inconsequentes ou nenhumas (José Eduardo Martins..?). Mesmo quando há alguém, ainda que de uma forma também muito light, a tocar no assunto da ética (Marques Mendes), esse alguém tem um passado manchado por, por exemplo, ter sido eleito em 3 sufrágios seguidos como deputado por 3 círculos eleitorais diferentes.
 
Se a responsabilização e acompanhamento dos políticos vai mudar isso..? Num futuro imediato, não. Mas vai fazer com que os políticos adoptem certos padrões de actuação ética, e que assim se construam os alicerces de uma relação coesa, de confiança e transparência, que neste momento não existe. Ninguém quer ser tratado como ignorante. O cidadão comum quer fazer parte de todo o mundo político, quer saber que tem alguém a ouvir o que tem para dizer. E, sendo os deputados nossos representantes e pagos por todos nós, o mínimo que podem fazer é promover políticas de transparência e aproximação.
 
Violação de privacidade..? Claro que não. A agenda deve tornar claro as acções no cumprimento do dever político, só e apenas. As pessoas assinam o contrato de forma consciente, também, não havendo lugar para qualquer acusação desse género. Mas o exemplo tem de partir do topo, alastrando-se depois para as bases.
 
Deveria, num mundo ideal, existir qualquer tipo de contrato..? Não. Deveriam os políticos ter que dar satisfações, ter que estar sobre um escrutínio constante..? Claro que não. Mas, tendo em conta as circunstâncias, essa é a única forma de sarar feridas, de aproximar os cidadãos à política, a única forma de credibilizar o trabalho político.
 
Para os que “torcem o nariz” à ideia: a lógica é a mesma do que a videovigilância – quem nada tem a esconder, nada tem a temer. Os bons políticos não terão que fazer alterações significativas ao seu modo de vida/trabalho, uma vez que vinham já a promover tais medidas. Os maus... bem, esses vão ter que trabalhar; finalmente.
 
A política é, ou deveria ser, a profissão mais nobre. O fazer pelos outros. E só devem desempenhar tais funções os melhores, os mais idóneos. Os que procuram prestígio e enriquecimento devem, imediatamente, ser postos de parte. O importante é não esquecer que esse escrutínio, acima de tudo, cabe-nos a nós, cidadãos comuns.
 
Devem ser os políticos a puxar a carroça. Nós ajudaremos, eventualmente.
 
Psico-Convidado
Nuno do Carmo

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