Pelo que vemos hoje, o combate político irá centrar-se nas qualidades pessoais dos candidatos: integridade, honestidade, seriedade, carácter, educação, postura, etc. Infelizmente, no cenário político actual, impera a avaliação destas coisas, em vez do debate de ideias, ideais, estratégias, planos de acção, medidas e soluções.
Todos sabemos que o povo prefere ouvir falar do acessório, mais do que do essencial. Mas o facto é que os políticos de hoje “se puseram a jeito”. Não faltam escândalos de corrupção, compadrios e afins, que todos sabemos serem verdade. Até porque, por vezes, esses casos se passaram connosco ou com alguém próximo, não é preciso tribunais para o provar.
Além disso, a maioria dos políticos de hoje é hipócrita. Regem-se por aquele velho ditado “Olha para o que eu digo, não para o que eu faço”. Todos são a favor da ética, da transparência, da verdade. Mas depois não a praticam. Aliás, muito pelo contrário.
Para melhorar a política, é importante haver sentido de missão no desempenho dos cargos. É essencial, que os políticos coloquem, de uma vez por todas, os interesses colectivos á frente dos interesses pessoais.
Temos de voltar à política que existiu nos primeiros 20 anos após o 25 Abril 1974, quando as pessoas confiavam nos políticos, consequência dos seus bons desempenhos e da sua preocupação real com o país. Com isso, as pessoas com mais capacidade não fugiam da política, e portanto não deixavam lugar vago aos mais incompetentes, interesseiros e vigaristas.
Além do sentido de missão – que por vezes, ainda se vê em alguns (poucos) políticos – é preciso haver coragem. Alguns até têm capacidade, mas falta-lhes a coragem política para implementar medidas. Dizem-se todos muito determinados e decididos, mas depois é o que se vê.
Tal como dizia Pedro Lomba há uns tempos no DN: "Fazer de Portugal um sítio governável implica actuar sobre as causas que há 10 anos nos impedem de crescer. Que valor pode ter um Governo de maioria absoluta, que se mostra incapaz de afrontar os problemas essenciais do País? A estabilidade depende dessa coragem e não das maiorias absolutas."
Também muito importante, é manter o respeito pelos cargos públicos. Chega a ser chocante, o desrespeito dos políticos de hoje pela posição que ocupam. Por exemplo, José Sócrates, aquando da ida do coro do Colégio Militar, a São Bento cantar as janeiras, disse que agradecia e fazia votos de querer voltar a vê-los no próximo ano, no mesmo local. Ora esta afirmação – proferida nestas circunstâncias – mais do que partidária, é de um baixo cariz eleitoralista e demonstra desrespeito pelo cargo que ocupa.
Além do respeito pelos cargos, há também que lembrar o respeito pelas instituições. A utilização partidária e egocêntrica, de algumas instituições, por parte de alguns governantes é incrível. Tudo serve para ser utilizado a seu bel-prazer sem olhar a meios nem a consequências, desde que sirva os seus interesses (veja-se o recente caso do vídeo sobre o Magalhães, utilizado num tempo de antena do PS).
Há uma tendência para, quem está no poder, ir tomando conta de todos os sectores. Os partidos colocam os seus boys nos lugar-chave, e chamam a si o controlo de bancos, empresas e projectos de interesse estratégico e estruturante (como o Porto de Lisboa, o TGV, o Aeroporto ou a 3ª travessia do Tejo).
E depois, todas essas pessoas que gravitam á volta do poder de Lisboa, também contribuem para a degradação da democracia. Principalmente porque lhes falta carácter e dignidade.
Todos os dias vemos, por diversas vezes, pessoas a prestar-se a cenas indiciadoras de posturas de uma subserviência e de uma bajulação demasiado evidente. Tentando assim colher a sua parte dos “lucros”, obter favores, empregos ou cargos.
Infelizmente a política de hoje em dia está num estado lastimável. Toda ela é orientada para os interesses pessoais em detrimento dos reais interesses do país. E depois, em anos eleitorais, baseia-se em propaganda, principalmente nos média. (Montam-se espectáculos que mais parecem circos, onde se fazem promessas que, como de costume, não se vão cumprir).
Nisto, também os média têm uma grande responsabilidade. Um dos grandes problemas do cenário político português, são os meios de comunicação “dita” social. Eles que deveriam ser o veículo de transporte, da mensagem real entre governantes, partidos e eleitorado.
Ou seja, a política está mal, muito mal. A ligação entre ela e o povo está pior ainda. Como vamos nós sobreviver a isto? Mergulhados que estamos numa crise financeira, económica, social… mas principalmente numa crise de valores…