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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Cinquenta Estados da Doença

Arrogância, Ignorância e outros Pecados Mortais “Trumpianos”

Daniel Seco Aragão, 27.04.20

                   

 

Não sou epidemiologista, nem tão pouco especialista em saúde. O que aqui escrevo é baseado em algum trabalho de investigação e opinião pessoal. Os dados dos vários indicadores que mencionarei são de 2017 e 2018.  

                    Os EUA são a maior potência económica mundial, mas serão a mais sã? 

                    Os gastos públicos per capita com a saúde nos EUA são semelhantes a muitos dos países da OCDE. Os gastos totais, que incluem os privados per capita, excedem largamente, sendo que, em percentagem do PIB, ascendem ao dobro da média dos países da OCDE. 

                   How Does the U.S. Healthcare System Compare to Other Countries?

                    Curiosamente, apesar destes gastos astronómicos, os dados tendem a não ser simpáticos para os cidadãos norte-americanos. Face à média da OCDE, 40% são obesos, o dobro desta média; a sua Esperança Média de Vida à nascença (EMV) é dois anos inferior; têm mais 10% de incidência de doenças crónicas; menos 41% de média de consultas médicas per capita; menos 26% de médicos por mil habitantes. É certo que apresenta dados positivos, como uma maior percentagem de população idosa imunizada, de mamografias, mais ressonâncias magnéticas e cirurgias de colocação de próteses na anca por mil habitantes, entre outros.              

                    A EMV nos EUA é muito díspar quanto à cor da pele.  À nascença, é espectável que os cidadãos negros vivam, em média, menos 3 anos que os brancos. Isto revelará uma desigualdade em relação ao acesso aos cuidados de saúde. Olhando para a população abaixo do limiar de pobreza neste país, em percentagem, há o dobro de cidadãos negros nesta condição, face aos brancos. Ou seja, haverá uma efetiva disparidade no acesso à saúde neste país, privando aqueles que menos recursos têm deste direito fundamental.

                    Este país gasta mais do que a maioria dos seus pares e tem um resultado muito pior. Porque será? A resposta pode residir numa brutal especulação de preços, numa administração complexa, fraude e abuso, entre outros, que levam ao desperdício de 25% do que é investido no setor da saúde.         

                    Para além de uma gestão deficiente e desigual dos recursos, a esta verdadeira receita para o desastre junta-se um Chef, especializado em pratos típicos de arrogância e ignorância, para que seja servido um buffet mortal.      

                    Donald J. Trump, Presidente dos EUA, ao longo do seu mandato tem tomado uma série de posições questionáveis, mas focar-me-ei apenas na sua ação em relação à saúde.Na primavera de 2018 demitiu a Direção do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca para Segurança Global em Saúde e Bio defesa. Esta tinha já lidado com crises epidemiológicas associadas ao vírus Ébola e Zika.          

                    Este departamento é essencial, pois permite um planeamento constante de resposta a situações epidémicas. Este despedimento, bem como diversos cortes de fundos federais para a saúde, em especial para a prevenção de situações como a que vivemos hoje, tornou os EUA ainda mais frágeis.  

                    O Presidente dos EUA ignorou diversos relatórios de agências de inteligência norte-americana, que lhe chegaram às mãos em janeiro e fevereiro e que o advertiam da dimensão que a doença poderia tomar. No final do mês de janeiro, após a deteção do primeiro caso nos EUA, foram restritas as viagens vindas da China. Donald Trump não deixou de, por várias vezes, se referir à Covid-19 como uma gripe normal, com uma baixa taxa de mortalidade, o que é falso, visto que este vírus é muito mais transmissível, mais mortal e ainda não tem vacina que permita imunização. Mesmo quando o assunto se começou a tornar bastante sério neste país, chegou a afirmar que o vírus desapareceria miraculosamente.

                    A 13 de março, dois dias após a declaração deste vírus como pandémico, foi declarado o estado de emergência nacional, quando haviam sido detetados mais de 2000 casos neste país.            

                    No dia 27 de abril registaram-se quase 1 milhão casos detetados e perto de 56 mil mortos.       

                    Este é o resultado da combinação de uma provisão deficiente e desigual de cuidados de saúde com a ignorância e arrogância de alguém que comanda os destinos de um país. A sua constante insistência em ignorar a ameaça premente, em negar a aplicação atempada de medidas preventivas (como o distanciamento social e a realização de testes em massa), levaram à perda de tempo precioso e, consequentemente, de vidas. Não é no seu currículo que mais pesarão estes verdadeiros pecados mortais, mas nos corações dos norte-americanos que, de súbito, se viram privados dos seus entes queridos.

                    Apesar do desastre já provocado, este presidente teima em não seguir os conselhos da comunidade científica, como se verificou quando, antes de estar comprovada a sua eficácia, aconselhou vivamente (ou mortalmente) a utilização de hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19. Este fármaco é prejudicial para o coração e, como o vírus o debilita, a administração deste medicamento pode ser perigosa.

                    Estes pecados devem servir de exemplo de como não atear um país, transformando-o num inferno. É certo que Donald Trump não é culpado pelo surgimento do vírus, mas o seu comportamento errático e irresponsável impediu a adoção de políticas preventivas intensivas com meses de antecedência, o que poderia ter salvo muitos.     

                    Estes 50 estados da doença mostram o quão frágil e suscetível os EUA são. A saúde é um direito essencial e intrínseco ao ser humano, pelo que deve ser protegido e garantido. Após esta calamidade, os EUA deverão repensar o seu sistema de saúde e as escolhas que fazem enquanto eleitores.

    D. Gonçalves da Silva

Afinal há outro 25 de Abril...cada um ao seu!!!

João Casaca, 26.04.20

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"(...) o senhor D. Miguel I o rei de Portugal, Algarves e seus domínios, à imitação do que se tem praticado em muitas outras cidades do mesmo reino de Portugal desde o dia 25 de Abril próximo passado: aconteceu que, achando-se já reunida a referida Câmara para entrar na mencionada deliberação, os povos que em grande número se achavam reunidos na praça pública, onde existe o edifício do mesmo senado unanimemente, e sem esperar tal deliberação rompeu nos mais inflamados vivas ao senhor D. Miguel I, rei de Portugal, Algarves e seus domínios, no que gostosamente apareceu conforme a mesma Câmara: a nobreza, clero e povo, que se achavam reunidos dentro no edifício, e que reconheceram ociosa semelhante deliberação tornando-se portanto este auto de vereação em um verdadeiro auto de aclamação do referido senhor, o Muito Alto e Poderoso D. Miguel I, Rei de Portugal, Algarves e seus domínios, pelo perfeito conhecimento que tem toda esta cidade, e jurisdição que ele é o nosso único e legítimo Rei natural, depois do falecimento d’el-rei o senhor D. João VI de gloriosa memória."

Aclamação do infante D. Miguel, como rei de Portugal, in "Anais da Ilha Terceira", por Francisco Ferreira Drummond

#25deAbrilSempre
#DMiguel4ever

 

 

Liberdade só de alguns é Ditadura

Matilde Carvalho, 19.04.20
O dia 25 de Abril é o dia em que celebramos a liberdade. Mas fará sentido celebrar a nossa liberdade quando não a temos? Pelo visto, para o parlamento, faz, pois aprovou a sua comemoração. Afinal, será que somos livres neste longo e difícil período?

Os nossos representantes acham que é fundamental comemorar este dia. Mas, o evento é necessário e imprescindível para Portugal? É uma necessidade básica e essencial para os portugueses? Creio que não.

Ver os nossos representantes desrespeitarem o povo português e as pessoas que os elegeram foi algo que nunca pensei ver! Acho uma hipocrisia tremenda de todos os que tiveram responsabilidade na proposta, e ainda mais dos que a deixaram ir para a frente. 

Impuseram-me estado de emergência, a mim e a todos os portugueses. Criticam todos os que não o cumprem. Souberam pedir às pessoas para ficarem em casa, impuseram que os portugueses só saíssem de casa para fazer o essencial e o necessário. Literalmente os portugueses ficaram com a sua vida em suspenso para um bem comum, para o bem de todos nós. 

Vamos celebrar a liberdade quando existem pessoas neste país que não se podem despedir dos seus entes queridos? Vamos comemorar o 25 de Abril quando estamos no 3º estado de emergência? Vamos celebrar a liberdade quando as nossas crianças e jovens não podem ir à escola? Vamos comemorar a liberdade quando nem um abraço, um gesto tão simples, podemos dar? Vamos comemorar o 25 de Abril por todos aqueles que deixaram de fazer o que mais gostavam e por todos os que deixaram de assinalar as datas mais importantes das suas vidas? Vamos celebrar a liberdade quando estamos impedidos de sair de casa e muitos estão sozinhos? Que liberdade é esta que estamos a comemorar?!

As figuras de Estado e todos os demais tem a obrigação de cumprir o estado de emergência, assim como o pediram a todos nós. Não o fazer é uma traição. E é - pior do que tudo - um mau exemplo. 

Quando a pandemia chegou a Portugal, começou a circular uma frase muito clara: “Aos vossos avós pediram para ir para a guerra; a vocês pedem-vos para ficar em casa”. Infelizmente, nem todos a perceberam. Vamos ver se percebem esta: “Se o Papa celebrou a Páscoa sozinho, por que não celebram este dia sozinhos?”

Se todos formos responsáveis e cumprirmos o nosso dever, talvez possamos celebrar à Liberdade... novamente em liberdade.

Nem o Corona nos cala!

Psicolaranja, 09.04.20

capa perfil.jpegO O Psicolaranja abre hoje, oficialmente, os Psico Quarentemas!

Nos próximos tempos, teremos várias conversas no Zoom sobre a pandemia que nos vem afetando. Estão todos COVIDados a participar nestes eventos, conversando com os brilhantes oradores que se juntam a nós.

Hoje, dia 9 de Abril, pelas 22h, iremos abordar o tema “Covid-19: o que se espera da Europa?”, com Carlos Coelho, umas das vozes mais conhecedoras da União Europeia e suas instituições. 

Para se juntarem a nós, basta acederem ao link: https://zoom.us/j/344420158