Os principais partidos do arco do poder estão divididos em facções.
No CDS e no PSD, a divisão é entre centristas populistas que defendem posições moderadas na esperança de obter mais votos dos indecisos ao centro, e conservadores ideólogos que preferem pôr valores políticos à frente de considerações eleitoralistas.
Enquanto que tanto no PSD e no CDS os centristas demagógicos são próximos da máquina partidária, no PS a divisão aparenta ser diferente pois António José Seguro mantém-se no poder com a influência dos sindicatos e apesar de António Costa com as Socranettes poderem obter mais votos de popularidade em eleições nacionais.
Enquanto que no PS os lobbies eleitoralistas internos definem de momento a liderança do partido, à direita o lobby eleitoralista externo é mais preponderante.
Por conseguinte, se à direita os centristas populistas estão no poder, à esquerda os sindicatos de voto internos empurraram para as margens estes mesmos centristas populistas.
Mas a própria natureza dos constituintes destas facções gera também outras dinâmicas. Aqueles que estão na política pelo amor aos cargos e sem alternativas profissionais que não a política, são por natureza menos dados a levar em conta o interesse nacional e valores ideológicos. O objectivo derradeiro é a progressão na escada do poder e não tanto os interesses do país ou a concretização dos ideais que professam.
Devido a esta dinâmica, e contrariamente ao que seria de esperar de radicais, as alas menos centristas são também mais responsáveis na gestão do poder pois as ideologias são concebidas para alcançar objectivos colectivos a longo prazo.
Paulo Portas é um excelente populista mas este é também o seu ponto fraco. A sua recente manobra pode ter trazido mais poder mas trouxe também menos confiança política por parte do PSD. A médio e longo prazo, isto poderá condenar a coligação PSD-CDS à instabilidade e aos golpes de poder. Pela sua natureza, o poder político é um jogo de soma zero pois um dado cargo apenas pode ser ocupado por uma pessoa.
Não é claro o que a máquina do PSD pensa da manobra de Portas mas certamente que não estará satisfeita. Quaisquer futuras manobras enfraquecerão ainda mais a imagem dos dois partidos e a credibilidade da liderança do PM.
Quem tem a ganhar com tudo isto? O Presidente, a facção mais ideológica do PS e finalmente as alas mais ideológicas da direita: Ribeiro e Castro e Rui Rio.