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Nos últimos dias/semanas fui frequentemente abordado com piadas sobre o Relvas, insinuações sobre o Relvas, ou simplesmente um "Então o Relvas, hã?". Quem interpela espera naturalmente a defesa da dama. Afinal, somos todos do mesmo clube. Somos da mesma trupe. A surpresa é geral quando me ouvem denunciar o caso.
A minha história será, certamente, replicada por centenas por esse país fora, já que há, como eu, muito militante do PSD que não vê a sua militância como uma fé. Ontem, lia um outro militante dizer no Facebook que tinha vergonha de não ter nos órgãos de direcção do PSD quem denunciasse Relvas e "os casos" que o envolvem. Há, felizmente, quem o faça. Firmino Pereira, vice-presidente do PSD/Porto faz o favor de me representar a mim e a tantos outros militantes do PSD que não aceitam que a mediocridade se perpetue em cargos de responsabilidade política.
Sou militante do PSD. Mas não sofro de partidarite nem defendo clientelas. Muito menos coloco o partido acima da minha dignidade pessoal. E um indivíduo que depois de fazer uma licenciatura nas circunstâncias em que fez vir dizer-me que sempre levou uma vida na procura do conhecimento está, no mínimo, a insultar a minha inteligência.
Entrei, hoje, por uns breves minutos, numa pastelaria. Um episódio que não terá excedido 5 minutos. Foi o suficiente para ouvir duas anedotas contadas por clientes diferentes:
"Diz o Relvas para o Reitor:
- Sr. Reitor, dá licença?
- Está licenciado!"
"O Relvas perdeu a virgindade aos 12 anos. Praticou masturbação, mas deram-lhe equivalência."
Dada a manifesta piada em que se tornou um ministro cuja responsabilidade governativa incide sobre a coordenação política do executivo, começo a temer pela autoridade do governo e, em particular, do próprio Primeiro-Ministro.
Eu sou do tempo em que os ministros se demitiam, por forma a preservar a dignidade das instituições que representavam. Homens como Relvas não temem o prejuízo que lhes causam, porque apostam na curta memória do eleitorado. Infelizmente para ele, já foi inscrito na mais duradoura forma de memória colectiva do povo português: a anedota.
Hoje, ao dar a volta à imprensa, deparo-me com a seguinte noticia:
"Entre 1941 e 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, Portugal neutral conseguiu vender mais ao exterior do que importava, graças às exportações de volfrâmio para as potências beligerantes. Desde então Portugal comprou sempre mais ao exterior do que vendeu – neste ano e no próximo, contudo, será diferente, prevê o Banco de Portugal (BdP)."
iOnline
À primeira vista, é um facto extraordinário. No entanto é expectável, necessário, mas tem uma componente negativa, em especial no campo das finanças públicas. Economics 101: desde 1995 que Portugal tem vivido bem acima das suas posses, em especial desde a nossa entrada no Euro, com dívida financiada no estrangeiro, excesso de procura interna, desniveis entre a produtividade e salários, vis a vi os nossos concorrentes externos, o que gerou defices comerciais sucessivos e altos. Esta história é conhecida. Ad Nauseum.
O que parece que não é conhecido, pelo menos na imprensa, é que o caminho óbvio do ajustamento num regime de câmbios fixos, como é o caso do Euro, é exactamente a balança comercial ficar positiva no meio de uma recessão grave. Isto deveria ser por demais evidente: Se uma economia cresceu por excesso de procura interna alimentado por dívida, procura interna essa que foi dirigida à compra de bens e serviços produzidos no exterior, então o fim do financiamento (o que nos levou a "falir") leva à compressão dessa procura. Em português: Pessoas vão para o desemprego, empresas fecham, e as importações param, e em casos graves, começam a decrescer.
"Desde 1943 já tivemos outras recessões, e isto não aconteceu... porquê agora?", ouço alguns leitores a inquirir. Simples, porque esta é a primeira recessão grave que temos, onde não temos o Escudo como moeda. Normalmente a receita é "chapa cinco": desvaloriza-se a moeda, e o ajuste é feito (desvalorizar a moeda equivale a tornar importações mais caras, exportações mais baratas e o valor da dívida, a haver, menos penoso de suportar). Mas essa solução não existe. Não há moeda para desvalorizar, pelo que o ajuste é feito internamente, e é forçosamente estrutural: Desemprego sobe em flecha, a Economia Interna contrai, salários descem e, a parte importante do ajuste, o desiquilibrio interno entre sector de bens transaccionáveis (os que exportam) e o sector de bens não-transaccionáveis (os que importam) é corrigido.
Isto é, já agora, independente do Primeiro Ministro ser Social Democrata, Socialista ou o Rato Mickey. É mera constatação de factos óbvios. O que não é independente do Primeiro Ministro é como enfrentar o ajuste. Este é penoso. Tem de o ser, depois de anos de excessos. E tem de seguir o seu curso. A opção, reincentivar a Procura Interna com gastos públicos, é mera cosmética. Mesmo que resultasse, apenas nos dava mais uns anos.
Isto coloca o actual governo num melimdre Político e Financeiro. O Político é óbvio. Depois de passar a euforia dos jornais, alguém se vai aperceber de onde vem a Balança Comercial positiva e associar tal facto ao aparente colapso da procura interna portuguesa. O melindre está em convencer os Portugueses na necessidade de aceitar isso e aguentar um pouco mais este ajuste. Em pré-estágio para um ano de eleições autarquicas acrescente-se. O segundo problema é financeiro, e dúvido que o Terreiro do Paço não se tenha já apercebido dele: Este ajuste implica um colapso nas receitas fiscais. Vai demorar algum tempo - assumindo que continuamos neste rumo, e incentivamos ao ajuste - até o sector exportador compensar o sector importador, e a economia portuguesa voltar a encarreirar.
Ou, colocando isto de outra forma: O Estado Português tem neste momento um problema grave em mão, recebe a 90 dias mas paga de imediato. Não há liquidez para aguentar a queda das receitas fiscais. Isto já se está a verificar - alias, esta noticia apenas vem reforçar que o defice de 2012 vai derrapar por duas rubricas, impostos cobrados e juros pagos por pagamento de dívida pública a vencer (e não, em nada tem a ver com os "juros da Troika", mas sim com dívida pública emitida anteriormente, e não por este Governo). E isto pode revelar-se uma combinação muito forte para mais austeridade em 2012.
Jardim diz que é tempo de Portugal dar "um murro" na mesa de negociações da União Europeia:
Ao discursar na cerimónia de abertura da XXIX Expomadeira, Alberto João Jardim referiu haver "caminhos para solucionar" o problema das dívidas dos Estados soberanos. "É preciso que o Estado português, membro da União Europeia, com os mesmos direitos dos outros da União Europeia, dê um murro na mesa e consiga uma reunião mínima de países que proponha um alargamento dos prazos de pagamento da dívida soberana e uma redução dos juros", defendeu.
Para João Jardim, os juros teriam "como limite não prejudicar os depósitos que os aforradores têm na banca". O governante madeirense elencou, em seguida, uma série de medidas que, no seu entender, resolveriam a situação económico-financeira da União Europeia.
Essas medidas incluiriam a subordinação dos interesses financeiros aos interesses públicos e do Estado, a emissão de mais moeda pelo Banco Central Europeu para investimento e para fazer a economia crescer e gerar mais receita fiscal, mas com inflação controlada, o protecionismo extracomunitário, ou a realização de uma "profunda reforma" em Portugal, da Justiça à Administração Pública, no sentido da sua desburocratização.
O presidente do governo regional defendeu igualmente a manutenção do Estado social e a revisão do sistema de greves, bem como a descentralização e o reforço e alargamento das competências da autonomia política, porque "até agora foi um logro". Recusou ainda a ideia de o Estado dar prioridade à satisfação dos interesses do sistema bancário em detrimento dos produtores de riqueza: "O meu Governo não aceita a estratégia de pagar primeiro à banca e à alta finança e só depois pensar na economia e naqueles que produzem riqueza, nem está para ser colaboracionista neste caminho", frisou.
Alberto João Jardim recordou que, entre 2007 e 2012, o Governo Regional apoiou 2.600 empresas madeirenses, num total de 143 milhões de Euros. Salientou ainda que, desde janeiro, "o Instituto de Desenvolvimento Empresarial apoiou o mercado das empresas com mais 10 milhões de Euros". "Este apoio conseguiu, nesta fase social difícil, garantir a estabilidade de 11.000 a 12.000 postos de trabalho", disse.
Revelou ainda que, na Madeira, em 2010 foram constituídas 1.149 empresas e dissolvidas 641, que em 2011 foram criadas 1.297 empresas e extintas 645 e que "até ao dia 15 de maio deste foram constituídas 446 novas empresas e extintas 217". "A partir de fevereiro, e com o Plano de Ajustamento Económico e Financeiro, o governo já injetou 140 milhões de euros no mercado regional para pagamento de dívidas deste ano e de anos anteriores", acrescentou.
O presidente da Associação Comercial e Industrial do Funchal (ACIF), Duarte Rodrigues, chamou a atenção para o "enquadramento macroeconómico particularmente difícil" para as empresas madeirenses, mas frisou que, mesmo assim, 79 aderiram à mostra das atividades económicas deste ano, agradecendo o empenho e a atenção dada pelo governo regional ao tecido empresarial.
Só cá faltava mais este a dizer disparates. Aqui ficam algumas ideias de perguntas para jornalistas "cubanos" que eu gostava de ver respondidas:
Para quando perguntas como estas?
O País anda entretido com diversos casos e polémicas. Para os mais cépticos, basta dizer: “É Portugal”. Ora, não deixa de ser interessante ler quem por aí anda a opinar e criar notícias. Uma dessas personagens que marcam a opinião públicas e as redes sociais é uma Jornalista que pela sua escrita e postura irreverente cria sempre bastante polémica.
Ora, considero que polémica é sempre interessante para um bom debate de ideias. O problema é quando passamos da polémica para o sensacionalismo e a tentativa de juntar o que não tem razão de ser.
O que diz então a Jornalista Fernanda Câncio: “É assim que podemos assistir, boquiabertos - como anteontem - a um Santana Lopes, na TVI24, a perorar, a propósito do curso de Relvas, sobre deverem ser os políticos julgados pelos seus atos em funções e não por episódios do seu percurso privado (cito de memória), sem que algum dos presentes, de Constança Cunha e Sá a Assis e Rosas, pigarreasse sequer.”
Sem tirar nem pôr foi isto com que a senhora nos brindou na sua coluna de opinião. O que dizer deste factor: cito de memória.
Mas, que diabo, então eu que até vi o programa em directo não me lembro do raio da frase e da consideração que a Senhora faz? As tecnologias hoje permitem claro está rever o programa. O link é este: http://www.tvi24.iol.pt/programa/4209/62. Podem ouvir o programa todo. Mas a partir do minuto 32 têm o tema. O que observamos nós? Que de facto, existe uma citação mas bem diferente e sobretudo bem mais certeira! Chama-se a atenção para a situação que em Portugal apenas nos preocupamos com as questões depois dos casos pessoais. Discutir Bolonha? Discutir as PPP? Não. Isso só depois do escândalo, da notícia sensacionalista.
Foi isto que entendi... Mas mais à frente refere-se que seria bem mais grave se na altura Relvas tivesse em funções executivas. Lá está outra verdade simples para todos.
É triste ver esta Senhora nesta sede de, quiçá, vingança atacar assim. Não sei se é das companhias, mas o estilo enfim, faz-me lembrar alguém em que como alguém fazia em debates o que interessa é continuar a agarrar “ideias” para discutir o acessório e não a discussão saudável do tema.
Quer falar mal do Mundo? Que fale. Mas pelo menos cite correctamente. Cuidado com essa memória!
A polémica em torno da licenciatura de Miguel Relvas promete durar por muitas semanas. Há muitos portugueses indignados. A típica inveja portuguesa, já se sabe... Um indivíduo (com um cv invejável) consegue negociar condições bestiais para ver reconhecidas as suas competências por uma instituição de ensino superior. Perante o sucesso inusitado do seu espírito empreendedor, surge um coro de críticos embriagados no profundo ressentimento das suas parcas qualificações. Nada de novo. Repete-se o efeito que consumiu Sócrates e o seu notável sucesso académico e a sua evidente fluência em Inglês.
Os portugueses devem ultrapassar o seu cinismo e ver nestes casos de sucesso uma janela de oportunidade. Quantas mulheres portuguesas, cuja vida foi dedicada aos cuidados dos filhos e à gestão do orçamento familiar, mereceriam ver as suas competências reconhecidas ao nível de uma licenciatura em Ciências da Educação e um mestrado em Gestão e Finanças?
Quanto trolha não veria o seu mérito reconhecido em Engenharia Civil; quanto electricista veria a sua mestria certificada com um diploma em Engenharia Electrotécnica? Se é o seu caso, enderece a sua candidatura à Universidade Lusófona. Negoceie uma Licenciatura num ano, ou um mestrado num semestre. Se não lhe for dada a oportunidade, então sim!, estaremos perante um escândalo que nos merecerá a indignação a todos.
Publicado, em simultâneo, aqui.