Em Portugal, ouvimos muitas vezes dizer que a Universidade não forma e não prepara os alunos para o mercado de trabalho. Esta ideia de que a Universidade está ao serviço do mercado de trabalho está profundamente ultrapassada e é muito perigosa. Senão vejamos.
A Universidade é muito diferente da Escola! A sua função não se limita à transmissão de conhecimentos e à preparação dos alunos, mas extende-se à produção de conhecimentos e ao desenvolvimento de tecnologia. Uma Universidade é tanto melhor, quanto mais desenvolvimento adquiriu num determinado domínio científico. Assim sendo, não surpreenderá ninguém que o mítico MIT tenha no seu corpo docente vários prémios nobel e que seja das Universidades mais procuradas por alunos de todo o mundo dispostos a pagar cerca de 33600$ por nove meses de ensino.
O MIT forma alunos para o mercado de trabalho norte-americano? Hell no! É óbvio que não! O MIT dota os seus alunos dos conhecimentos científicos mais avançados em todo o mundo e as grandes multinacionais tecnológicas absorvem esses alunos nos quatro cantos do mundo. Não será surpresa para ninguém, portanto, que o MIT seja uma das principais indústrias exportadoras do Estado de Massachussets... Mas mais que exportar os seus serviços, o MIT constitui um polo de atracção de tecnologia e de cérebros para os Estados Unidos.
Dir-me-ão que o sucesso do MIT reside na sua relação priveligiada com a indústria e na criação de empresas com base tecnológica. Errado. O corpo docente do MIT recorrentemente galardoado com o Nobel dedica-se à investigação fundamental que está a anos luz de qualquer potencial aplicação. Elias Corey não foi galardoado pelo nobel da química por ter contribuido com projectos de investigação para a indústria química norte-americana, mas pelo seu contributo no desenvolvimento da retrossíntese, um conceito absolutamente teórico e abstracto. Como explicar então o sucesso do seu grupo no MIT?
Em Portugal, o discurso vigente é o de que a Universidade deve direccionar a sua investigação para a transferência de tecnologia para as empresas e que deve formar os alunos para o mercado de trabalho nacional. Não há caminho mais claro para o abismo intelectual da academia que esse. E o pior é que aqueles que o defendem desconhecem que essa receita já falhou perante os seus olhos. Não há evidência mais clara para esse falhanço que o Ensino Politécnico, ou de cursos com forte ligação ao mercado de trabalho como a mítica Licenciatura de Química - Ramo em materiais têxteis da Universidade do Minho, para citar um exemplo de memória. Colocar a academia a trabalhar para a transferência de tecnologia é uma excelente forma de aliviar as empresas portuguesas do necessário investimento em Investigação e Desenvolvimento. Ver o PSD defender essa via ao mesmo tempo que pede mais competitividade e produtividade às empresas, deixa-me sempre com um leve nó na garganta... Para citar um brilhante Professor da minha Universidade, se tivessem pedido a Edison que fizesse investigação aplicada, hoje teríamos excelentes velas.
Eu pergunto àqueles que defendem que a Universidade tem que adaptar a sua oferta educativa ao mercado de trabalho o que entedem ser o mercado de trabalho português e de que necessidades académicas carece. É que para lá das típicas profissões prestadoras de serviços nas áreas da saúde, economia, direito e educação, quer-me parecer que um Ensino Secundário Profissionalizante é mais que suficiente...
Mas, mais relevante e preocupante: se a Universidade adaptar a sua oferta educativa ao mercado de trabalho como é que se criam oportunidades de desenvolvimento de novas valências económicas? Como é que o país potencia novas oportunidades económicas? O PSD não pode andar a defender de Segunda a Sexta que devemos apostar na estratégia do Mar e ao Sábado e Domingo defender que a academia deve formar engenheiros têxteis para o Minho e Engenheiros Mecânicos para a Auto-Europa...
No que toca a Ciência, infelizmente, o PSD não tem estratégia. Um Partido que se tem batido pela meritocracia, empreendedorismo e inovação tem que ter um discurso coerente para a aposta em ciência e inovação e para o Ensino Superior.