Insanity is doing the same thing over and over again and expecting different results!
Albert Einstein
Está na altura de pararmos de brincar aos "Bailouts" pela Eurolândia! Está na altura de enfrentar os factos: é necessário reestruturar a dívida de alguns países, nomeadamente Portugal. Podemos andar a brincar e a fugir ao assunto, tal como temos estado a fazer nos últimos 3 anos nesta crise toda, mas quanto mais continuarmos, maior será a dor futura.
Olhe-se, com olhos de ver, para a Islândia: Fizeram default parcial à sua dívida, reestruturaram a restante, limparam o sistema. Hoje, depois de ano e meio de alguma dor, prevê-se que voltem ao crescimento este ano, e nos 2 anos seguintes.
Olhemos para Portugal: temos dívida a mais (Pública e Privada), temos um defice da balança comercial estrutural, temos um serviço da dívida cada vez mais pesado e uma economia anémica. Crescer mais que a nossa dívida é fantasia. É preciso que se note: um terço do nosso defice é juros da dívida pública.
Já aqui falei muito do efeito bola de neve - e começo a sentir-me como Cassandra se sentiu em Troia - mas, long story short, é uma espiral descendente de dívida sempre crescente. Não reestruturar vai implicar pelo menos mais uma década perdida em Portugal.
Isto não significa nem uma saída facil, nem a não necessidade de austeridade. O Estado é uma vaca "gorda", a Economia portuguesa é um monstro enquinado e inflexivel. Sacrificios terão de ser pedidos. Mas tenha-se noção de que, não podem pedir que os sacrificios sejam pedidos ao mesmo lado da equação.
Bancos falidos devem cair. Ponto! Transformar risco privado em risco público apenas adia o problema. Perguntem aos irlandeses. Ou, mais em "casa", perguntem aos tecnicos que andam a fazer as contas a quando o BPN já nos custou, e nos vai continuar a custar.
Investir é um negócio arriscado. Investir em Obrigações de um Estado, embora menos arriscado, continua a ser arriscado. O mundo não vai parar de girar com uma reestruturação de dívida, e o Euro não vai cair. O oposto não é necessáriamente verdade: se a Europa continuar a adiar, e não criar mecanismos de reestruturação ordenada (não estou a falar de eurobonds, isso é agregar e dar um almoço gratis!), então o Euro pode cair sob o seu próprio peso.
É preciso partilhar os sacrificios, é preciso equilibrar uma equação onde Estados-Membros tem pouco espaço para corrigir desiquilibrios. Sempre fui, e mantenho-me, fã da Chanceller Alemã. Ela tem razão em dois pontos: fomos irresponsáveis fiscalmente e financeiramente desde a adesão ao Euro, e é por nós que temos de encontrar uma solução. E há soluções (desvalorização salarial via diminuição da Taxa Social Única é uma delas, para reduzir o desnivel produtividade vs salários). Mas como contrapartida, não pode haver investidores protegidos por regras sacrossantas. Todos sabemos porque não há uma reestruturação de dívida: Os bancos franceses e alemães estão carregados de dívida pública grega, irlandesa, espanhola e portuguesa. Temos pena. Têm capital para aguentar a perda. Se não tiverem, usem o dinheiro que estão a gastar a fazer bailouts a países para tratar dos vossos sistemas bancários, dado que se nos deixarem reestruturar já não precisam de enterrar dezenas de milhares de milhões de euros nos países do "Clube Med".
Agora, façam é o favor de acordar para a realidade. Há 3 anos, quando lunáticos como eu [ou Keneth Rogoff - ao menos estou em boa companhia] diziam "Deixem-nos falhar, reestruture-se", eramos loucos. Agora, a realidade dá-nos um pouco de razão.
PS(D): ao futuro PM de Portugal,
Próxima Cimeira que for, experimente este argumento:
"Ou saimos daqui com um plano que me deixe reestruturar ou quando sair daqui vou fazer o anúncio da reestruturação ou default parcial de Portugal". É que eles podem estar-se nas tintas para nós, mas se nós caímos, Espanha vai a seguir, e para Espanha já eles não se estão nas tintas.
Agora é a altura para jogar um pouco duro. Para o bens de todos.