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Ocorreu-me esta frase de Públio Siro quando li esta notícia.
"Ai agora", dirão os turcos.
As crises são excelentes hipóteses de catarse, sobretudo de hipocrisias. Cameroon, já se sabia, é um pragmático, agora sabe-se até que ponto chega o pragmatismo. Como diria um influente banqueiro "[quase] tudo tem um preço".
P.S.: Não Zé, não é para responder ao Amado...
The Portuguese debt office is set to become one of the first big sovereign derivatives users to bow to dealer pressure and agree two-way collateral postings. The change means the Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP) will begin posting assets to its counterparties when the value of a trade swings against it to mitigate the risk that the debt office might default.
Isto é um "momento oops" preocupante. Antes de mais, a explicação em português:
Quando se transacciona derivados (por derivado leia-se qualquer instrumento financeiro que "derive" o seu preço de outro instrumento, por exemplo opções ou futuros) é preciso colocar uma margem. Essa margem é uma "percentagem" do valor nominal do negócio em questão.
Um exemplo reduzido ao absurdo: no "PsicoExchange" eu acordo com um colega vender 10 copos de vidro no próximo mês. Isto é um contracto derivado (o preço é derivado do valor de cada copo hoje). Como garantia, eu dou ao administrador do "PsicoExchange" 1 copo de vidro - a margem. (Sim sim, para os mais atentos, especulação 101: isto implica alavancagem).
Alguns derivados são de crédito. Por exemplo, Credit Default Swaps que são parecidas com seguros para obrigações (eu pago um prémio de "seguro", o spread, e se o emitente da obrigação falir, eu recebo o valor do contrato). E, normalmente, os Estados soberanos não colocam colateral nos seus derivados (é o pressuposto, "Um Estado paga sempre").
Logo esta medida - o Estado português começar a colocar colateral no banco - levanta-me algumas questões:
a) Tal como diz o artigo citado, estamos a estoirar mais cedo que o normal? Colocar uma margem é uma forma de pagar para que o spread dos CDSs não suba, e leve as taxas de juro com ele (para cima, entenda-se);
b) Margem não colocada é dívida. Eu não posso pagar dívida com dívida. Ou melhor, não devo (o Estado Português está a emitir dívida para pagar juros). Duvido que os bancos emitentes aceitem dívida pública portuguesa como margem para os derivados de crédito do Estado Português. Isto implica ou usar dinheiro ou usar obrigações de outros países. De qualquer forma, vai secar liquidez (que não temos). O que me leva de volta ao ponto a) para estarmos a fazer isto, estamos pior que o divulgado;
c) Ter de colocar margem implica que andamos a brincar com derivados de crédito. Agora a pergunta é: para que raio andámos a brincar com derivados de crédito!? Relembro que um dos usos dos derivados é esconder passivos (aka, lembram-se de como a Grécia escondeu o defice? Foi com derivados).
Salazar morreu há 40 anos.
De entre as suas frases mais conhecidas está esta: "Não discutimos deus e a virtude. Não discutimos a Pátria e a sua história. Não discutimos a autoridade e o seu prestígio. Não discutimos a família e a sua moral. Não discutimos a glória do trabalho e o seu dever."
Houve quem discutisse algumas destas coisas. Sobretudo a autoridade.
À maior parte correu mal essa façanha de questionar.
A minha homenagem a quem se opôs ao Estado Novo aqui fica.
Depois destes tempos, diria, conturbados, lá dei de caras este fim-de-semana com uma boa notícia do PSD. A criação de um Livro Branco das Empresas. Uma proposta que o Líder do PSD encomendou e que terá em linha de conta a contribuição de empresários, Grandes Empresas e PMEs, com distribuição geográfica e sectorial, em que irão ser abordados diferentes temas.
Ora cá está algo que me agrada. Tenho como definição de liderança a capacidade ouvir. Acho que muitos dos males que existem e dos erros que se cometem é pela característica de certos Líderes não ouvirem. A mania de decidir e por isso demonstrar força e liderança é um caminho, que a meu ver está incorrecto. Ouvir nestes tempos quem anda no terreno, sobretudo ao nível das PMEs é uma ajuda e enorme valor acrescentado. Parece-me claro que dar voz a estes empresários será útil na resolução da nossa crise. Pequenos contributos podem fazer toda a diferença.
Saúdo a iniciativa.
O secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino Dias, reconheceu este sábado que o inquérito instaurado a Carlos Queiroz, por insultos a uma brigada antidopagem, contém “factos graves”.
Ora, numa semana observámos (até ao momento), que três ex-Presidentes do PSD são contra o timing da proposta do actual Presidente do Partido, de revisão constitucional. Mais opiniões claro está. Mas opiniões de pessoas que já ocuparam aquele lugar e que merecem ser ouvidas. Não foram ao Conselho Nacional é certo, discutirem. Porém, a proposta apareceu antes e é longa a tradição dos ex-líderes não irem a Conselhos Nacionais.
Passos Coelho avançou como candidato à liderança do Partido a criação de uma auscultação de ex-Presidentes do Partido. Seria esta uma boa ideia a implementar. Ouvir quem o antecedeu é sempre um ganho. Continuo com a minha OPINIÃO. Esta proposta, sobretudo ao nível de poderes do Presidente da República irá influenciar a próxima campanha presidencial. Fragiliza o candidato que o PSD apoiar. Mas mais que isso retira as atenções dos portugueses das medidas de combate à crise que vivemos.