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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

MUITO MAIS VIVO DO QUE MORTO POLITICAMENTE...

João Lemos Esteves, 27.01.10

 

O Prof. Carlos Blanco de Morais, de quem tive o privilégio e a enorme honra de ser aluno no 1.º ano de Direito, publicou  ,na última edição do EXPRESSO, um artigo cuja leitura recomendo vivamente. Explica, de forma inatacável, como a estratégia de vitimização do Governo socialista não passa de uma ficção convenientemente criada para esconder a sua falta de rumo e estratégia para o país. O facto da Assembleia da República aprovar legislação que contrarie as opções políticas do Governo não faz com que haja um “Governo-sombra” no órgão representativo do povo português. Nos termos da nossa Constituição, é a AR que detém o primado da função legislativa – ou seja, a função de elaborar leis é, em primeira linha, confiada áquele órgão.  Concordo com a tese do ilustre professor. Julgo, no entanto, que omite um vértice importante do “triângulo do poder”: o papel do Presidente da República.
Em biologia, “metamorfoses” significa alterações da estrutura ou da composição do corpo de um ser vivo. Ora, o sistema de governo português (que qualificamos como semipresidencialista) também sofre sucessivas metamorfoses, de acordo com as mutações na correlação de forças partidárias e institucionais. Desta forma, podemos encontrar períodos em que o centro da vida política é o Parlamento (semipresidencialismo de pendor parlamentar). Outros em que o Governo assume maior protagonismo, limitando-se o parlamento a seguir e a sufragar a sua  agenda política (semipresidencialismo de pendor de primeiro-ministro) ou até períodos constitucionais em que o PR é o principal actor político, quando é uma personalidade carismática do partido do Governo, este apagando-se perante aquele. Esta última “metamorfose” nunca se verificara na história constitucional portuguesa. Depois das eleições de 2009, como qualificar o nosso sistema de governo?
O actual período é muito interessante para analisar na óptica do Direito Constitucional e da Ciência Política. Aparentemente, dado que o Governo não é suportado por uma maioria absoluta na AR, negociando, tentando criar pontes com os partidos da oposição para implementar o seu programa político, o semipresidencialismo teria, na actualidade, um pendor parlamentar. Não julgo que assim seja. Porquê? Justamente, devido ao papel do PR e à situação do maior partido da oposição. Cavaco Silva é uma personalidade carismática da direita, muito próximo da actual líder do PSD, e é ele que tem marcado e condicionado a agenda política e o comportamento dos principais agentes políticos. Substituiu a fórmula da “cooperação estratégica” pela do “conflito estratégico”.

Com efeito, descontando alguns pesadelos de noites de Verão, foram as intervenções do PR que forçaram Sócrates e Ferreira Leite a sentarem-se à mesa para discutir o orçamento. Foi Cavaco que deixou Ferreira Leite sem alternativa na questão da votação do Orçamento apresentado ontem, tirando o tapete a Pacheco Pereira, Rangel e outros que defendiam o voto contra. E até que, indirectamente, ditou a actuação do CDS/PP, que se viu na contingência de ter longas reuniões com o Executivo para (finalmente!) se assumir como partido responsável, ultrapassando o PSD e remetendo – o para a mais pura irrelevância política. O Orçamento de Estado vai passar. O país deve-o ao Presidente Cavaco Silva.

Something about us

Essi Silva, 26.01.10

"It might not be the right time

I might not be the right one

But there's something about us I want to say

Cause there's something between us anyway"

 

Gosto muito do meu partido. Não é uma questão de tachos, ou de trampolins. Gosto verdadeiramente de política e gosto ainda mais de pertencer a um grupo político cujos ideais me preenchem e me permitem fazer alguma diferença na sociedade portuguesa.

Hoje sou-vos sincera: o partido que admiro desde pequena tem-me desiludido cada vez mais.

Uma questão de líderes

Muitos têm apontado como causa para a crise no PSD, a ausência de liderança capaz ou a sucessão de líderes à velocidade luz. Outros até, acham que o problema está na falta de visão, na carência de alternativas. Velhos do Restelo, chamam-nos esses, acusando-nos de não mudar de registo, de continuar num caminho retrógado.

Aceitam-se ideias

Para mim, mais que um problema em relação a quem nos lidera, há uma ausência de ideologia. Sabem efectivamente o que ainda é o PSD? Há quanto tempo não mudamos de projecto político? O que defendemos hoje?

O PSD parece cada vez mais uma manta de retalhos, vazio de consistência política. Hoje afirmam uma coisa, amanhã já discordam do que afirmaram no dia anterior. (ou hoje criticam e amanhã fazem o mesmo)

E é este o partido que queremos apresentar aos portugueses como a melhor alternativa para Governar.

Ódios de estimação

Adoro que discordem de mim: é sempre uma forma fantástica de fortalecer a argumentação e de me fazer pensar um pouco mais além. Da discussão nasce a luz. Ainda assim, não há política possível com uma discussão permanente.

Há que deixar os ódios de estimação para trás. Quando o objectivo é proporcionar o melhor para os nossos pares, o nosso país, a unidade é essencial. Com críticas? Claro que sim. Mas não ao primeiro palito que se mexe ou através do ataque pessoal.

Porque outro problema no PSD é haver sempre quem critique mas nunca quem queira ou consiga provar que faz melhor que o alvo das suas críticas.

D. Sebastião

 

Independentemente de quem gostaria de ver como presidente do nosso PSD, ao Exmo. Dr. Castanheira Barros, ao Exmo. Dr. Passos Coelho e a todos aqueles que considerem ser candidatos à liderança relembro: Um bom político é aquele que inspira pessoas, não se reduzindo ao argumento da melhor alternativa.

 
 

In: Crítica construtiva; Coragem e iniciativa; "Inspirar e melhorar!"; Projecto coeso, uno e coerente; Cooperar

Out: Ofensas pessoais; Empurrar candidatos; "Ser a melhor alternativa!"; Hoje afirma X amanhã afirma Y; Renegar

Quem salta para a ribalta? Quem?

jfd, 26.01.10

 

Várias distritais do PSD já confirmaram a sua presença no próximo dia 28 de Janeiro, numa iniciativa organizada pelo presidente da estrutura da capital. O objectivo é debater o partido e as eleições directas, a duas semanas do conselho nacional, e porque a direcção ‘laranja’ não se reúne há seis meses com os dirigentes locais. Além de Lisboa, Porto, Aveiro e Braga, haverá mais militantes sociais-democratas a participarem no encontro.
Carlos Carreiras, o presidente do PSD/Lisboa não quis, para já, adiantar mais detalhes nesta fase, e Marco António Costa, do Porto, confirmou ao CM a sua presença. De acordo com informações recolhidas pelo CM, Santarém não estará presente no encontro.

A duas semanas do conselho nacional para marcar o congresso extraordinário e as eleições directas, as movimentações a favor de um avanço do eurodeputado Paulo Rangel subsistem, mas o próprio nada mais quer dizer sobre o assunto. Isto apesar de no partido, entre apoiantes de Passos Coelho, ainda se encarar como hipótese uma candidatura-surpresa de Rangel.

No domingo, Marcelo Rebelo de Sousa atacou Passos Coelho, candidato assumido à liderança, porque, em seu entender, deveria ter montado uma estratégia de unidade para o partido. "O arranque dele não foi de unidade", disse o comentador, o que é "um erro". Para o antigo presidente do PSD, só um candidato de unidade pode ser líder do partido durante mais do que dois anos.

in cm

 

A este último paragrafo desta notícia apenas tenho a acrescentar que este Marcelo Rebelo de Sousa, é o mesmo que na noite das eleições afirmou ser necessário arranjar quem se candidata-se contra Pedro Passos Coelho por forma a que se evitasse que este último se tornasse Presidente do PSD. Enfim! Coerência q.b. não é Professor? Devia ter VERGONHA na cara.

O Conselho Nacional que se reúna, nem que seja para dar conta ao Partido do que se passa nas negociações do Orçamento tal como já tinha ficado como compromisso por parte da Presidente. Aproveitem e marquem de vez o Congresso e as Eleições.

Afinal, ainda é preciso dar mais tempo para quem anda a reunir coragem para se candidatar, não pelo PSD e o futuro de Portugal, mas sim contra Pedro Passos Coelho.

Venha Rangel! Estou ansioso pelo debate de ideias, pelos apoios que terá e pela bagagem de militante histórico que traz acerca deste nobre PSD. Mas atenção! Coelho, não é Vital! Há pois é! Não vai ser um passeio...

E agora é a minha vez: não é por mudarem a cara, que não continuam a ser os mesmos 12 ou 13 a querer mandar! Porque os militantes, esses para quem querem fazer o Congresso (yeah right!) não são parvos!

Triste sina a do meu partido!

afinal afinal

Paulo Colaço, 26.01.10

Portugal é o país do choque tecnológico.
É o país do Magalhães.
É o país do simplex.

E é o país que ocupa a 39ª posição no ranking do e-government. Desceu 8 posições na última actualização.
Este ranking analisa a promoção do "acesso e inclusão dos cidadãos tanto ao nível executivo, legislativo como judicial" através da net.
39º é o nosso lugar conjugando o fornecimento de informação, a criação de produtos e serviços públicos online, o acesso à participação dos cidadãos em decisões públicas, a interacção entre governo-cidadãos e vice-versa, etc.
Este nosso lugar marca uma clara passagem do choque tecnológico para o choque térmico... afinal, trata-se de um banho de água fria!
 

 

 

PsicoConvidado: Ricardo Campelo de Magalhães

PsicoConvidado, 25.01.10

 

Propaganda de Esquerda

 

 

No Portugal contemporâneo, a esquerda ganhou com o combate ideológico. Para provar tal facto (como se fosse necessário), basta ver os programas dos partidos de direita: cheios de medidas sociais, interferências no mercado livre, e um vocabulário em que os termos não são neutros: o capitalismo é “selvagem” e o mercado livre “desequilibrador”, enquanto as políticas sociais de “ajuda aos desfavorecidos”. A mente do próprio leitor destas linhas já reconhece as palavras como suas e estranha o tema.

Eu, como se torna evidente, sou defensor do mercado livre e gosto de chamar atenção para as inconsistências gritantes do sistema vigente. Vejamos algumas:

 

- Liberdade: Ford disse “o cliente pode escolher qualquer cor, desde que seja negro”. O Estado oferece os serviços padronizados, como, onde e quando quer. Necessidades específicas? Só se tiver um grupo de interesse por trás (em vez da ditadura dos números, temos a ditadura das hierarquias). Liberdade de educação, de escolha de plano de saúde, de escolha de tribunal,… não há. No caso dos tribunais, por exemplo: numa sociedade livre, os advogados das partes listariam tribunais e iriam eliminando os que considerassem mais enviesados à vez até chegar ao central; em Portugal, procura-se à socapa onde é o tribunal que nos será mais favorável, perdendo-se transparência e dando vantagem a quem possua informação privilegiada. Mesmo no caso da liberdade de expressão, a referida tendência para a uniformização, apesar de não ser um obstáculo formal a esta liberdade, certamente a manietará levando quem tenha outras opiniões a se calar ou ser considerado… (é melhor calar-me ou ainda me colam o epiteto).

- Igualdade: O simples facto de se usarem termos colectivistas constantemente garante que não haja igualdade. Se eu tratar cada um como um indivíduo, à partida desconhecido, trato todos de forma igual. E todos devemos tentar pensar assim. A esquerda contudo pensa sempre em colectivos. Os pretos foram mal-tratados. Os ciganos são mal-entendidos. É preciso ajudar o proletariado. Os proprietários são mal-intencionados. Os cidadãos de leste devem ser apoiados. … E se não existissem estas políticas? E se o Estado trata-se de forma igual todos os indivíduos? Cada vez que um indivíduo se apresentasse ao balcão, tratava-se esse indivíduo de forma única, de acordo com uma única regra que seria válido para todos. Se precisasse de ajuda seria ajudado INDEPENDENTEMENTE dos grupos a que pertencesse. Porque não seguir o princípio da igualdade, para variar.

- Fraternidade: Não há. Numa sociedade colectivista, cada indivíduo pertence a um colectivo, cujo bem é visto como uma função inversa do bem dos outros. Logo, deve haver guerra: proletariado Vs capitalistas, litoral Vs interior, norte Vs sul, jovens Vs geração dos direitos adquiridos… Tudo porque pensam que a Economia é um jogo de soma nula: para eu ganhar, alguém tem de perder. Marx dixit. Eles negam a existência de crescimento económico! O meu Mises, diz (Human Action, p.673): o facto de o meu companheiro querer sapatos tal como eu, não me torna mais difícil obter sapatos, mas mais fácil! Logo, se havendo cooperação, há crescimento, e quanto maior a cooperação (e a consequente especialização), maior o produto obtido, cooperemos. Como? Com um plano? Não é necessário um plano: o sistema de preços diz-nos o que é mais apreciado e guia-nos nas nossas opções!

- Paz: O sistema capitalista não só é o melhor para produzir uma máquina de guerra inovadora e eficiente, é também o melhor garante de paz. Duas nações planificadas e economicamente estanques não sofrem com a catástrofe alheia e portanto, se pensam que conseguem fazer uma guerra relâmpago, não há desincentivos às suas lideranças a fazê-lo. Duas nações capitalistas ligadas por comércio abundante cometeriam harikiri se entrassem em guerra, pois teriam sobreprodução dos bens em que era especializada, subprodução daqueles em que era menos eficiente e passado alguns anos era mais pobre pois teria de produzir mais dos que era menos eficiente para desistir daqueles em que era eficiente. Para além de que perderia mercado para os seus bens e algumas fontes de matérias primas. A evidência histórica é esmagadora.

É fácil proferir compaixão quando são outros a pagar o custo. É simpático oferecer sem nada pedir. É garantia de votos prometer menos impostos e mais despesas do estado. É humano pensar como seria bom se todos vissem o que nós vemos. Mas é também garantir o colapso de uma sociedade.

O Psico-convidado,

Ricardo Campelo de Magalhães

 

 

 

 

IRONIAS DO DESTINO LARANJA...

João Lemos Esteves, 24.01.10

 

Escrevi há dias aqui no Psicolaranja que Aguiar Branco seria candidato à liderança do PSD. E, na altura, era notória a vontade, o trabalho de bastidores (e não só) do actual líder parlamentar para aregimentar apoios que lhe permitissem defrontar Passos Coelho.

 

Os últimos dias evidenciaram (ainda mais) o intenso e diário jogo de bastidores no nosso partido. Ocorreu uma alteração de circunstâncias: afinal, muito provavelmente, quem irá defrontar Passos Coelho será Paulo Rangel - e o ex-líder da jota, actual director de uma empresa de Ângelo Correia, terá o apoio de Aguiar-Branco. Ironia das ironias...

 

Vamos aos factos.

 

1. º - Aguiar-Branco criticava abertamente Passos por não apoiar suficientemente Ferreira Leite e ter ciriticado a liderança actual em plena campanha eleitoral;

 

2.º - Aguiar-Branco é vice-presidente de Ferreira Leite - ou seja, também ele sufragou a exclusão de Passos Coelho da lista de deputados;

 

3.º - na passada quinta-feira, Aguiar-Branco esteve na apresentação do livro de Passos Coelho. Ele  que é vice-presidente e líder parlamentar actual... Está numa iniciativa de campanha (porque o lançamento daquele livro é a divulgação de um folheto propagandístico) de um candidato a líder! 

 

4.º - Aguiar-Branco ,já tendo alguma experiência política, poderia estar presente na acção de propaganda passos-coelhista, mas escusar-se a responder a questões dosw jornalistas. Mas não: deixou-se fotografar ao lado de Passos Coelho (muito sorridentes os dois) e disse que este é um "excelente candidato a líder". Eu  - e acho que ninguém - pode comprar essa justificação absurda da solidariedade partidária...o que é que aquela aparência de  livro de Passos Coelho tem que ver com o PSD, em termos institucionais? Nada! Absolutamente NADA!

 

´Como justificar esta cambalhota política monumental de Aguiar-Branco?  É fácil:  a luta interna no PSD é movida por amores e ódios pessoais - aqui, goste-se ou não, Marcelo Rebelo de Sousa tinha (e tem) toda a razão.

Sabe-se que Aguiar-branco e Paulo Rangel têm problemas de relacionamento pessoa. Não se dão bem. Há ali uma inveja ou ciúme latente (quando não, evidente). Quando Aguiar-Branco sabe que Ferreira Leite prefere e insiste que Rangel seja candidato (o SOL dizia esta semana que o seu telemóvel não parava de tocar em Bruxelas), Aguiar Branco sente-se traído (como já se sentira quando a actual líder preferia Mota Pinto para a liderança parlamentar) e passa a apoiar Passos Coelho. 

 

Abreviando razões, o pensamento de Aguiar-Branco é este: mais vale ter um pássaro na mão do que dois a voarem. Ou seja, mais vale ter a liderança parlamentar com Passos Coelho na liderança do partido do que, sabendo que Rangel avançará com o apoio daqueles que não se revêem na candidatura do "menino fugido " de Vila Real, hipotecando-lhe a hipótese de avançar com probabilidade de vencer, ficar sem nada: sem a liderança parlamentar e sem a lidernaça do partido. Mas, tudo isto resulta de um arrufo entre dois destacados membros da entourage ferreirista.

 

Tanto mais que Luis Filipe Menezes que, no programa de Mário Crespo dissera que Passos Coelho, Rangel e Santanas Lopes juntos não faziam "um líder de jeito", veio, logo a seguir, afirmar que não tem dúvidas que Passos Coelho será líder do PSD. Recordo que na semana passada, o SOL fazia capa com o apoio de Menezes a Pedro Aguiar-Branco - apoio confirmado pelo próprio, que elogiou largamente o seu trabalho como líder parlamentar. Parece que Aguiar-Branco virou passos-coelhista (porque não suporta ficar atrás de Rangel). E politicamente, aquilo que parece, é.  

Sentido de Estado

Miguel Nunes Silva, 24.01.10

Manuela Ferreira Leite é um nome que não será porventura recordado pelas gerações vindouras mas que no entanto, ficará para a história do PSD e também para a do país. 

 

Ela foi a primeira mulher Presidente de um partido em Portugal mas sobretudo, a primeira a liderar um dos "dois grandes" da 3ª República.

Porém, mais importante do que os simbolismos, foi a sua determinação em não sucumbir à política espectáculo, numa altura em que o zeitgeist o ditava para todos os demais (Sócrates, Louçã, Portas).

Não se declarou a porta-estandarte de nenhum sonho nem prometeu o que não podia cumprir. Assumiu-se humildemente como uma gestora capaz e deixou o deslumbre dos programas omnipotentes e omniscientes, para outros.

 

Muitos acreditam que a sua seriedade foi levada ao extremo e que o abdicar da propaganda e da demagogia condenou o PSD a um resultado mediano. Mas os últimos meses vieram dar-lhe razão em muitas questões pelas quais foi crucificada na praça pública.

Na verdade Manuela Ferreira Leite foi penalizada por ter surgido antes do tempo. Ela encarna uma política mais séria própria de tempos mais civilizados, e se alguma crítica é justa é a de que ela não se apercebeu das limitações do país a que aspirava governar.

 

A próxima votação do orçamento rectificativo, a contar com os votos do PSD, consolidará Ferreira Leite como uma líder com sentido de estado. Pois é o orçamento em que o governo recua em grande parte do seu programa de campanha e é obrigado - sobretudo pelos seus credores, mas também pela pressão do PSD - a adoptar políticas austeras e fulcrais para a sustentabilidade do Estado Português.

Teria sido fácil para Ferreira Leite abster-se, dando assim fôlego populista ao partido, à oposição e ao eventual candidato que a irá substituir na rédeas do partido.

Mas sabendo de antemão a retórica barata e gasta, de que os extremos do parlamento vão fazer uso para atacar o "centrão", a líder do PSD preferiu apostar na estabilidade do país e do governo, demonstrando um sensato sentido de estado - por estes dias monopólio do Partido Social Democrata.

 

Teria sido fácil para a actual direcção, mudar de rumo durante a campanha eleitoral ou depois das eleições de modo a subir nas sondagens, através de tomadas de posição plásticas mais "populares".

Mas o rumo traçado como necessário ao país manteve-se e veio a ser provado como mais do que certo. Não só no "défice de liberdade" e na denúncia das políticas fracturantes com que o governo PS mantinha o país iludido, mas sobretudo na situação do endividamento externo nacional, que o escândalo Grego e a descida de Portugal nos ratings de fiabilidade vieram dramaticamente cravar, numa lista de prioridades que há muito os ignorava, mascarava ou deixava escondidos no verso do edital.

 

A psicologia faz a distinção entre as ameaças apercebidas instintivamente e as apercebidas logicamente. O medo de criaturas venenosas como serpentes é primitivo e faz com que todos os seres humanos evitem contacto com elas. O medo de engordar é lógico pois ainda que sabendo que podemos ficar obesos, a falta de temor imediato alimenta a falta de determinação a longo prazo.

Ferreira Leite possuía a força de carácter de que Portugal necessitava mas que os Portugueses envorgonhadamente preteriram a favor da banha da cobra.

Porquê? Porque os Portugueses são o povo do desenrascanço e não do planeamento.

 

Manuela Ferreira Leite falou honestamente e pagou por isso mas ainda que tal a deixe fora das crónicas mediáticas, o seu contributo para o país foi inestimável e por isso a memória da sua presidência merece ser perpetuada.