=Spoiler Alert=
Sou da opinião que as megaproduções de Hollywood deixam sempre algo a desejar em termos de argumento. Quando contratam bons e famosos actores, as minhas suspeitas tornam-se certeza quase absoluta.
Levaram-me ao cinema este fim de semana. Nada me suscitou interesse e porque não estava com pachorra para ver mais um chick flick, decidi arriscar sozinho no 2012.
Saí a pensar que a experiência, apesar de tudo, poderia ter sido bem pior. 2012 desilude pela gigante previsibilidade e pela narrativa hollywoodesca a qual, como sempre baseada nas epopeias gregas, nos apresenta um herói encarnando os valores nacionais americanos. Todas as personagens moralmente reprováveis são punidas pelo destino – e sobretudo pela morte, nos filmes catástrofe – e os heróis moralmente rectos e fisicamente atraentes, vêem a sua conduta idealista recompensada.
2012 não é tão mau como poderia ser porque sendo um filme universal, no meio de todo o limar de arestas que o permitem ser um filme para toda a família, não deixa de fazer o espectador reflectir. Em 2012 não temos um mas sim dois heróis e correspondente quantidade de vilões. Para mais facilmente gerar empatia entre os espectadores, temos o average Joe, um pai americano a tentar salvar a família e temos ainda Adrian Helmsley (desempenhado pelo brilhante actor Chiwetel Ejiofor – fiquei fã depois dos primeiros 10 minutos do filme “Serenity”) o cientista que – verdadeira antítese Obamiana do Dr. Strangelove e talvez uma tentativa de purgar a imagem do génio maléfico de sotaque alemão – consegue salvar a humanidade enquanto seduz a filha do Presidente dos EUA. Do lado negro temos um multi-milionário Russo personificando o egocentrismo e o oportunismo, em tempos de tragédia, e ainda Carl Anheuser (interpretado pela belíssima escolha Oliver Platt - é preciso vê-lo em “Huff”), o Chefe de Gabinete do Presidente, que é representado como um maquiavélico cobarde.
Aquilo que é aberrante nesta narrativa em particular, é que sempre que o cientista Helmsley confronta o político Anheuser com os métodos inumanos que este último emprega, o político deixa o cientista sem palavras face aos seus argumentos. No entanto, a mensagem que passa é a perversidade de Anheuser e as boas intenções de Helmsley.
No clímax do filme, Anheuser recusa-se a autorizar a entrada no super paquete de fuga, a muitos milhares de refugiados quando faltam 15 minutos para o impacto do oceano que varre o mundo. O cientista Helmsley desafia a hierarquia do navio e exige que as comportas sejam abertas para acolher os refugiados, desencadeando assim uma sequência de eventos que acabará por pôr em perigo o navio americano bem como outros.
Por conseguinte, o espectador recebe a mensagem que os políticos são maus e que a hierarquia pode e deve ser desrespeitada em circunstâncias de catástrofe.
No fim, a única pessoa que tem o discernimento e a presença de espírito para desenvolver e ser consequente no empreendimento da continuação do governo e no projecto de repopulação do planeta, passa a mau da fita, e o indivíduo que cede às emoções e põe todos em perigo é elevado a herói e acaba com uma igualmente atraente ingénua…