Confirma-se a suspeita: a edição deste ano da Universidade de Verão deve ser seguida com especial atenção. Logo na sessão formal, já se registou um facto político que deve ser assinalado e que se prende com o programa eleitoral do PSD. Explicarei de seguida este ponto.
Antes porém, gostaria de assinalar o discurso francamente positivo de Pedro Rodrigues. Conciso, acutilante, juntando aos habituais (e anuais) elogios e recomendações aos alunos da UV, a crítica política à Juventude Socialista. No fundo, a relevar aquilo que mais separa as duas juventudes partidárias: a seriedade e o rigor. Daí a JSD organizar a Universidade de verão, respeitada e com impacto mediático, e a JS organizar como bandeira da sua rentrée uma festa com DJ's no mesmo dia de uma acção de campanha com Sócrates. O mais engraçado ´que o cabeça de cartaz não é Sócrates, não é António Vitorino, não é ninguém conhecido pela sua intervenção cívica e política - mas é o DJ Fernando Alvim, como se infere do cartaz promocional da festa. Enfim, diferenças de estilo e perspectiva sobre a política...Bem metida a achega pelo líder da JSD.Gostei.
Mas, a intervenção política mais sonante, e que me surpreendeu pela carga política, foi a de Alexandre Relvas, presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro. Porquê? Porque permite antever o que será o programa eleitoral do PSD que Ferreira Leite apresentará na Quinta-Feira. Duas conclusões são evidentes:
1.º - A acentuação e enfâse do discurso de diferenciação em relação ao Partido Socialista. Até agora, a diferenciação era meramente formal - nós falamos verdade, eles mentem e é só propaganda, nós somos sérios e cumprimos a nossa palavra, com eles é tudo fogo de artifício ou o "Governo do quase"(quase reduzem desemprego, quase reduziam o défice, quase...). A partir desta semana, a diferenciação passa a ser também material: nas propostas concretas e nos temas a abordar. Com esta particularidade: o PSD vai virar ligeiramente à direita. Os últimos presidentes do PSd (que tiveram alguma longevidade), Durão Barroso e Marques Mendes, eram, por vocação, centristas. Ora, este PSD assume-se claramente como de centro-direita. Situa-se ao centro nas políticas económicas e sociais, na intervenção do Estado no auxílio dos mais necessitados, no combate ao desemprego (preocupação máxima do PSD), em que se rejeita a ideia de um mercado desregulado, a funcionar através da mão invisível. E é de direita, nos costumes, nas políticas demográficas, rejeitando o casamento entre homossexuias (e as causas fracturantes) e colocando o enfoque nos incentivos à natalidade e no papel da família tradicional.
2.º - Relvas falou da relevância da agricultura, em termos económicos e sociais: convergência com o discurso de Paulo Portas e do CDS/PP. Temos assim, em plena Universidade de Verão, sessão de abertura, a confissão implícita de que o PSD tem no seu horizonte próximo a intenção de coligar-se com o CDS, se os resultados eleitorais forem abonatórios. Era a hipótese mais plausível - ficam dissipadas todas as dúvidas sobre este ponto. E, assim, se vê, a força da Universidade de Verão, que vale mais do que qualquer comício e os agentes políticos compreendem a sua importância...
Em conclusão, a estratégia do PSD é cuidadosa e inteligente. Perante a ocupação pelo PS de parte do centro, o PSD diferencia-se com a visão que tem do papel do Estado na economia e,sobretudo, na sociedade, assumindo-se, em alguns pontos, como de direita. Na perspectiva de uma coligação com o CDS/PP.