"DEPOIS DE MIM VIRÁ... Luís Filipe Menezespresidente da Câmara de Gaia e ex-presidente do PSD
Nem quero imaginar o que se escreveria sobre o anterior líder social-democrata se ele, em escassas seis semanas, não tivesse divulgado uma proposta, estivesse em hibernação enquanto os camiões bloqueavam o País e culminasse tal período de ausência com a pomposa declaração de que o casamento era um magistério virado em exclusivo para a procriação! Aquando da sondagem de Fevereiro, o anterior líder do PSD afrontava o pico de uma campanha negra, interna e externa, nunca vista antes em mais de trinta anos da nossa democracia. Ao invés, nestes 45 dias ninguém criticou as omissões, os silêncios, o discurso generalista, ou o conservadorismo radical da actual direcção do partido. Ainda bem, todos merecem o seu estado de graça. E isto de ser líder tem que se lhe diga.
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Contudo, muito do que quis provocar com a minha demissão está atingido. Não houve uma eleição eufórica e já está provado que não é a mudança de "chefe", por mais que um substituto seja levado ao colo pelos interesses instalados e pela intelligentsia que parasita o statu quo, que resolve as entorses estruturais do PSD.Em trinta anos, o PSD especializou-se em dizimar presidentes.
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Menos tempo, ou tão pouco quanto eu próprio, passaram por S. Caetano à Lapa, Emídio Guerreiro, Rui Machete, Sousa Franco, Menéres Pimentel, Santana Lopes. Pouco mais tempo, exclusivamente por "culpa" da inércia dos calendários eleitorais, estiveram Mota Pinto, Fernando Nogueira e Marques Mendes. Saíram ainda sem glória Marcelo Rebelo de Sousa e Durão Barroso!!!O PSD só "tolerou" dois líderes em três décadas: Sá Carneiro e Cavaco Silva. É decisivo que os seus militantes e apoiantes entendam o porquê de tal bizarria.
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Dos actuais vice-presidentes e apoiantes de topo da actual maioria, foram vários os que deram a cara em 50 (!) entrevistas televisivas nos primeiros 60 dias do meu mandato. Todas a criticar e a pedir a substituição da direcção mais representativa da história do PSD. "Nem que fosse à bomba!"Para além do citado Carnaval, acusavam-nos de não fazer oposição, de não dinamizar as bases e de não ter um discurso e propostas estruturadas!!!
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Hoje é claro que a substituição de Ângelo Correia por António Capucho não deu mais credibilidade à liderança do Conselho Nacional, que a substituição de Amorim Pereira por Morais Sarmento não trouxe nada de novo. Finalmente é óbvio que a substituição de Santana Lopes por Paulo Rangel diminuiu substancialmente a capacidade de afirmação parlamentar.
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Mas para que o PSD possa regressar aos tempos altos da militância como com Sá Carneiro e Cavaco Silva, e daí chegar ao poder com solidez e capacidade reformista, é preciso que o partido se modernize e se repense ideologicamente. Isso só será possível se o caminho que a minha direcção estava a trilhar possa ser retomado.
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Um partido de bases para voltar a reformar o País."
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