Um artigo de Inês Aguiar Branco
No mundo mediático em que vivemos as expressões de verbo complicado florescem quando reportadas a certas “eminências pardas”…passo a explicar exemplificando.
O Sr. Fulano não compareceu, claro está, “dignou-se a comparecer” em determinado lugar“, onde proferiu algumas palavras”. Note-se que não disse, “proferiu”, porque dizer todos dizem, e “dignou-se”, isto é, teve a generosidade de se deslocar para “usar da palavra”, outra bonita expressão. Quanto ao “algumas”, é um notável eufemismo porque em geral essas palavras são muitíssimas, já que, suas excelências quando tem palco gostam muito de se ouvir.
Pena é que estas expressões de verbo complicado reportem, na maior parte das vezes, pessoas que não lhes dão o devido requinte e categoria…se fizermos um exercício e substituirmos o Sr. Fulano do segundo parágrafo pelo nome de um político que normalmente se faz anunciar acompanhado por estas expressões de verbo complicado… (seja ele Sócrates ou não), sim porque Sócrates também se digna a aparecer para proferir algumas palavras…, facilmente concluímos que é muita a parra e pouca a uva…
Hoje em dia todas estas expressões de verbo complicado são sinónimos de sabedoria e de importância, porém, não raras vezes acontece que aquele que se “digna aparecer” não sabe, nem é, metade daquilo que é, e sabe, aquele que simplesmente comparece…
Afinal o que é que caracteriza uma pessoa? Aquilo que ela é, diz e faz, ou aquelas expressões de verbo complicado por que se fazem anunciar?
PS: Não podemos esquecer que enquanto Cavaco Silva comia bolo-rei de boca aberta, Mário Soares fazia testes aos níveis de testosterona!