País de suicidas e treinadores de bancada
Dizia Miguel de Unamuno - para ser diferente e não usar as citações do costume de Julio César, Carlos I ou Salazar - que "Portugal é um País de suicidas". Se o somos enquanto povo, não sei, mas que somos um país de treinadores de bancada governados por uma classe política suicida disso não tenho dúvidas, depois do que se assistiu nas últimas 72 horas.
Mas antes de falar sobre o "Homem Politico" - o de "direita", não o outro, de férias em Paris, que vai dando um ar da sua graça numas aparições "animalescas" na RTP, graças ao muito essencial serviço público de TV - gostaria que alguém ajudasse um pobre coitado - o autor desta "posta de pescada" que agora estão a ler - a entender algumas coisas.
É que há coisas neste filme que eu não entendo. Senão vejamos. Do chumbo do Tribunal Constitucional passamos à "Reforma do Estado" - aquela coisa etéria que andamos a discutir ... desde o tempo d'Os Maias (o Carlos, o Afonso e o João, entenda-se) e ao fecho da setima avaliação. Passamos pela casa da extensão de maturidades (também conhecido por "reestruturação de dívida light sem adição de corantes e conservantes") e chegamos à oitava avaliação e à apresentação do celebre "Guião da Reforma do Estado". Não vou dar a piadinha facil e perguntar se o Ministro em causa o "comeu", mas há OVNIs com maiores provas de avistamento que este suposto "Guião", que se diz que foi visto em Alcobaça, numa breve "aparição". É um dos OPNIs que por ai anda, digo eu.
Chegados aqui, de todas as alturas possíveis e imaginárias, o "Pai da Austeridade" decide um dia demitir-se e renegar a paternidade da coisa com uma bonita carta de despedida? Não será, digo eu, alheio o facto de, na semana passada, se ter assinado um acordo com o maior lobby da função pública a dispensar 30 por cento da função pública dos demoniacos "cortes", matando a suposta "Reforma do Estado". Essa já estava em coma, arrisco eu.
Segue-se a peça de teatro mais deprimente que há memória na história da Democracia: a demissão do "Homem Político" por, não ser ouvido - foi isso certo? O mesmo que, neste bonita prosa que se segue, disse:
"(...) com dois terços do programa de assistência cumpridos; e em circunstâncias de grande volatibilidade externa, a avaliação que fazemos é que precipitar uma crise conduziria a riscos maiores e não controlados, até porque ninguém pode honestamente prever o preço da ruptura da nossa credibilidade externa. (...) Ao invés, o CDS considera que é num quadro de estabilidade e de procura de consensos políticos que se podem obter as mudanças necessárias no relacionamento com a missão externa e na margem de manobra do Estado português."
Isto no longicuo mês de Junho... do corrente ano. Mas vá, vou dar de barato a abébia: Tinha, e tem, razões objectivas - que seguramente estão junto com o Guião da Reforma do Estado. Depois do país de "suicidas" ser refém durante 24 horas duma eutanasia, heis que, alguém se apercebe com a reacção dos mercados, que afinal se calhar é melhor voltar atrás. E que melhor solução senão mandatar O senhor em causa para ir renegociar a coisa, no equivalente político a - tomando as palavras a Helena Cristina Coelho, no DE - "mais ou menos o mesmo que pedir a um incendiário que, depois de pegar fogo à floresta e ficar a vê-la arder, regresse ao local do crime com uma caixa de fósforos e um bidão de gasolina nas mãos.". Talvez alguns membros tenham olhado para o seu cartão de militante e interrogado o que significava a sigla "PP"... se calhar não é "Popular".
Enquanto todo este triste espetaculo decorre, num País refém - do quê pouca gente percebeu - o maior partido do Governo age da melhor forma que sabe: um terço suspende a respiração, outro terço faz contas, e o restante terço abre o champanhe e faz fila para vir falar à TV, na normal demonstração de Canibalismo e Autofagia de Líderes.
Confesso que perdi o sentido de humor ao longo das últimas linhas, pelo que vos irei dispensar de mais trocadilhos. Mas há coisas que têm de ser ditas, e bem ditas. Em primeiro lugar, Senhor Doutor Vitor Gaspar, importa-se de explicar ao País a sua fuga... peço desculpa, demissão?
Em segundo lugar, e bem mais importante, importam-se os suspeitos do costume de olhar para um certo cartaz de um certo partido azul e "parar de brincar aos políticos"? Meus senhores, entendam-se no essencial: não há dinheiro! (e para os que não prestaram atenção, a brincadeira de ontem custou, muito provavelmente, o regresso de Portugal aos mercados este ano, quando temos 40 mil milhões de euros em necessidades de financiamento para 2014-2015). "Estimular a Economia e baixar os impostos" passa bem no jornal das 20, mas se não explicam onde se vai buscar o dinheiro e quais as opções a não haver convergência das pensões, cortes e despedimentos, façam o favor de não perderem mais oportunidades para estarem calados e nos dispensarem a estes espetáculos.
O que me leva ao PSD. Eu não fui apoiante do actual Primeiro Ministro. Não votei nele nem na 1ª nem na 2ª vez que ele foi a votos no PSD. É sabido e nunca o escondi, que discordei do que ele dizia económicamente. Mas há limites à paciência. Também gostava de parar a austeridade e de não despedir ninguém. Mas como não tenho alternativas, não ando em forum público entretido a dizer o que não se deve fazer - como economista, já o sou muito bom a fazer em privado. Que, convenhamos, é um caminho facil: "É preciso reformar o Estado... mas não se pode tocar em a, b, c, d, ...". "É preciso cortar na despesa... toda menos a x, y, z". As letras normalmente abarcam 90% das funções e 80% da despesa. E não venham a praça pública com as Gorduras: até o PM já se arrependeu dessa.
Agora este triste espétaculo do corrupio de "treinadores de bancada" que sabem muito bem o que não se pode fazer - do CDS ao PS, passando por muito PSD - e que populam as TVs como comentadores - nos intervalos das idas a Fátima para colocar a velinha para o actual PM falhar - é que já passou do prazo de validade. Para quem ainda não entendeu: Se Passos Coelho falha, falha o País. É o Primeiro que temos e que tem de acabar a legislatura. Tem de acabar o programa de ajustamento e tem de garantir o financiamento para o pós-troika, ou alguém no PSD ou PS tem um cheque de 33 mil milhões de euros, que é o valor necessário até às legislativas de 2015? E se este senhor falha, não há segunda oportunidade. Há segundo resgate.
Termino com isto: senhores, organizem-se. O País não está em condições de aguentar "politiquice partidária". Como bem se viu ontem.