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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Sobre a mundivisão de António Costa

Miguel Nunes Silva, 11.04.13

António Costa fez estrago na última edição da Quadratura. António Costa é um político perigoso porque ao contrário de Sílvio Sócrates, Costa consegue fazer passar a mesma mensagem de forma mais subtil. Costa tem inteligência enquanto que Sócrates apenas tem lábia.


E qual é a mensagem? Que há uma conspiração contra Portugal da parte do mundo exterior que impede que os governos Socialistas direccionem o país na direcção certa.


 

 



Vamos então por partes:



1 - "A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir"


Isto é verdade. Mas vindo de António Costa não é inocente...


(Já por várias vezes eu aqui avisei que Portugal tem pouco a ver com o resto da Europa a nível estrutural, e portanto mantenho que a opção Europa sempre trará problemas tal como traz soluções. Como tal não vou ser eu a defender a UE. Este modelo era errado, porque há diferenças estruturais e culturais que favorecem mais a industrialização do norte que do sul)


1.1 - Sim, a Europa financiou uma reconversão da economia dos países do sul que para controlar preços frequentemente pagava para não se produzir. Mas o que Costa não diz é que a UE também pagou a modernização de grande parte dessa agricultura.


1.2 - A UE também protegeu a produção dos países do sul, ao impor tarifas a produtos agrícolas mais baratos do 3o mundo e impedindo a sua competitividade no mercado único.


1.3 - A UE até pagou fundos de coesão aos países do sul, e fez tudo isto com a convicção de que o sul - desde que ajudado o suficiente - conseguiria atingir os níveis de desenvolvimento do norte.


1.4 - Mas este é o mesmo Costa que defende 'mais Europa' e que esteve nos governos que tomaram essas mesmas opções. Das duas uma: ou ele e o PS são hipócritas ou então sempre defenderam as políticas certas mas não foram capazes de as implementar contra o peso da influencia do norte; por conseguinte isto não é tão pouco, alternativa pois quem nos garante que se o PS ou Costa voltarem ao governo serão - desta vez - capazes de fazer seja o que for?



 

 

2 - "esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável"

 

Não só não é nenhuma mentira como o PS é o melhor exemplo de despesismo consumista baseado em dívida.


2.1 - Ninguém obrigou Portugal a gastar como gastou em infra-estruturas sem plano estratégico de desenvolvimento. Expo98s, Euro2004s, auto-estradas paralelas, TGVs, cheques bébé assim como educação e saúde gratuitas, tudo isto foram escolhas nossas e não dos nossos parceiros da UE.


2.2 - E o erro não foi apenas dos governos mas também da população, a qual fez uma escolha muito clara quando elegeu a banha da cobra socratista em detrimento da responsabilidade do PSD de Manuela Ferreira Leite em 2009. A mesma população que elegeu e reelegeu Valentim Loureiro, Alberto João Jardim e demais pandilhas.

A partir daqui meus amigos, há que arcar  com as consequencias dos nossos actos.


2.3 - Os Portugueses e apenas os Portugueses decidiram aumentar o seu consumo não obstante a estagnação económica. Mais ninguém.





3 - "acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses"



3.1 - As lideranças do norte também fizeram escolhas sensatas em prol do interesse nacional que as lideranças do sul não fizeram como bem explica o Guilherme.





4 - "foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!"

 

Aqui começa em pleno a argumentação populista e berrantemente falaciosa de Costa.


4.1 - Portugal e a Europa no geral não sofreram porque decidiram liberalizar-se mas sim porque a Europa foi sobre-regulada. Os países nórdicos e a Alemanha estão habituados a produzir num ambiente sobre-regulado que também lhes garante produtos mais fiáveis. Nos países do sul a sobre-regulação - desvantagem competitiva do norte, exportada para o sul através da integração Europeia - destrói a indústria residual.

Ao contrario de outros acordos de liberalização económica, a UE não elimina apenas as tarifas mas impõe também padrões de eficiência e qualidade que apenas os países mais industrializados conseguem atingir. Assim, mesmo que acreditemos na mensagem de Adam Smith de que cada região se tem de especializar, nem isso foi atingido pois o plano Europeu era igualizar todos os países em termos de produção. Por conseguinte, ao contrario da NAFTA ou da ASEAN, aonde o comércio é livre e cada país consegue competir com as suas vantagens comparativas - sejam estas preços ou qualidade - na UE a intenção universalista de aplicar o modelo nórdico de eficiência a toda a Europa, acaba por condenar a própria Europa a um modelo de fracasso.


4.2 - Portugal e a Europa no geral não sofreram porque decidiram liberalizar-se mas sim porque a globalização libertou mercados que agora podiam competir connosco.


A vontade dos governos Europeus sempre foi garantir pleno emprego mas isto foi-lhes negado pela realidade das descolonizações e da derrota da URSS e do bloco socialista. O fim dos impérios coloniais - defendido com unhas e dentes pela esquerda e simbolizado em Portugal pelo abandono das colónias em 1975 e a celebre ordem de Mário Soares para se atirar os 'brancos' das colónias aos tubarões - ditou que a economia destes países estaria ela também e a partir de agora, em competição com o mercado Europeu.


Mesmo que os governos Europeus não tivessem liberalizado a economia, o que não foi completamente o caso, os mercados emergentes teriam sempre tido uma vantagem em comparação com a Europa. Mesmo que as empresas Europeias não tivessem ido para leste, o leste teria vindo para ocidente. A partir do momento em que se defende o fim do imperialismo, defende-se também o fim do nosso controlo sobre o mundo e isso, por mais que a esquerda esperneie, foi detrimental para os nossos interesses...




5 - "Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável"


5.1 - Claro que não. Por isso é que Costa defende mais governo e mais regulação. Porque isso sim fará com que a nossa economia seja mais competitiva... - assim retirando a vantagem competitiva dos nossos salários baixos e fornecendo mais achas para a fogueira da corrupção de que ele se queixa. Pondo mais dinheiro nas mãos do governo falhou antes e levou a corrupção, por isso façamos o mesmo outra vez...




6 - "Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma"


6.1 - Mas quem é ele para se armar em autoridade moral?!!! Mas nao fez ele parte de vários governos que resultaram nisto?

E mesmo que ele - a mesma pessoa que fez a defesa semanal de José Sócrates - seja diferente de todos os outros políticos, que tem o PS proposto para acabar com esta cultura? Porque afinal quem defende que despesismo estatal retira países de crises financeiras são os filósofos da esquerda...


6.2 - Mais grave é o que está implícito em declarações destas: que o povinho não tem culpa nenhuma e que deve portanto continuar a ser desresponsabilizado. Responsabilidade individual? Inexistente. O que sim é importante é o comportamento das elites, as mesmas elites estado-sanguesugo-dependentes que o PS e a esquerda criam ao expandirem o controlo do estado sobre a economia.

É assim que a esquerda quer levar Portugal para o futuro: Não incutindo o mínimo sentido de responsabilidade na população. Para quem defende a educação como veículo para a prosperidade, a esquerda é bem hipócrita naquilo que entende como maturidade cívica.





7 - "os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas pública"


7.1 - É a desresponsabilização completa. O país está como está porque conspiraram contra ele. O comportamento das massas em nada contribuiu para isso. Logo, os Portugueses devem poder reclamar ainda mais 'direitos' e mais despesismo estatal. Seguramente isso trará bons resultados porque afinal foi o que andámos a fazer nas últimas décadas e resultou tão bem...





8 - "Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam"


8.1 - Ou seja, os salários dos políticos devem ser cortados e as grandes fortunas taxadas até ao limite. Isto é óptimo: vai ser mesmo assim que se vai conseguir re-atrair investimento estrangeiro - do qual um país periférico necessita - e vai ser mesmo assim que se vai atrair talento para a função pública. Porque realmente, são os salários dos políticos que arruínam o país. Os 80% do orçamento de estado que é gasto na saúde, educação e segurança social, assim como nos juros dos empréstimos que contraímos para sustentar estes programas, isso não interessa nada nem tem nenhum efeito, mesmo com uma população em diminuição.


Afinal, Costa acha que o milagre e bem fácil pois "Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos". Pois é. Se ao menos tivéssemos tido um governo socialista durante as últimas décadas com Costa como Ministro...


8.2 - Como eu já antes avisei, esta é a nova utopia da esquerda: que se pode acabar com a corrupção e ser-se eficaz com os gastos ao ponto de sustentar um sistema que nunca antes foi sustentável - e que agora ameaça o estado Português com a ruína. Mas os cidadãos com empregos de classe média baixa, devem ter as regalias dos povos com uma maioria de empregos de classe média alta, mesmo que sejam os outros países a pagarem os nossos 'direitos'...


Porque ao defender a 'renegociação' da dívida sem penalizar os cidadãos, é precisamente isto que Costa quer. Se ao menos nós Portugueses pudessemos culpar os Alemaes pelos danos infligidos pela 2a Guerra Mundial. Infelizmente, ao contrário dos Gregos, nem este bode expiatório temos... que maçada...




9 - "Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção"


9.1 - Coitadinhos dos cidadãos, que apenas gastaram o que não tinham no banco. Os mauzões dos políticos é que vão ter que sofrer. Afinal acabar com a corrupção - fenómeno cultural e endémico a culturas mediterrânicas - é tão fácil como acabar com o crime. Francamente porque é que nunca ninguém se lembrou de fazer isto?...





9.2 - O problema é que não é direito se não se pode concretizar. Podemos dizer que é um ideal ao qual aspiramos mas não é um direito.

Como sempre, a esquerda nada tem a oferecer senao sonhos e utopias. E quando estas bolhas se rompem, há que inventar bolhas ainda maiores porque as pequenas ja não enganam ninguém.


Esta é a esquerda do poker: quando não se tem trunfos, faz-se bluff...

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