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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Quando os anciãos não são sinónimo de sabedoria...

Miguel Nunes Silva, 20.02.13

Há vezes em que é notável o quanto se pode discordar de afirmações sucedâneas de uma figura pública.

 

O Cardeal Patriarca D. José Policarpo, na sua entrevista à RTP, apresenta um dos maiores chorrilhos de disparates que tenho ouvido nos últimos tempos - exceptuando os dos coitados da esquerda:

 

 

- "Não se deve usar o poder para fazer aquilo que não é preciso ser feito" comenta ele sobre a austeridade. Para já acho sempre imprudente um membro da Igreja pronunciar-se sobre política - quanto mais, política económica. Depois, se o que está a ser feito mal mantém Portugal fora da bancarrota, que dizer se se fizesse menos!!!

Finalmente, que tem a Igreja Católica feito em Portugal se não fechar igrejas e dioceses? Se a Igreja é exemplo de gestão, certamente que é de gestão de austeridade.


- A Igreja tem, segundo o Cardeal, de "estar presente, atenta a quem sofre”, oferecendo “amor, verdade e fé”. A sério? Porque aquilo que eu vejo pouco da parte da instituição, é precisamente presença. Eu vejo assistentes sociais em bairros sociais e de lata mas freiras e padres vejo pouco. Muito pelo contrário, a Igreja em Portugal tem-se pautado em tempos de crise financeira e de fé, por fechar capelas e paróquias pequenas para se concentrar em grandes e majestosas catedrais. É isto que é estar presente? Os padres que conduzem jipes em cidades do interior estarão mesmo a fazer tudo aquilo que poderiam fazer pelos seus rebanhos?...


Pior um pouco tem sido a 'verdade' falada aos paroquianos. Depois de há alguns dias ter provocado polémica a acção da Segurança Social no que respeita à retirada de crianças a famílias carenciadas, que tem a Igreja a dizer sobre o assunto? Pois é, é que Roma e o Papa são contra os métodos contraceptivos, mas quando isso perpetua a pobreza extrema, aonde está o 'amor' e 'presença' da Igreja?


- O Cardeal aventura-se também a opinar sobre a crise na Europa. D. Policarpo está preocupado com o chumbo do orçamento comunitário pelo Parlamento Europeu, chumbo que pode fazer “voltar tudo para trás” e “pode ser o gérmen do fim da união”.

Outro grande disparate fruto da ignorância de quem não conhece as matérias porque se o orçamento não for aprovado pelo Parlamento as conclusões a retirar são exactamente as contrárias: que o projecto Europeu foi demasiado longe ao dar mais poderes ao Parlamento Europeu - no Tratado de Lisboa - e que se houver chumbo Portugal ficará melhor porque no regime dos duodécimos, mantém-se o nível de despesa do orçamento precedente - que era mais alto.


- Ao Cardeal é-lhe ainda pedida a opinião sobre a questão do sacerdócio feminino que D. José Policarpo considera que “não é uma prioridade”. A sério? Numa instituição aonde o número de vocações está em declínio grave e em que as igrejas rivais exploram todas as vias de competição pela fé dos crentes, o sacerdócio não é uma prioridade? Admiraria a confiança da resposta se esta não fosse cega...

Enquanto leigo, parece-me que num país aonde as beatas são já e desde há muito tempo o público alvo preferencial e principal fonte de rendimento da Igreja, que o sacerdócio feminino faz todo o sentido mas quem sou eu...


- Por fim, o Cardeal expressa ainda a desconcertante opinião de que não quer ser Papa. Poderia concordar dada a idade avançada do cardeal patriarca mas francamente não teria a lata de brincar com o assunto como ele fez. Há quantos séculos não temos um Papa Português? Pois já lá vão uns anitos não é? E não estaria um Papa Português na posição ideal para fazer a ponte entre os problemas de vocação da Europa e as preocupações religiosas do mundo em desenvolvimento?



Mas que vergonha de entrevista. Para isto mais valia ficar calado.

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