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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Palavra de ordem esquerdista: CORRUPÇÃO

Miguel Nunes Silva, 28.09.12

 

É a isto que leva o desespero. Em debates com esquerdistas na última semana, noto que há uma palavra de ordem a vir da esquerda, um argumento ex-libris, o último recurso de uma ideologia em doença crónica: 'Corrupção'.

A corrupção está em voga para os outros lados porque a esquerda depende hoje mais que nunca da retórica e 'corrupção' é um contra-ponto retórico contra o qual ninguém pode argumentar.

 

A coisa põe-se mais ou menos assim: depois da II Guerra Mundial e do fim do fascismo enquanto alternativo de modelo socio-económico, restaram as duas ideologias do comunismo e capitalismo. Finda a Guerra Fria e desiludido o mito do comunismo, a esquerda entra em crise. Da noite para o dia, a utopia do estado total bem como da economia planificada, implode.

Que fazer? A esquerda dividiu-se: uns mais centristas perceberam que ou se adaptavam ou eram reduzidos à insignificância política - o centro esquerda entra na 3ª via e torna-se liberal - outros decidem permanecer fiéis aos seus valores o mais possível e entram no reino da hiper-utopia - alterno-globalistas, 4ª internacional, neo-anarco-sindicalismo. Em Portugal o PS e o BE representam estas tendências respectivamente. 

 

Mas eis senão que chega a crise de 2008. O problema é que uma crise cíclica norte-Americana acaba por revelar uma crise estrutural Europeia.

Que fique claro que não é o modelo liberal que está em perigo - pois este sim é cada vez mais emulado pelo resto do mundo - mas sim o modelo social-democrata do estado europeu

 

A esquerda moderada que tem caminhado envergonhadamente para o campo ideológico da direita, ilude-se momentaneamente com a crise financeira e recorre ao seu paladino Keynes. A esquerda radical torna-se ainda mais irracional e na pessoa de figuras como Zizek, reclama a revolução para substituir o modelo neoliberal. Substitui-lo com o quê? Não se sabe. Zizek ele próprio pede que não se reflicta demasiado e que se faça a revolução pela revolução - não deve ter bem presente o resultado deste tipo de 'improviso' no último século...


Mas perante a inevitabilidade da austeridade, reclamada pela direita já antes da crise financeira, a esquerda fica atónita: que dizer agora para contrariar a direita? Como oferecer uma alternativa?

O argumento neo-keynesiano de mais investimento público para reavivar a economia não é passível de ser mais utilizado pois não só não há dinheiro para investir como a dívida reflecte o sobre-investimento/despesismo público das últimas décadas.


Solução? 'CORRUPÇÃO'.

Invocar a corrupção cobre dois problemas da esquerda: diferenciar-se da direita e oferecer um modelo económico alternativo à austeridade

O problema: em ambos os casos, a solução é puramente artificial e cosmética.

 

Reclamar que a direita é mais corrupta que a esquerda porque está mais próxima dos grandes negócios é tão somente um preconceito. Na verdade é mais a esquerda que expõe o sector público a promiscuidades ao insistir em intervir tanto com o estado na economia. Na verdade são os políticos esquerdistas que mais dependem da política para sobreviver do que os de direita que têm sempre um lugar no privado.

Isto em teoria, porque na prática em Portugal tem havido tantos escândalos de corrupção à direita como à esquerda.

 

Por outro lado, reclamar que os problemas económicos de Portugal derivam da corrupção é imensamente conveniente pois justifica um ataque familiar aos ricos e à classe política em geral, e levanta o ónus da austeridade, do sector social do estado.

 

A tragédia é que a corrupção em Portugal não só é endémica como não é a causa da crise económica do país. Obviamente não ajuda, mas utilizar a corrupção como argumento económico equivale a dizer que se amanhã se acabasse com todo o crime no país, o futuro seria radioso.

Não, não seria. Porque mesmo sem crime ou corrupção o estado continuaria a gastar 75% do seu orçamento com os sectores sociais, e a fazê-lo insustentavelmente. Um bom exemplo é a saúde: parece que se perdem 500 milhões resultado de corrupção - o que é muito - mas é necessário poupar quase 2 000 milhões em gastos. Ora , o que é mais fácil de garantir? Cortes na despesa? Ou optimização na mesma despesa? Cortar ou reformar? Reformas já houve muitas e ainda estou para ver uma que tenha contido gastos, quanto mais uma que acabasse com a corrupção...

 

O que se perde em corrupção é sempre demasiado mas não chegaria aos milhares de milhões de euros necessários para tapar os buracos das contas públicas - não pelo menos num país em que metade da economia está directa ou indirectamente dependente do estado - nem tão pouco chegariam as grandes fortunas. Isto mega-utopicamente partindo do princípio que não só seria possível acabar com a corrupção a breve prazo, como evitar que as grandes fortunas e/ou respectivos donos saíssem do país (porque se conseguiria fazer hoje, o que nunca havia sido feito na história de Portugal...).

Querer pretender que a população que grita 'GATUNOS' nas ruas tem razão, é fechar os olhos, enterrar a cabeça na areia e continuar a assobiar para o lado irresponsavelmente.

 

Mais uma vez a esquerda deste país revela-se gritantemente populista e demagógica.

2 comentários

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    Miguel Nunes Silva 29.09.2012

    Não a sério. De qual percipício estás a falar.

    Porque eus ei que não podes estar a falar do precipício da falência. Esse foi causado por quem arruinou o país e foi o PS que faliu o estado, não o PSD.
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