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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Perturbações

Essi Silva, 04.09.12



Fui à minha primeira tourada no final de Julho, antes de ir de férias. Nada por aí além, o espectáculo. Não desgostei. Passei a respeitar mais e reconheço que até gostei do espectáculo.

 

No exterior da Praça do Campo Pequeno, aguardavam alguns manifestantes. Não chatearam, para além de uns comentário de surdina.

No decorrer da tourada, ou da corrida, (ou o que raio chamam àquilo, que confesso que não percebo nada disto), num dos momentos de pega dos forcados, um destes foi colhido pelo touro e ficou num estado menos agradável.

 

Se é verdade que me incomodou o sangramento do touro, não me incomodou tanto como a forma como os meus vizinhos da aldeia matavam as galinhas, os coelhos e os porcos. Nem me incomodou como o estado em que o forcado ficou. Porquê? Sou humana. Preocupo-me com as pessoas, antes dos animais. Preocupo-me quando uma criança supostamente com síndrome de Down é falsamente acusada de queimar páginas do Corão, para que uma comunidade religiosa seja expulsa. Da mesma forma, fico chocada quando uma mãe pega fogo aos seus filhos e se suicida.

 

Ou quando um forcado fica paraplégico.

É que o nosso país não deixa grande conforto para quem perde a mobilidade. Seja de que forma for, com que idade for. E os seguros, esses pagam uma ninharia. Então numa actividade de risco como esta.

Não se admirem então, que fique minimamente revoltada quando leio comentários no Facebook como "coitadinho do touro", "o touro ficou bem?", "é bem feita para aprender" e afins.

 

O azar não acontece só aos outros. Todos nós estamos sujeitos a acidentes. Com actividade/profissão de risco ou não. Simplesmente uns decidem enfrentar os desígnios da vida e se expõem (possivelmente) mais às reviravoltas, que outros.

 

Antes de se preocuparem com os animais, preocupem-se com os humanos. Há muita gente neste país a sofrer, que bem precisava de uma palavra amiga, um carinho ou um tostão para comer.

 

 

 

Nota: este post foi pensado ontem, antes de conhecer a história da investida de um cavaleiro na Torreira, Aveiro, contra manifestantes. O cavaleiro e os manifestantes, acusam-se mutuamente de violência. É triste que com coisas tão mais essenciais e preocupantes a passarem-se no nosso país, andemos a preocupar-nos com coisas mesquinhas.