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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Leitura obrigatória

Rui C Pinto, 08.02.12

Ferreira Fernandes é daquelas pessoas que, concorde-se ou não com o conteúdo dos seus textos, vale sempre a pena ler. Hoje, dá-nos uma lição de história e um banho de realismo. 

 

"A agência de rating Moody's baixa a nota da Grécia; as taxas de juro explodem; o país declara falência; a população revolta-se; o exército toma o poder, declara-se o estado de urgência e um general é entronizado ditador; a Moody's, arrependida pelas consequências, pede desculpa... "Alto!", grita-me um leitor, que prossegue: "Então, você começa por dizer que vai recapitular e, depois de duas patacoadas que todos conhecemos, lança-se para um futuro de ficção científica?!" Perdão, volto a escrever: então, recapitulemos. Só estou a falar de passado e vou repetir-me, agora com pormenores. A Moody's, fundada em 1909, não viu chegar a crise bolsista de 1929. Admoestada pelo Tesouro americano por essa falta de atenção, decidiu mostrar serviço e deu nota negativa à Grécia, em 1931. A moeda nacional (dracma) desfez-se, os capitais fugiram, as taxas de juros subiram em flecha, o povo, com a corda na garganta, saiu à rua, o Governo de Elefthérios Venizelos (nada a ver com o Venizelos, atual ministro das Finanças) caiu, a República, também, o país tornou-se ingovernável e, em 1936, o general Metaxas fechou o Parlamento e declarou um Estado fascista. Perante a sua linda obra, a Moody's declarou, nesse ano, que ia deixar de dar nota às dívidas públicas. Mais tarde voltou a dar, mas eu hoje só vim aqui para dizer que nem sempre as tragédias se repetem em farsa, como dizia o outro. Às vezes, repetem-se simplesmente."

8 comentários

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    Rui C Pinto 09.02.2012

    Respira, Tell! Toma um kompensan.

    Ninguém está a culpar as agências de rating pelos problemas de dívida dos países.

    É feito um enquadramento histórico (e crítico) da sua actividade. Absolutamente legítimo e, como sempre quando escrito pelo Ferreira Fernandes, brilhante...
  • Ou não.

    Desculpa lá Rui, mas de brilhante não vejo nada.

    Vejo uma distorção de factos para criar uma visão simplista da história que convém a uma opinião.

    Se isto é critico eu vou "ali e já venho".

    A culpa da falência grega de 1932, e posterior ditadura militar fascista, foi a Moody's que desceu o rating?

    Não. O Dracma desfez-se porque o Banco Central grego na altura tentou manter o cambio fixo em relação ao dólar, e ficou sem reservas. O dracma desfez-se, o que desfez a economia - dependente em importações.

    E, já agora, o regime fascista só sobe ao poder em 1936.

    De 1932 a 1939 a Grécia vivia um período de enorme proteccionismo, quotas de importações e, dado o dracma se ter desfeito, ajudou a criar uma industria protegida. Neste período, o crescimento nominal do PIB grego foi em média 3,5% ao ano.
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    Rui C Pinto 09.02.2012

    Meu caro, a democracia é isto. O Ferreira Fernandes tem uma escrita brilhante, na minha opinião.

    A culpa da ditadura grega não foi certamente da descida do rating da Moody's, já o disse anteriormente.

    Mas a análise histórica mantém-se actual. Como reacção a uma crise financeira, há um histerismo analítico por parte de agências de rating que focam a sua análise em meia dúzia de países com dificuldades estruturais. E é óbvio que há aqui questões políticas, porque eu não tenho a mais pequena dúvida que um analista de qualquer uma dessas agências é muito mais displicente na análise que faz ao rating de Portugal ou Grécia do que ao rating da Itália ou França. Ou duvidas disso?

    Vamos separar aqui as águas. Agora, as agências de rating são ou não são passíveis de críticas? Na minha opinião são. E não é por ter o país intervencionado de calças na mão que o deixaria de fazer, naturalmente.
  • Mas a análise histórica mantém-se actual.

    Uma análise pressupõe factos. De preferência correctos. O texto não os contem. Contem sim uma distorção do que se passou na década de 30, na grécia.

    O meu ponto não é se as agências são ou não passíveis de criticas. Claro que são. O meu ponto é: o texto é factualmente incorrecto, uma distorção de factos para ser conveniente a uma opinião mascarada de análise critica.

    E quando um texto é incorrecto, não é uma questão de gosto. Já disse há bocado: os eventos que o texto descreve não ocorreram como o autor os descreve.
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    Rui C Pinto 09.02.2012

    Muito bem, mas como aferes a contribuição da descida de rating por parte das agências de rating e o consequente desastre económico?

    Isto é, que papel tem o mensageiro que toca o sino no desenrolar dos acontecimentos?

    Não me parece assim tão errado ligar os dois acontecimentos, nem tão pouco me parece uma tão violenta distorção dos factos como sugeres...
  • A mim parece-me muito errado.

    Porque o acontecimento chama-se grande depressão, teve o seu momento inicial na falencia dum banco austriaco, na teimosia da Fed e do Banco de França em acumular ouro, e na teimosia dos países afectados por fugas de capitais em tentar manter a paridade das suas moedas.

    O papel do mensageiro foi pouco ou nenhum. Além de que, o papel do "mensageiro" nos anos 30 era muito menor que agora. Os acordos de Basileia ainda não existiam (que forçam os bancos a largar activos se a notação descer), o NRSRO (Nationally recognized statistical rating organization) só entra em vigor, nos USA, em 1975 (é aqui que nasce o poder das "3 irmãs").

    As primeiras leis que impedem bancos de investir em determinados activos (catalogados de acordo com ratings) só são aprovadas em 1936, depois da obrigatoriedade de todos os activos terem ratings, com a criação da SEC, em 1934.

    Logo, até 1934, os ratings da Moody's não forçavam, por exemplo, vendas de obrigações por parte de bancos.

    Continuo a dizer: o artigo é historicamente incorrecto!!!!! Demonstra um total desconhecimento da história económica e financeira do século XX, em especial da Grande Depressão.

    Dizer que isto é brilhante é um grande passo.

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    Rui C Pinto 09.02.2012

    Eu confesso que fui ler novamente, a ver se me tinha escapado alguma coisa...

    Estão lá todos os dados que descreves. Até o próprio facto de o regime começar em 1936... Começo a desconfiar que nem tenhas lido o artigo...

    Mas não posso deixar de realçar que pela actua análise (que pelo que percebo é factual) o Ferreira Fernandes terá muita razão, já que o que vemos actualmente é uma repetição da história: "teimosia dos países afectados por fugas de capitais em tentar manter a paridade das suas moedas", com o acréscimo de que actualmente as agências de rating possuem mais poder.

    Continuo a dizer que o Ferreira Fernandes tem uma escrita brilhante e que é dos cronistas que mais gosto dá a ler na actualidade, ainda que muitas vezes discorde do que escreve.
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