Lobotomias
Na véspera da greve geral, Vítor Gaspar, Ministro das Finanças veio defender que não é tempo de “concentrar a atenção em interesses particulares e corporativos”.
Não é que seja a pessoa mais anti-funcionarismo público aqui do blog, mas reconheço a importância e os direitos essenciais que a escolha que os funcionários fizeram ao contratar com o Estado fizeram.
Como é óbvio, escolher trabalhar para o Estado em comparação com o sector privado tem de ter alguns benefícios, que compensem a diferença, por vezes substancial, de rendimento a que o público tem direito face ao privado.
Percebe-se então, que num país no qual uma larga população pertence ao sector público, cuja expressão mais significativa se enquadra em salários abaixo dos 800€, percebe-se porque é que uma consulta num dentista possa custar ao funcionário 2,49€. Ou que as garantias de duração contratual sejam reforçadas. Etc. Etc.
É claro que um dos maiores problemas do nosso funcionarismo público, é que devido às contratações extensivas nas gerações anteriores, algumas derivadas da famosa "cunha", muitos dos nossos funcionários públicos, caso se vissem confrontados com o desemprego e a procura de emprego no privado, estivessem muito aquém das competências procuradas no privado. Ora, assim a única viabilidade do nosso funcionarismo público, na sua maioria, é manter as garantias que tem: emprego e salário certos.
O que eu, de facto, não percebo, é a justificação de uma greve.
Aliás, até percebo: andaram a fazer lobotomias às escondidas aos nossos funcionários públicos.
Quer dizer, há anos que sabemos que os sindicatos têm uma utilidade marginal nula. Defendem muito mal os interesses daqueles que devem proteger e representar, querem sempre fechar a porta a acordos que diminuam as garantias salariais e as mordomias mas mantenham os empregos, e acreditam (ou será que é só bluff) que uma greve vai mesmo obrigar o Governo a mudar de ideias.
Estamos numa CRISE. Não podemos voltar atrás numa máquina e corrigir os erros. Temos de cauterizar as feridas do Estado antes que se esvaia definitivamente de sangue.
Uma greve, por mais injustas que pareçam as medidas, só trará mais consequências e mais dificuldades. Os privados sofrerão com ela, implicando uma perda de milhões não só para o Estado como para o sector Privado, e com ela perda do poder de compra e um golpe duro às finanças de quem também tem sofrido com a crise e que não tem emprego ad eternum garantido e as benesses do costume.
E quanto mais dinheiro o Estado perder, quantos menos impostos puder colectar do sector privado (que com cada vez menos lucro, menor pode ser a colecta), até porque o sector Privado não é todo composto por Soares dos Santos, Belmiros e companhia, mais duras serão as medidas.
Portanto um conselho rápido: deixem-se de mariquices e virem-se para o vosso trabalho. Porque só com muita produtividade é que Portugal poderá recuperar o que perdeu rapidamente.
Nota de rodapé: E deixem as pessoas irem para os seus empregos que quem verdadeiramente tem contas para pagar (e não tem carro por causa disso), não se pode dar ao luxo de faltar ao emprego por causa de greves.