Lições da relatividade de Einstein
Einstein deixou um trabalho filosófico extenso nas suas fórmulas científicas. Muitas dessas fórmulas complementam-se nas de Heisenberg, Bohr, ou Schrödinger. Mas todas estas fórmulas serviram, para a geração de físicos dos anos 30 do século passado introduzirem nos modelos científicos clássicos os princípios da incerteza e da relatividade.
O que quer isto dizer?
Que Newton definiu as leis clássicas da física baseado no facto de uma maçã lhe ter caído na cabeça. Dois séculos mais tarde, Einstein percebeu que dependendo da forma como se olha para a maçã e para Newton, tanto podia ser a maçã a cair na direcção da cabeça de Newton, como podia ser a cabeça de Newton a cair na direcção da maçã. Isto é, tudo depende do referencial do observador.
Também o discurso político deve obedecer à relatividade do referencial com que se analiza a realidade. É esta a principal lacuna do discurso político conservador: tem absoluta necessidade de ler o mundo de acordo com um referencial por forma a construir realidades dialécticas: bem vs. mal; trabalhador vs. preguiçoso; impostos vs. liberdade. Este é o seu principal trunfo na mobilização do seu eleitorado, mas é o seu principal calcanhar de Aquiles pois leva inerentemente a leituras erradas da realidade. Este é o discurso do Tea Party e do Flea Party. Há alguma ideia construtiva que tenha saído de qualquer um dos movimentos, pergunto eu? O discurso de ambos os movimentos limita-se a diabolizar o opositor. O Tea Party diaboliza Obama e os impostos e o Flea Party diaboliza Wall Street e o capitalismo. Isto leva a que se vejam pensionistas empunhando cartazes contra a Segurança Social e jovens protestando contra o capitalismo enquanto tiram fotos do seu iPhone.
O mundo não é a preto ou branco. O mundo é feito de tons de cinzento.
Quando temos um saco de dinheiro para distribuir por meia dúzia de pessoas e criamos regras para promover essa distribuição estamos inevitavelmente a criar assimetrias na distribuição. Privilegiamos sempre uns em detrimento de outros. A única forma de legitimar essa distribuição é manter todos minimamente satisfeitos. É o que se passa hoje. Há óbvios motivos de descontentamento em relação a Wall Street e às práticas que desencadearam a actual crise financeira. É por demais óbvio que a factura da crise actual só será paga pacificamente se for equitativamente paga por todos. O discurso de que quem protesta devia mas era ir trabalhar é, no máximo, um piropo. É absolutamente natural que haja indignação e, sobretudo, legitimo. Não quer dizer que partilhe das soluções que os "indignados" propõem, ou das suas formas de protesto. Quer dizer que comungo, com eles, alguns dos motivos que os levam a protestar.