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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Europeísmo à Portuguesa

Miguel Nunes Silva, 23.10.11

 

 

José Sócrates descreveu Lisboa como um “porto de abrigo para a Europa” durante a cimeira de 2007 que aprovou o Tratado com o nome da capital. Porquê? Ora, porque “Portugal é Europeísta”, todos o sabem – pelo menos os nossos políticos e comentariato. Coitados daqueles arrogantes Britânicos arcaicamente irredutíveis em relação a sistemas de medidas e direcção da faixa de rodagem. E que dizer do eurocepticismo paroquial dos democraticamente atrasados Polacos e Checos…

Cronologias sobre a construção do projecto de integração Europeu abundam nas prateleiras estes dias mas quem se debruce sobre a história do projecto Europeu, tem que indagar mais cedo ou mais tarde: “mas que raio tem isto a ver com Portugal?”

Não quero com isto dizer que Portugal não é um país Europeu ou que não lucrou com a UE mas sim expressar a minha surpresa perante tal absoluto consenso. Que inspira afinal o nosso povo a tanta fé em Bruxelas?

 

- Ao contrário dos seus parceiros na Europa central, Portugal não tem nenhum trauma de guerra que dê ímpeto a correntes pacifisto-federalistas;

 

- Também resultado da Segunda Guerra Mundial, Portugal não esteve sob pressão para reconstruir a sua economia e infra-estrutura rapidamente como estiveram as nações devastadas pelo conflito e como tal a ideia de um mercado integrado não deveria constituir uma prioridade de maior para a sociedade Portuguesa;

 

- Mais uma vez em oposição à Europa central, Portugal não teve que acolher massas de trabalhadores imigrantes depois da segunda grande guerra e como tal não houve em Portugal correntes apologistas de projectos de integração multi-cultural;

 

- Se é verdade que Portugal sofre actualmente de um trauma colonial, também se verifica que ao contrário de outros estados-membros Portugal não foi um neocolonialista no hemisfério sul, tendo a sua epopeia de presença naquelas terras começado muitos séculos antes da Conferência de Berlim. Assim, enquanto que a perda das colónias significou um ‘retorno à Europa’ para os outros povos Europeus, Portugal dedicou-se a promover a CPLP e a cooperação tropicalista;

 

- Em contraste com muitos estados saídos da Guerra Fria, Portugal não é um estado recente com um fraco sentido de nacionalidade ou tão pouco um mero ‘estado-étnico’. Portugal será em breve uma nação com 900 anos de história e a soberania tem para nós muito valor;

 

- Enquanto vários estados europeus como a Bélgica ou a Alemanha prefiguram a sua existência com estruturas federais, Portugal é já desde há muito tempo um estado unitário seriamente centralizado e apenas com más experiências no que toca a ‘partilhas de soberania’;

 

- Ao contrário dos povos da Europa central, os Portugueses nunca tiveram que coexistir ou socializar com outros povos. Para o bem e para o mal, como país periférico Portugal não faz parte do jogo de fronteiras recorrente na Europa – as nossas são aliás as fronteiras mais estáveis da história Europeia. Em Portugal não se pode dizer que tanto faz partilharmos um estado com tal ou tal povo porque não seria a primeira vez…;

 

- Raramente fez Portugal parte dos grandes tratados e conferências da História da Europa;

 

- Não existe tão pouco afinidade étnica com outros povos Europeus. O nosso único vizinho não compreende a nossa língua e não existem tribos lusófonas perdidas pela Europa fora que justificassem um sentimento de pertença continental;

 

- A nossa mentalidade é também ela muito diferente – como aliás os nossos problemas financeiros o demonstram abundantemente. Podemos ser latinos e católicos mas mantemos ainda laços com países e regiões muito longe da Europa e dos interesses do velho continente;

 

- Os interesses económicos de Portugal diferem também dos do núcleo Europeu. Como país de mão-de-obra barata, corrupção e fraca inovação, Portugal está muito mais dependente de IDE que outros estados com grandes sectores de exportação. Assim, Portugal seria, quando muito, favorável a integração negativa (desregulação) mas nunca a integração positiva (regulação) que fizesse as leis e mercado Portugueses adaptarem-se a regimes de regulação intensiva e derradeiramente para Portugal, desincentivadora de competitividade nacional.

 

 

Perante este cenário, retomo a minha interrogação: Porque é Portugal Europeísta? A minha resposta é que Portugal pode ser Europeu em valores, mas não é nem nunca foi Europeísta. É possível que haja elites em Portugal que o sejam mas fico com a impressão que joga muito mais o instinto mesquinho dos nossos governantes pela caça ao subsídio e o seguidismo ignorante e escravo-do-politicamente-correcto dos nossos media.

 

Sermos não somos ...mas faz-de-conta que sim.

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