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PSICOLARANJA

O lado paranóico da política

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O lado paranóico da política

Quem tramou o Euro?

Ricardo Campelo de Magalhães, 03.01.12

Muito se escreverá sobre quem tramou o Euro entre 2010 e 2012.

Os Americanos, sempre desejosos de manter a sua hegemonia, dirão uns.

Os Chineses, pois são os novos donos do mundo e só eles têm agora esse poder, dirão outros.

Os malvados especuladores, que num dia não muito longínquo vão aproveitar a fraqueza da moeda única e atacá-la consecutivamente, dirão outros ainda.

Os comerciantes egoístas, que na ânsia de lucros cada vez maiores foram aumentando cada vez mais os preços nos últimos tempos, dirão outros por fim.

Mas não.

Quem matou o Euro foi quem fui incumbido de o defender. De lutar por ele. De o proteger de todos os perigos. O seu tutor: o BCE

 

Atente-se nesta notícia.

Texto da notícia:

O BCE anunciou hoje ter comprado 462 milhões de euros de dívida soberana na última semana do ano, mais do que na semana anterior mas, ainda assim, longe dos valores recordes já atingidos.

Na semana anterior ao Natal, a autoridade monetária tinha comprado 19 milhões de euros em dívida, valor que foi agora superado largamente. 
Contudo, os 462 milhões de euros em compras na última semana do ano revelam-se bem inferiores a outras aquisições feitas pelo BCE. Em operações anteriores, as compras chegaram aos 3 ou 5 mil milhões de euros e, no início de Agosto, a autoridade monetária chegou mesmo a desembolsar 22 mil milhões de euros numa única semana.
O total de dívida pública no balanço do Banco Central Europeu (BCE) atinge, assim, os 211,5 mil milhões de euros
A instituição lançou o seu programa extraordinário de compra de dívida em Maio de 2010, para ajudar a baixar as taxas de juro das obrigações dos países periféricos do euro no mercado secundário. Na altura, o francês Jean-Claude Trichet estava à frente da instituição sedeada em Frankfurt. O novo presidente, Mario Draghi, deu continuidade ao programa, que tem gerado várias divisões internas dentro do banco central e já levou mesmo à saída de dois altos responsáveis alemães da instituição.

Se nos estatutos do BCE, este era proibido de comprar dívida estatal, acham que isso era por acaso?

O que acontece se ele viola essa regra e compra dívida estatal... nesta escala? (Têm noção do que são 211 500 000 000€?)

Quando o número de Euros em circulação cresce desta maneira, o que é que acham que acontece ao seu valor/poder de compra?

 

A moeda única exigia disciplina orçamental.

Sem ela, a dívida multiplicou-se.

Com esta multiplicação, o BCE acabou a comprar a dívida.

Com esta compra, o Euro está fraco.

Muitos temem pelo seu futuro. Só espero que a culpa não morra solteira  ou acabe nos ombros de quem não a teve.

Para criar uma nova moeda forte, não basta deixar cair a fraca: é preciso perceber o que a tornou fraca.

 

PS: O Euro ainda não morreu e ainda pode ser salvo. Não sei é se há vontade para isso e sinceramente cada vez vejo mais laxismo de quem deveria dar a carreira para o defender. A continuar assim, em alguns anos...

 

Draghi, o homem que enterrou o Euro 

O fim do Euro?

Ricardo Campelo de Magalhães, 03.11.11

Por estes dias muitos falam do fim do Euro: Economistas, Gestores, Jornalistas, Advogados, Professores, Taxistas e até Sociólogos!

 

Assim, importa fazer várias questões:

 

1. O Euro vai mesmo acabar?

Pouco provável, no curto ou médio prazos (deixemos o longo para outros artigos). Afinal, a Grécia representa menos de 2% da área Euro e Irlanda e Portugal são ainda mais pequenos. Espanha e Itália iam pelo mesmo caminho, mas o BCE comprou tanta dívida destes que eles agora até podem oferecer mais ajuda à Grécia. O Euro não vai acabar por 2% da área estarem em dificuldade.

E se acabasse, isso não era motivo para acabar a UE ou acabar a paz que esta trouxe. Por favor pequeno Napoleão...

 

2. A Grécia vai ser expulsa?

Talvez. Mesmo que não seja nestes dias, o problema existe e é sério: a Grécia andou a "estimular" a economia dando dinheiro a improdutivos e a sectores sem valor para exportação (casas, transportes internos, fundações diversas, ...) e portanto agora a Economia nem produz o necessário para manter o nível de vida, nem para exportar para pagar a dívida. Vai doer e aqueles mimalhos não passam sem as suas regalias. Se o país como um todo não aceitar apertar o cinto, o dinheiro vai faltar e os parceiros Europeus podem-se cansar de bancar reformas de luxo e todas as demais regalias gregas.

Mas claro que se for expulsa do Euro não tem de ser expulsa da UE.

 

3. Se for expulsa do Euro, qual o custo para os Gregos?

O habitual nestas situações: convulsões sociais, cortes cegos na despesa do Estado, regresso à moeda nacional, corrida aos bancos para levantar depósitos em Euros (onde só estão 6% dos depósitos), colapso do sistema financeiro, encerramento das empresas que dependam demasiado de financiamento, desemprego à Espanhola, contração forte da Economia (para níveis dos anos 90!), inflação galopante, perda de valor das poupanças de quem as tenha em moeda nacional, ...

 

4. Se for expulsa, qual o custo para as outras Economias?

Muitos bancos mundiais têm activos gregos, sejam acções, sejam obrigações. Além disso os Gregos consomem muitos bens importados.

Assim, uma onda de choque iria certamente percorrer a Europa e o resto do mundo.

Portugal, numa situação já difícil, iria sofrer de várias formas:

- Restantes países ponderariam 2x ter dívida Portuguesa: "se aqueles não aguentaram, estes...", elevando o custo do endividamento

- Bancos portugueses teriam de levar a custos os activos Gregos que deteem (particularmente grave no caso do BCP) e teriam mais dificuldade em financiar a economia, para além de possivelmente aumentarem taxas e comissões aos seus clientes

- Exportações Portugesas para a Grácia e para economias muito ligadas à Grega (ex: França), poderiam ser afectadas

Estas repercussões não seriam muito significativas... se Portugal estivesse bem e respirasse saúde. Na situação actual...

 

5. Com todos estes custos, as outras economias não perdiam menos em ajudar os Gregos?

Eles é que estão a recusar a ajuda.

Os países Europeus disseram: "nós vamos ajudando se vocês se forem ajustando, para que daqui a uns anos só gastem o que teem (ou então a Europa andaria a trabalhar para lhes permitir andar na boa vida!).

E eles aparentemente preferem ficar sem dinheiro nenhum para pagar salários e pensões em vez de fazer esta aterragem que, apesar de não ser suave, seria bem mais controlada.

 

6. Isto não é jogo do 1ºM deles?

Talvez.

Farto da contestação nas ruas, ele assim obriga a oposição e os manifestantes a escolherem: ou a "austeridade" ou o "colapso".

Mas lembra um 1ºM que, cansado de apresentar austeridades, resolveu convocar eleições antecipadas e, se a memória não me falha, este 1ºM não se deu muito bem e dizem que agora foi filosofar para longe.

Fica muito bem chamar o povo às urnas, mas é um risco elevado da parte dele. E nada lhe garante o resultado numa situação tão volátil como a actal.

 

7. Por fim: O Ricardo sendo Liberal não deveria festejar o fim do Euro?

Não. No Longo Prazo, eu prefiro uma política monetária ditada por Frankfurt do que por Lisboa (sabendo eu que as hipóteses de se adoptar o padrão-ouro são politicamente nulas).

No Curto Prazo, os "custos de ajustamento" à nova situação (sabem, o disparar dos juros, o colapso do crédito e do sector bancário, o disparar do desemprego e a queda na produção nacional por uns bons anos) são altos e, na presente situação, seriam catastróficos.

Devíamos ter ido para o Padrão-Ouro, mas agora que nos apanhamos nesta... O "Path-dependancy" é tramado.

 

O que pode o leitor fazer para travar a queda do Euro?

Poupar mais, para se fazer uma travagem suave com ABS, em vez de ter de se usar o sistema SBA (sistema betão armado) que representaria um fim do crédito repentino.

Usar pouco crédito e sobretudo abster-se de o usar para compras de impulso.

Votar em políticos corajosos que cortem na despesa pública.

E como, diria Hayek, mostrando às pessoas o quão pouco elas sabem sobre os grandes planos que elas imaginam que conseguem desenhar.

 

PS: Se gostam do tema, podem ir à página do "The Economist" e votar em:

Deve a Grécia sair da Zona Euro e regressar ao Dracma?

Portugal e a Europa ou a Europa e Portugal?...

Miguel Nunes Silva, 14.11.10

Hoje, o eurodeputado Britânico Daniel Hannan escreve no seu blogue sobre a Irlanda.

 

Ele tira duas importantíssimas conclusões:

 

 

1 - A predominante opinião de que a Irlanda deve o seu milagre económico à UE está errada. A Irlanda desenvolveu-se sobretudo devido aos seus laços com o RU e os EUA e ao facto de falar inglês, o que ajudou imenso ao inserir a Irlanda como uma plataforma de sector terciário conectada aos seus companheiros anglófonos dos dois lados do Atlântico; isto tanto mais enfatizado pelo facto de que a maior parte dos fundos comunitários para a Irlanda vinha da PAC e era destinado à agricultura - sector em declínio e hoje marginal, também naquela república marítima periférica.

 

2 - A segunda conclusão que Hannan retira é que a Irlanda sai penalizada por pertencer à zona €uro. A Irlanda desenvolve a maior parte do seu comércio com países que não utilizam esta moeda e o custo de manter uma moeda que não pode ser desvalorizada é ver os fluxos comerciais afluírem ao semi-fraterno mas pobre enclave monárquico da ilha bem como à Grã-Bretanha.

 

Estruturalmente, a Irlanda difere substancialmente da Europa e vale a pena reflectir sobre qual seria hoje a orientação de voto dos Irlandeses num referendo...

 

Que lições tem Portugal a tirar? Nós estamos muito mais ligados à UE é claro e o nosso sector financeiro até conseguiu resistir à crise. No entanto, eu lembro que os mercados aonde as nossas empresas se refugiaram da crise foram o Angolano e o Brasileiro. É Timor que nos poderá comprar títulos da dívida, e a maioria dos votos que nos elegeram para o Conselho de Segurança da ONU vieram do terceiro mundo e não da Europa - aonde o nosso principal parceiro comercial Alemanha, não teve grandes pruridos em açambarcar os votos do bloco ocidental às nossas custas.

Em relação ao aspecto estrutural, Portugal é a quintessência do problema que levou à criação dos fundos de coesão. Se a Irlanda anda a contra ciclo, que dizer de nós?...

Euro: Sangue frio e Credibilidade

Guilherme Diaz-Bérrio, 25.09.09

 No dia 9 de Agosto de 2007, os mercados pararam. Lembro-me desse dia especialmente bem pois, além de ser o meu aniversário, foi o dia em que recebi de "prenda de anos" ir trabalhar para um Hedge Fund. 

 

Imaginem o meu começo: primeiro dia no trabalho e aniversário, e quando entro, os mercados estão em "Arritmia cardíaca"! Ninguém sabia o que se estava a passar!

 

O mercado interbancário de Londres e Frankfurt estava parado. Nenhum banco emprestava dinheiro a outro banco na zona euro. Como consequência, a Euribor estava a caminho da Lua! Normalmente este é o dia que se associa com o "começo oficial" da actual crise, o dia em que os problemas se tornaram demasiado evidentes.

 

Foi também o dia em que um homem liderou um Banco Central de uma forma eximia. O mercado parado, todos os bancos em pânico, os investidores a pensar "Os EUA ainda estão fechados, a Reserva Federal o que fará?", e o Banco Central Europeu decide tomar a iniciativa e não esperar! Em poucas horas apagaram o fogo e acalmaram os mercados. Pela primeira vez, a Reserva Federal seguiria outro Banco Central nas suas medidas. Enquanto Bernanke e a Fed estava a garantir ao Congresso que o "problema estava contido", Trichet e o BCE estavam com calma, a fazer a ponte entre bancos, para garantir o bom funcionamento do mercado, sem descer as taxas de juro a zero.

 

Nunca houve uma diferença tão clara de respostas dos dois lados do Atlântico em relação à resposta a uma crise. Nunca o Banco Central Europeu sofreu tantas pressões para seguir a Reserva Federal. Mas Trichet revelou-se o único banqueiro central a manter o sangue frio no meio da crise. Enquanto a Reserva Federal ligava as impressoras, o BCE mantinha um equilibrio delicado entre o seu mandato contra a inflação e a estabilidade do sistema financeiro.

 

Muito se passou: falou-se do fim do Euro, da saída de países, de como Trichet ia "implodir com a Europa" com a sua "teimosia", de como deviamos seguir os americanos na sua política, de que era preciso as famosas "Eurobonds"!

 

Dois anos depois, ainda não saimos da crise. Mas as diferenças de sustentabilidade e credibilidade dos dois lados do Atlântico começam a ser claras. O Japão e a China hoje falam em passar parte das reservas de Dólares para Euros, os bancos europeus estão de muito melhor saúde que os americanos (honrosa excepção para os Espanhois, o "buraco negro" financeiro da Europa!) e a contracção de crédito parou na Zona Euro, segundo os últimos dados.

 

Já vi, nos meus dias de fundo de investimento, quando Trichet e Bernanke falam no mesmo dia, os "mercados" seguem o primeiro e ignoram o segundo. Hoje, já não se fala de fim do euro. O Euro sobreviveu à sua maior crise, e a uma das maiores crises financeiras das últimas décadas. Agradeçam, em primeiro lugar, ao BCE e ao seu "irritante" Governador, Jean Claude Trichet!